86 Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 83-96, Edição Especial 2, 2022.
SILVA, A. C.; EVANGELISTA, A. P.; PADOVANI, L. Z.
aproximadamente, 27 docentes efetivos, além dos substitutos, e 162 estudantes,
matriculados no primeiro semestre de 2020 (UFAC, 2020).
Sua estrutura curricular compreende 53 disciplinas, divididas em 8
períodos e em duas dimensões de conhecimento, a saber: Formação Ampliada
e Formação Especíca (UFAC, 2005). Além dessa conguração de ensino,
compõem o currículo do curso de formação em Educação Física as ações de
pesquisa, extensão, entre outras.
Diante das especicidades apontadas no PPC do curso LEF (UFAC,
2005), concernentes à dimensão do ensino, serão elencados os elementos
relacionados ao contexto investigativo - cultura corporal, experiências e violência
de gênero. Eles fazem parte de manifestações culturais, denidas por Even-Zohar
(2018) como a reunião de conhecimentos dos sistemas culturais de indivíduos
e grupos, essenciais para a organização social. Ancorados nessa perspectiva,
pretendemos analisar também os registros discursivos sobre as práticas de violência
de gênero.
A cultura corporal compreende a origem da ginástica e, em
consequência, as expressões corporais da Educação Física no Brasil. Inicialmente,
esse aspecto foi desenvolvido, em nosso trabalho, percorrendo a teoria crítica, pela
abordagem crítico-superadora da Educação Física, na qual busca-se proporcionar
uma reexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo,
produzidas pelo homem no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão
corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo,
contorcionismo, mímica e outros (SOARES, 1994, SOARES et al., 2012). Estes
podem ser identicados como formas de representação simbólica de realidades
vividas pelos seres humanos, historicamente e culturalmente desenvolvidas.
Outros estudos e inuências críticas passam a articular os elementos da
cultura corporal, para além do marcador de classe social, demarcado na perspectiva
superadora, como a perspectiva do currículo cultural, com um olhar voltado para
a visibilidade das diferenças (NEIRA, 2019; NEIRA, NUNES, 2016), somado à
perspectiva intercultural, a qual reconhece as diferenças (GRANDO et al., 2018).
Nesse ínterim, tornou-se imprescindível priorizarmos as relações implicadas
nas diferenças e, por conseguinte, na violência de gênero, ao longo da história,
visto que estão interligadas na atribuição da formação cultural de ser professor e
professora em EF da Ufac.
Miskolci registra que “Na perspectiva da diferença, estamos todos(as)
implicados(as) na criação desse Outro, e quanto mais nos relacionamos com
ele, o reconhecemos como parte de nós mesmos, não apenas o toleramos, mas
dialogamos com ele sabendo que essa relação nos transformará” (MISKOLCI,
2021, p. 16). A ideia de diferença imbrica-se na noção de que o outro não é
tratado de forma estigmatizada, mas é apresentado positivamente na constituição
das identidades, sendo sua emergência profícua no acontecimento de um