Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.8, p. 29-38, Edição Especial 2, 2022. 31
Descolonizando o olhar Artigos/Articles
Barriendos (2019), a “colonialidade do ver” estabelece um “contraponto tático”
entre os outros três níveis da colonialidade,
... o epistemológico (saber), o ontológico (ser) e o corpocrático (ou corpo-
político como dene Ramón Grosfoguel). Esse contraponto abriria, a partir
do ponto de vista deste quadrívio decolonial, um novo campo de análise das
maquinarias visuais de racialização que acompanharam o desenvolvimento do
capitalismo moderno/colonial. (BARRIENDOS, 2019, p. 41)
A ideia é dar visibilidade à sociedades marginalizadas e à outros corpos,
gêneros e sexualidades que não os padrões concretizados pela “colonialidade
do ver”, conceito que designa o entrelaçamento complexo entre os saberes
eurocêntricos e a reorganização do olhar inaugurada com a conquista da América,
que, quando conjugados, produziram uma epistemologia que apagou a cultura
local e permitiu a universalização do olhar do colonizador. Para León (2012, p.
116), nesse processo, a visualidade tem profunda imbricação com as hierarquias,
“não apenas geográcas, espirituais, étnicas e linguísticas, mas também raciais, de
classe, de gênero e sexual”
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.
A “colonialidade do ver” é um dispositivo histórico que, em primeiro
lugar, intervém e condiciona a percepção e, logo depois, a consciência, priorizando
certos aspectos em detrimento de outros. Assim, o olhar colonial se articula ao
redor de diferenças visuais como a pigmentação da pele, os órgãos sexuais, etc.,
para classicar e hierarquizar a vida social, como aponta Schlenker (in RUGERI
e outros, 2019, p. 31):
Esse olhar foi treinado para buscar isso, para marcá-lo, e a partir dessa
identicação classicá-lo ao longo de uma escala social. [...] O olhar colonial
projetava e projeta o mesmo sujeito colonizador a partir da profundidade de
seus maiores temores sobre a diferença, aquilo que o angustia e o assombra,
aquilo que quer controlar para prover a si mesmo da sensação de superioridade
sobre os outros e o mundo.
Decolonizar as imagens, portanto, propõe repudiar as lógicas implícitas
no olhar que aprendemos a assimilar do ponto de vista colonial. Isso inclui a
representação dos corpos, do gênero e das sexualidades a partir da desconstrução
dos padrões estéticos estabelecidos pela colonialidade.
Relações sociais pedem equidade, por isso, minha preocupação em
examinar se as imagens dos coletivos universitários expõem essa equivalência. A
dinâmica da representação do Outro, da diferença, ultrapassa a simples criação
de uma peça visual e se transforma em uma atitude de questionamento, ou, ao
contrário, de (re) armação da lógica colonial. Para Schlenker (2017, p. 392), as
Tradução própria de: “... no sólo geográcas, espirituales, étnicas, lingüísticas, sino también raciales, de clase,
de género y sexuales”.