A maternidade aparece como um fator muito importante na vida das mulheres,
mas elas não querem criar seus filhos sozinhas, e a pesquisa mostra que 70%
das mulheres responderam positivamente à importância das políticas públicas
e da participação na vida pública.
Entende-se que a partir disso, com base em Soares (2004), o Estado
deve fornecer equipamentos públicos que fomentem a inserção da mulher no
mercado de trabalho, como a oferta de vagas em escolas integrais para seus filhos,
e que isso possibilita a articulação entre a vida pública e privada. Farah (2002,
2004), aponta que as mudanças no Estado brasileiro que desde então vêm se
processando tiveram como referência uma agenda de reforma, construída com a
participação de diversos atores a partir dos anos 70.
Assim sendo, Farah (2004), lembra que participaram da constituição
dessa agenda diversos movimentos sociais e políticos
6
, e partindo de novas
formas de articulação com a sociedade civil, lutavam pela democratização e por
reivindicações ligadas à serviços públicos e à melhoria da qualidade de vida,
especialmente nos centros urbanos. Segundo Farah (2004, não paginado), “[...] a
constituição das mulheres como sujeito político deu-se inicialmente por meio de
sua mobilização em torno da democratização do regime e de questões que atingiam
os trabalhadores urbanos pobres em seu conjunto [...]. Nessa discriminação de
temas ligados à mulher, convergiu-se com o movimento feminista
7
.
Sob impacto desses movimentos, na década de 80 foram implantadas
as primeiras políticas públicas com recorte de gênero.
8
Além disso, a Constituição
Federal (CF) de 1988 também se transforma com a mobilização de mulheres
9
. Várias
propostas dos movimentos incluindo temas relativos a saúde, família, trabalho,
violência, discriminação, cultura e propriedade da terra - foram incorporadas à CF.
Em relação às políticas públicas, as pressões dos movimentos se dirigiram a
diferentes níveis de governo, dependendo da distribuição de competências
em cada campo de política pública. Assim, por exemplo, as reivindicações na
área de combate à violência contra a mulher se dirigiram prioritariamente aos
níveis estadual e municipal. As questões relativas à saúde, por sua vez, foram
6
A história desses movimentos é também a da constituição das mulheres como sujeito coletivo, em que estas
deixam a esfera privada e passam a atuar no espaço público, tornando públicos temas até então confinados à
esfera privada.
7
Uma das desigualdades a serem superadas por um regime democrático. segundo Farah (2002, 2004), “O
feminismo, diferentemente
dos ‘movimentos
sociais com
participação
de
mulheres’,
tinha
como objetivo
central
a
transformação da situação da mulher na sociedade, de forma a superar a desigualdade presente nas relações
entre
homens e mulheres.”
8
Farah cita a criação do primeiro Conselho Estadual da Condição Feminina, em 1983, e do Programa de
Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), no mesmo ano. Já em 1985, houve a fundação da primeira
Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (primeiro no Estado de São Paulo, depois disseminaram por todo o
país e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, órgão do Ministério da Justiça.
9
Organizadas em torno da bandeira “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”, propostas foram estru-
turadas para a nova Constituição, apresentadas ao Congresso Constituinte sob o título Carta das Mulheres Brasileiras