Akotirene (2019) enfatiza que Kimberlé Crenshaw, mulher, negra,
estadunidense, ressaltou a “diferença dentro da diferença” e criou o conceito de
teoria crítica de raça:
Considere a analogia ao tráfego num cruzamento, indo e vindo nas quatro
direções. A discriminação, como o tráfego no cruzamento, pode fluir numa
ou noutra direção. Se um acidente acontece no cruzamento, sua causa pode
ser os carros viajando de quaisquer direções e, as vezes, de todas elas. De modo
similar, se uma mulher negra sofre injúrias por estar numa intersecção, elas
podem resultar da discriminação sexual ou racial […] Mas nem sempre é fácil
reconstruir um acidente: às vezes as marcas de derrapagem e as lesões indicam
simplesmente que elas ocorreram simultaneamente, frustrando os esforços em
determinar qual o motorista responsável (CRENSHAW, 1989, p. 149).
Sendo assim, a interseccionalidade demonstra as variantes que
englobam as diferenças das relações de gêneros, raça/etnia, classe, geração etc,
e, nos possibilita tangenciar o diálogo com a perspectiva teórica descolonial
feminista
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, já que a conjuntura neoliberal, o sistema capitalista existente e o
patriarcado reproduzido no Brasil em âmbito Norte-Sul, compreendido nestas
linhas como um marcador colonial conforme Hollanda (2020), prejudicou
mulheres no que concerne ao âmbito Educacional, com tentativas minimizantes da
presença histórica e representatividade de mulheres brasileiras na Educação e nas
lutas pelos direitos das mulheres, como, por exemplo as demarcações teóricasdas
“ondas feministas”, as quais, apesar das características do ir e vir de ondas com
relação às lutas das mulheres, não frisou lutas anteriores às de mulheres
brancas e de elite, por exemplo mulheres negras e indígenas são resistência desde
o início da colonização portuguesa no Brasil em consonância com Gonzalez
(1988). Quijano (2006) também compreende gênero como sendo uma das
formas coloniais de opressão: “[...] as relações intersubjetivas e culturais entre a
Europa [...] e o restante do mundo foram codificadas num jogo inteiro de novas
categorias: Oriente-Ocidente, primitivo-civilizado, mágico/mítico-científico,
irracional-racional,tradicional-moderno. [...]” (QUIJANO, p.122, 2006).
Tais sistemas opressores mencionados são naturalizantes de opressões
cotidianas, sendo a Escola brasileira uma instituição que reproduz referidas
naturalizações abrangendo gênero, raça e classe, conforme Louro (2014), dada
a maior presença de mulheres nos anos iniciais da Educação Básica, aliadas às
atividades socioculturalmente construídas como femininas no âmbito afetivo e
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Os termos descolonial ou descolonialidade são preferidos por autoras latino-americanas como Rita Laura Se-
gato (2011), María Lugones (2004), Yuderkis Espinosa Miñoso (2014), Ochy Curiel, entre outras, que partem do
questionamento das ideias de centro e periferia ou de norte e sul direcionando o olhar para a complexidade do
mundo, a diversidade cultural, simbólica, linguística e política das reações anticoloniais que questionam velhos
modelos imperialistas. Nesse sentido, marcamos o nosso posicionamento pela adoção da terminologia
“descolonial” e “descolonialidade” justamente para assinalar o caminho de luta contínua pela identificação e
visibilização das mulheres, em particular das latino-americanas e negras que ocupam “lugares” de exterioridade
e vêm tensionando construções alternativas. (NOTHAFT, et. al., 2019, p. 152).