o produz e o move, quando não o comove. Parece nascer de uma relação como
essa um pensar imanente da diferença, de uma ontologia, provocado por um
outro que se apresenta como uma alternativa a ser incluído, porque convoca
não a eficiência, mas a deficiência, que, por sua vez, se constitui no móvel
[...] uma linha para fazer aproximações, fomentam um eixo de pertencimento
que fossiliza os sujeitos, quando, na verdade, deveriam buscar a ampliação das
relações e processo de subjetivação, num devir do sujeito ético, de sua (trans)
formação como tal e de seu posicionar-se no mundo. (PAGNI, 2015, p. 96).
Essa racionalidade econômica se planifica quase que numa encruzilhada,
onde esses feixes disciplinares atravessam a vida da pessoa com deficiência,
cooptando-a, como se ela não desejasse, e, ainda assim e concomitantemente,
acontece uma “negociação”, uma espécie de “pacto”, que o sujeito troca e aceita
para ser incluído de um lado, e de outro estabelece-se essa racionalidade gerencial,
não macro político, mas micro político, sobretudo por intermédio, na forma de
dispositivos.
A deficiência tem na sua essência o acontecimento, e é pelo prisma
acontecimental que pode ser pensada a deficiência como diferença, relacionando-
se à sua performatividade e expressão:
O que se deve entender por “acontecimentalização”? Uma ruptura
absolutamente evidente em primeiro lugar. Ali onde se estaria bastante tentado
a se referir a uma constante histórica, ou a um traço antropológico imediato,
ou ainda a uma evidência se impondo da mesma maneira para todos, trata-
se de fazer surgir uma “singularidade”. Mostrar que não era “tão necessário
assim”; não era tão evidente que os loucos fossem reconhecidos como doentes
mentais; não era tão evidente que a única coisa a fazer com um delinqüente
fosse interná-lo; não era tão evidente que as causas da doença devessem ser
buscadas no exame individual do corpo etc. Ruptura das evidências, essas
evidências sobre as quais se apóiam nosso saber. nossos consentimentos,
nossas práticas. Tal é a primeira função teórico-política do que chamaria de
“acontecimentalização”. (FOUCAULT, 2012b, p. 339).
Pagni (2015, p. 98) faz ilações sobre as relações da pessoa com deficiência
com o outro, contextualizando a provocação de sentidos e impressões:
Esses encontros fortuitos, por vezes, e persistentes, por outras, possibilitaram,
mais do que sinais, um fortalecimento inicial para enfrentar o seu acidente
ocorrido na juventude, fazendo dele e das condições resultantes para si um
acontecimento a ser acolhido, graças a esse preparo para o impreparável e a uma
formação sem fim, propiciada por um outro com o qual aprendia cotidianamente
e enfrentava suas limitações existenciais para, nessa mesma existência, firmar-
se, pensar-se, exprimir-se. Essa relação com outro, que compreende não apenas
outras pessoas ou outrem, como também outras coisas, livros, etc. ou, mesmo,
um outro de si mesmo, suscitado em tal relacionamento, que parece válido
para aquele que, antes de ter um acidente qualquer, havia vivido sem encarná-