Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
55
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
A
VALIAÇÃO DOS ÍNDICES DE EVASÃO E PERMANCIA
:
UM ESTUDO DE
CASO NO CURSO TÉCNICO EM AQUICULTURA
Antonio Glaydson Lima MOREIRA
Renato Teixeira MOREIRA
Resumo: A evasão de alunos é um fenômeno que tem merecido a atenção de pesquisadores e
gestores da educação, sendo constantemente noticiadas informações sobre o número de alunos
concludentes cada vez menor. O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar os índices de
evasão e permanência do curso cnico em aquicultura, campus Morada Nova (CE), antes e após
a mudança da modalidade de ensino de concomitante para o subsequente. Os discentes foram
separados em dois grupos: alunos que entraram no curso na modalidade concomitante (período
de 2012.1 2015.2) versus alunos que entraram no curso na modalidade subsequente (período de
2017.1 atual). Durante a oferta do curso na modalidade concomitante, 122 alunos dos 199 que
se matricularam abandonaram o curso. Após a mudança para a modalidade subsequente, houve
um abandono de 52 discentes de um total de 114 matrículas realizadas. Por ter uma abordagem
exploratória, nossos resultados mostraram uma evasão de 61,30% durante a oferta do curso na
modalidade concomitante, enquanto após a mudança para o subsequente esta taxa caiu para
45,61%.
Porém é apenas o início para compreender quais são os agentes causais deste fenômeno.
A partir desse estudo conseguiu-se traçar um diagnóstico da situação institucional em termos de
indicadores de evasão e traçar estratégias de como lidar com as questões postas.
Palavras chave
: Educação; Ensino; Evasão; Índices
Abstract: The students’ dropout is a phenomenon that has deserved the attention of researchers
and education managers, being constantly reported information about the number of students
concluders increasingly lower. The a im of t his study w as to evaluate a nd compare the rates of
dropout and permanence of the technical course in aquaculture, Morada Nova campus (CE),
before and after the change of teaching modality from concomitant to subsequent. The students
were separated into two groups: students who entered the course in concomitant modality (period
of 2012.1 - 2015.2) versus students who entered the course in the subsequent modality (period
of 2017.1 - current). During the offer of the course in concomitant modality, 122 students of the
199 that enrolled abandoned the course. After the change to the subsequent modality, there was
an abandonment of 52 students from a total of 114 enrolments made. For having an exploratory
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2021.v7.n1.p55-66
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
56
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
approach, our results showed an evasion rate of 61.30% during the offer of the course in concomitant
modality, while after the change to the subsequent modality this rate fell to 45.61%. However, it is
only the beginning to understand which are the causal agents of this phenomenon. From this study it
was possible to draw a diagnosis of the institutional situation in terms of dropout indicators and
outline strategies for dealing with the issues posed.
Keywords:
Education; Teaching; Evasion; Indexes
1
I
NTRODUÇÃO
A evasão de alunos é um fenômeno que tem merecido a atenção de
pesquisadores e gestores da educação se tornando um obstáculo de incidência
histórica, sendo constantemente noticiadas nos veículos de comunicação sobre
o número de alunos concludentes cada vez menor que o número de discentes
matriculados no início do curso. De acordo com Davok e Bernard (2016), a
identificação das possíveis causas da evasão, bem como a gestão de informações
sobre esse panorama é imprescindível para a formulação de políticas de
permanência e o planejamento institucional.
No âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará, uma ferramenta primordial para nortear ações em prol da estabilidade
do aluno na instituição é o Plano Estratégico para Permanência e Êxito PPE
(2017), que visa alcançar alguns objetivos, tais como:
Compreender a contenção da evasão escolar como uma política institucional
necessária à melhoria da qualidade educativa;
Mapear as causas e motivos que levaram os alunos a se evadirem e propor ações
de redução da taxa de evasão;
Incentivar a reitoria e os campi quanto ao desenvolvimento de propostas
educacionais inclusivas;
Controlar, acompanhar e conter a evasão estudantil e;
Sugerir intervenções que possam atenuar essas situações ou até resolvê-las.
Para identificar a existência da permanência prolongada no curso ou da
evasão, devem ser analisados os índices de egressos versus ingressos. Compreender
a taxa de evasão implica conhecer e compreender os processos de mudanças pelos
quais os estudantes passam durante seu período de formação (SCALI, 2009).
A autora afirma, ainda, que as pesquisas acerca da evasão no ensino superior
constituem uma base importante para os processos de avaliação institucional.
Diante do exposto, o interesse pelo tema foi despertado pela percepção
dos docentes e gestores após reuniões de planejamento. Observou-se que o ensino
técnico na modalidade concomitante apresentava elevado índice de evasão,
fazendo com que todos se questionassem sobre os motivos que levam o aluno a
Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
57
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
abandonar o curso. Deste modo, após seguidas reuniões pautadas na discussão e
debate desta problemática, surgiu como alternativa mudança para a modalidade
subsequente, o que poderia trazer melhores resultados. Desta forma, o objetivo
deste trabalho foi avaliar e comparar os índices de evasão e permanência do curso
técnico em Aquicultura, campus Morada Nova (CE), antes e após a mudança de
modalidade de ensino concomitante para o subsequente.
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
IFCE tem se tornado uma referência para o desenvolvimento regional, formando
profissionais de reconhecida qualidade para o setor produtivo e de serviços,
promovendo assim, o crescimento socioeconômico da região (CEARÁ, 2012).
Na
atual conjuntura, o Campus Morada Nova (CE) oferta o Curso Técnico em
Aquicultura disponibilizando 40 vagas anualmente. O Projeto Pedagógico está
passando por atualização no que diz respeito a sua estrutura curricular, e o
curso Técnico em Aquicultura trocou de modalidade de concomitante para
subsequente.
A instituição compreende a importância do curso para a comunidade
local e investe na qualificação e requalificação de mão de obra voltada para essa área
profissional, valorizando a vocação regional e elevando a qualidade dos serviços
nessa área da atividade econômica. Neste sentido, pretende formar profissionais
de nível técnico na área de aquicultura, capazes de desempenhar - com segurança,
qualidade e sustentabilidade econômica, ambiental e social - atividades nas áreas
de extração e cultivo de organismos que tenham como principal habitat, a água
(SIQUEIRA, 2017).
A despeito do ineditismo do curso de Aquicultura e de suas
potencialidades de mercado de trabalho que a região oferece, um elevado índice de
evasão foi diagnosticado desde a primeira turma. A evasão no Ensino Técnico é um
processo social que demanda ões complexas de prevenção e acompanhamento e
identificam a necessidade de políticas públicas que favoreçam a permanência na
escola (DORE e LÜCHER, 2011a).
De acordo com Dore e L
ü
cher (2011b), existe escassez de informações
teóricas e empíricas acerca da evasão de alunos em seus diversos níveis e
modalidades, que abrange desde a educação básica até a superior. No que
concerne a mesma ideia, segundo as autoras, evasão, abandono, desligamento,
cancelamento são compreendidos como sinônimos, no entanto diferenças
sobre seus significados, isso remete a uma problemática de padronização e
procedimentos de políticas públicas.
As diferentes compreensões sobre evasão podem auxiliar no
entendimento de ações institucionais e governamentais, a fim de contribuir
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
58
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
efetivamente para a diminuição da saída do estudante antes da conclusão do curso
(FEITOSA, 2016). Logo, a evasão pode ter como origem causas internas à unidade
escolar, como: desinteresse, desconhecimento dos cursos, defasagem educacional
do Ensino Fundamental e/ou Médio com relação aos pré-requisitos, fracasso
escolar, currículo inadequado, professor com metodologias conservadoras, acesso
ao curso superior, entre alguns dos fatores determinantes.
Além disso, o professor também possui papel relevante na manutenção
do aluno durante o curso. Caso o docente não respeite as especificidades de cada
curso, pode propiciar a frustração ao aluno em relação ao curso e levar ao abandono
ou evasão. Para reverter esta situação, uma boa gestão da equipe pedagógica e dos
coordenadores de curso pode identificar precocemente este problema, intervir,
orientando docentes e alunos, e evitar a perda no processo e melhorar a qualidade
da educação (YOKOTA, 2015).
Por outro lado, pode-se medir a evasão escolar através do contingente
de alunos que tendo iniciado seus estudos em um curso específico, em um sistema
de ensino ou Instituições de Ensino Superior (IES), não teve êxito em obter
o certificado ao fim de um número de anos estipulado. Com isso, o desafio é
possibilitar a permanência e o sucesso do discente no banco escolar e consiga
dominar o conhecimento de forma crítica, expressando suas ideias, tornando-
se um cidadão que enfrente os desafios da sociedade em que vive participando
ativamente da democracia e contribuindo culturalmente, politicamente e
socialmente sendo um agente transformador no contexto em que está inserido
(MARIANO, 2012).
A preocupação com a evasão escolar era demonstrada em uma das
afirmações de Paulo Freire (2003), a qual chamava de “expulsão da escola”,
refletindo sobre o papel da sociedade e da ideologia dominante:
A luta hoje tão atual contra os alarmantes índices de reprovação que gera a
expulsão de escandaloso mero de crianças de nossas escolas, fenômeno
que a ingenuidade ou a malícia de muitos educadores e educadoras chama
de evasão escolar, dentro do capítulo do não menos ingênuo ou malicioso
conceito de fracasso escolar. No fundo, esses conceitos todos são expressões da
ideologia dominante que leva a instâncias de poder, antes mesmo de certificar-
se das verdadeiras causas do chamado “fracasso escolar”, a imputar a culpa aos
educandos. Eles é que são responsáveis por sua deficiência de aprendizagem. O
sistema, nunca. É sempre assim, os pobres e miseráveis são os culpados por seu
estado precário. São preguiçosos, incapazes. (FREIRE, 2003, p. 125)
Assim, nas sociedades capitalistas, a educação tem estado a serviço
da manutenção dos privilégios de classe. A ideologia liberal, que sustentação
ao sistema capitalista, coloca a questão em termos de diferenças individuais,
atribuindo ao próprio indivíduo o seu sucesso ou fracasso social e escolar,
omitindo os condicionantes de ordem social, histórica, política e econômica
Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
59
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
que levam algumas pessoas ao sucesso e outras à marginalização ou exclusão do
sistema como um todo, legitimando a sociedade de classes.
3
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Ceará, Campus Morada Nova (CE), no curso técnico em
Aquicultura. Neste trabalho, os discentes foram separados e comparados em dois
grupos: alunos que frequentaram o curso técnico em aquicultura na modalidade
concomitante (período de 2012.1 2015.2) versus alunos que estudam no curso
técnico em aquicultura na modalidade subsequente (período de 2017.1 atual).
O objeto de estudo foi o índice de evasão, é importante esclarecer o
termo evadido nesta pesquisa. Conforme o Plano de Permanência e Êxito do
IFCE, a evasão é compreendida como a saída do aluno de forma definitiva do
curso em que ele foi matriculado sem tê-lo concluído. Nesta condição, o discente
pode ter sido egresso por abandono, cancelado compulsoriamente ou cancelado
voluntariamente.
Para realizar o levantamento das informações foram utilizados dados
oficiais da instituição de ensino publicitados pela Pró-reitoria de ensino (Proen/
IFCE) na plataforma IFCE em números (Figura 1).
Figura 1 Layout da plataforma IFCE em números
Fonte: página do IFCE em números
1
Esta plataforma torna transparente as atividades de ensino realizada
pela instituição. Os dados do sistema acadêmico da instituição são mantidos
pelas coordenações de registros acadêmicos presentes em cada um dos campi do
1 Disponível em: <https://ifceemnumeros.ifce.edu.br/>. Acesso em: 07 fevereiro. 2021.
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
60
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
IFCE. Este trabalho possui uma abordagem qualiquantitativa e comparativa,
sendo utilizada a estatística descritiva dos dados para tal. Trata-se de uma visão
exploratória dos dados, visando avaliar e comparar o fenômeno da evasão no
curso nas duas modalidades ofertadas.
Os dados foram analisados pelo software Excel 2013. Os resultados da
pesquisa estão apresentados na forma de tabelas e gráficos.
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O IFCE oferece cursos gratuitos, pois se trata de uma instituição federal
pública de ensino, que oferta de cursos técnicos, superiores e de pós-graduação,
nas modalidades presencial e a distância. O campus Morada Nova iniciou suas
atividades oferecendo dois cursos técnicos: aquicultura e edificações, ambos na
modalidade concomitante que, posteriormente, sofreram mudanças passando a
atuar na modalidade subsequente. O curso concomitante destina-se a estudantes
que estejam cursando o ensino médio em escola estadual e que no contraturno
possa cursar o ensino técnico no Instituto Federal. Este estudante só receberá
o diploma de técnico mediante a apresentação do certificado de conclusão do
ensino médio. Enquanto isso, o curso subsequente é destinado ao aluno que
já tenha concluído o ensino médio, neste caso é necessário que os candidatos
aprovados nos exames de seleção do IFCE tenham esse perfil no ato da matrícula
nos cursos.
De acordo com a Tabela 1, o curso técnico em aquicultura do campus
Morada Nova iniciou em 2012.2 com o ingresso de 40 alunos, tendo formado
24 profissionais técnicos desta primeira turma. Com isso, nos dois semestres
seguintes, 2012.2 e 2013.1, foi observada uma diminuição no número de
formados, alcançando 19 e 9 técnicos, respectivamente. Após conclusão da
primeira turma, a observação de uma tendência descendente no número de
ingressos, além de um pico de evasão de 26 alunos no semestre que iniciou em
2013.2, reuniões sistemáticas foram realizadas afim de discutir esta situação e
promover mudanças no intuito de alavancar o curso na região.
Segundo Pelissari (2012), dificuldades provenientes em etapas anteriores
do ensino pode ser considerada um fator causador de evasão. A afirmação do
autor é corroborada pela experiência vivenciada e compartilhada pelos docentes
de disciplinas de matemática e química que, por diversas vezes, mencionaram a
dificuldade de alunos em assuntos básicos abordados por eles. Além disso, um
levantamento no histórico acadêmico das turmas, mostra um elevado grau de
reprovação nas disciplinas citadas.
Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
61
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
Tabela 1 Número de alunos ingressos, formados, evadidos e retidos do curso
técnico em aquicultura nas modalidade concomitante e subsequente.
Técnico concomitante
Formados
Evadidos
Retidos
2012.1
24
16
2012.2
19
8
2013.2
9
26
2014.1
11
23
1
2014.2
1
8
2015.1
6
23
1
2015.2
4
18
1
TOTAL
74
122
3
Técnico subsequente*
Formados
Evadidos
Retidos
2017.1
19
17
1
2017.2
15
19
5
2018.2
3
16
19
TOTAL
37
52
25
Fonte: Dados extraídos da plataforma IFCE em números
* existia uma turma ingressante em 2019.2, a mesma não foi considerada nos cálculos pois ainda estava em
período letivo regular.
A turma que iniciou o curso em 2014.2 apresentou apenas 9 ingressantes,
além de ter formado somente um técnico. Finalmente, as duas últimas turmas da
modalidade concomitante apesar de terem apresentado número satisfatório de
ingressantes, o número de formados considerando as duas turmas foi de apenas 10
técnicos. Para Dore e L
ü
cher (2011a), a falta de perspectiva do curso é um fator
relevante para desistência dos alunos. Além disso, o perfil do discente no ensino
concomitante é de ter alunos jovens, sem conhecimento sobre essa modalidade de
ensino, podendo resultar em elevada evasão.
A modalidade subsequente iniciou em 2017.1, tendo também um
novo Projeto Pedagógico de Curso (PPC) elaborado. A grande diferença em
relação ao PPC anterior é que neste novo formato o estágio obrigatório deixou
de ser componente obrigatório, em seu lugar foi instituída a disciplina Prática
Profissional. Outra mudança significativa, foi o tempo para finalizar o curso,
deixando de ser quatro para três semestres. Como é mostrado na Tabela 1, todas
as turmas apresentaram aproximadamente 40 ingressantes, evidenciando uma
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
62
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
maior procura pelo curso. Neste sentido, a mudança de turno de diurno para
noturno pode ter sido fundamental para esta melhoria.
As turmas que iniciaram o curso em 2017.1 e 2017.2 apresentaram
19 e 15 formados, respectivamente, enquanto o semestre 2018.2 destoou dos
outros com apenas 3 alunos formados. Vale ressaltar que nesta última turma
houve episódios específicos que talvez possam ter contribuído para esta situação.
Dois professores tiveram que se ausentar para licença paternidade, enquanto
outro docente se afastou 60 dias por licença médica. Na ocasião, em reunião
de colegiado, representantes discentes relataram que a turma ficou tendo aulas
praticamente com dois professores, tendo havido desgaste, desestimulação,
insatisfação e, consequentemente, alto índice de evasão.
Em trabalho realizado por Corrêa e Noronha (2004), os autores verificaram
que trabalhar ou estagiar na área é o aspecto mais relevante para permanência no
curso. Em nosso trabalho, como a modalidade de ensino subsequente é ofertada no
turno da noite, o discente tem maior possibilidade de iniciar estágio na área, uma
vez que o município de Morada Nova (CE), bem como as cidades circunvizinhas
estão apresentando crescimento de empreendimentos aquícolas.
De acordo com a Figura 2, é possível observar um elevado índice
de evasão no curso na modalidade concomitante. A primeira turma do curso
técnico em aquicultura teve uma evasão de 40%, enquanto 29,6% dos alunos
matriculados em 2012.2 também se evadiram da instituição. A partir de 2013.2
a taxa de evasão apresentou valores surpreendentemente elevados, sempre acima
de 65%, com um pico de quase 90% no semestre 2014.2.
Figura 2 Porcentagem de discentes evadidos em relação ao total de ingressos
no curso técnico em aquicultura na modalidade concomitante (2012 2015).
Fonte: O autor
Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
63
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
De acordo com Silva, Pimentel e Finardi (2014), estudos devem ser
realizados para avaliar a gama de fatores relacionados com a evasão. Para os mesmos
autores, apesar da importância de entender o fenômeno da evasão, sua análise é
complexa e envolve um grande número de variáveis inter-relacionadas, razão pela
qual talvez não existam tantos estudos sobre esse fenômeno de relevante impacto
social. Os resultados no nosso trabalho, por ter uma abordagem exploratória,
conseguiu mensurar a taxa de alunos evadidos: um percentual de 61,30% durante
a oferta do curso na modalidade concomitante, enquanto após a mudança para
o subsequente esta taxa caiu para 45,61%, porém é apenas um primeiro passo
para posteriormente compreender quais são os agentes causais deste fenômeno.
A presente pesquisa vale como um alerta para os atores envolvidos na gestão do
campus, cabendo aos coordenadores, direção de ensino e coordenação técnico-
pedagógica avaliarem mais profundamente o tema e traçar estratégias para
minimizar esses índices de evasão (45,61% 61,30%). É valida a sugestão de
aplicar um estudo futuro estendendo o campo amostral para os demais cursos.
Figura 3 Porcentagem de discentes evadidos em relação ao total de ingressos
no curso técnico em aquicultura na modalidade subsequente.
Fonte: O autor
A mudança de ensino da modalidade concomitante para subsequente
mostrou significativa diminuição nos índices de evasão. Conforme mostra a Figura
3, a taxa de evasão não superou 50% em nenhuma das três turmas avaliadas na
presente pesquisa. Apesar de ter havido uma queda na evasão, as taxas ainda são
consideradas elevadas.
De acordo com Ahlburg et al. (2002), alguns fatores influenciam
na evasão ou permanência do aluno no curso, dentre eles o apoio familiar,
características pessoais e o mercado de trabalho local. Nossos resultados
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
64
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
evidenciaram que a modalidade ofertada também pode ser um fator adicional.
Desta forma, o curso subsequente é ofertado no período noturno e, devido essa
especificidade, a maioria dos alunos exercem outro ofício durante o dia, havendo
muitas vezes uma sobrecarga de atividades. Além disso, a maioria dos discentes
também são pais e mães, tendo que dividir o tempo com as obrigações em casa.
De acordo com a Figura 4, dos 199 alunos que se matricularam no curso
técnico em aquicultura na modalidade concomitante em sete turmas entre o período
2012.1 2015.2, 61% se evadiram, enquanto apenas 37% concluíram o curso
Figura 4 Percentual de alunos formados, retidos e evadidos do curso técnico
em aquicultura na modalidade concomitante (n = 199) que ingressaram no
período de 2012.1 a 2015.2
Fonte: O autor
Em contrapartida, dos 114 alunos divididos em três turmas que
finalizaram na modalidade subsequente, a evasão foi de 46% e o percentual de
formados atingiu 32% (Figura 5). Considerando que os alunos retidos ainda
podem finalizar o curso, a taxa de formados pode ultrapassar os 50%.
Figura 5 Percentual de alunos formados, retidos e evadidos do curso técnico
em aquicultura na modalidade concomitante (n = 114) que ingressaram no
período de 2017.1 a 2018.2
Fonte: O autor
Avaliação dos índices de evasão e permanência
Artigos de Pesquisa
65
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, o IFCE implementa o Plano de Permanência e
Êxito que visa compreender a retenção e a evasão, problemas presentes desde a
educação sica até a superior, e que interferem negativamente nos indicadores
de
qualidade em qualquer instituição de ensino. Para tal, o campus forma uma
comissão local para averiguar as principais causas da evasão, estas por sua vez
podem ser classificadas em três grandes áreas que, por sua vez, contemplam diversas
variáveis. A primeira área relaciona-se aos estudantes, a outra às instituições de
ensino e, a última, a questões socioculturais e econômicas. Por fim, a partir de
uma visão clara e precisa da real situação institucional em termos de indicadores
de evasão, é possível iniciar discussões com os setores competentes para traçar
estratégias de como lidar com as questões postas.
A mudança de modalidade subsequente para concomitante resultou na
diminuição de alunos evadidos, no entanto, pesquisas mais aprofundadas devem
ser realizadas a fim de pontuar as principais causas da desistência dos discentes.
Outrossim, a aplicação de políticas que favoreçam a permanência devem ser
inseridas na instituição, tendo em vista a ampla magnitude das necessidades
específicas dos alunos.
REFERÊNCIAS
AHLBURG, Dennis A; MCCALL, Brian P.
Time to Dropout from College: A Hazard Model
with Endogenous Waiting.
Industrial Relations Center. University of Minnesota, April 2002.
Disponível em:<http://www.legacy-irc.csom.umn.edu/RePEC/hrr/papers/0102.pdf> Acesso em:
10 fev. 2021.
CEARÁ, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do.
Projeto Pedagógico do Curso
Técnico em Aquicultura
, Campus Morada Nova, 2012. Disponível em <https://ifce.edu.
br/moradanova/campus_morada/cursos/tecnicos/subsequentes/aquicultura/pdf/ppc-tecnioc-
aquicultura.pdf/view>. Acesso em: 22 ago. 2020.
CORRÊA, Ana Carolina; NORONHA, Adriana Backx.
Avaliação da evasão e permanência
prolongada em um curso de graduação em administração de uma universidade pública.
Anais do VII Semead Seminários de Administração, São Paulo, 2004.
DAVOK, Delsi Fries; BERNARD, Rosilane Pontes. Avaliação dos índices de evasão nos cursos de
graduação da Universidade do estado de Santa Catarina UDESC.
Avaliação
, v. 21, p. 503-521,
jul. 2016.
DORE, Rosemary; LÜCHER, Ana Zuleima. Permanência e evasão na Educação cnica de Nível
Médio em Minas Gerais.
Cadernos de Pesquisa
, v. 41, n. 144, p. 772-789, set/dez 2011a.
DORE, Rosemary; LÜCHER, Ana Zuleima. Política educacional no Brasil: educação técnica
e abandono escolar.
Revista Brasileira de Pós Graduação
, supl. 1, v. 8, p. 147-176, dezembro
2011b.
MOREIRA, A. G. L.; MOREIRA, R. T.
66
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.7, n.1, p. 55-66, Jan/Jun., 2021
FEITOSA, Jamille Muniz.
Análise de evasão no ensino superior: uma proposta de diagnóstico
para o
Campus
para o campo de Laranjeiras
. 85 p. Dissertação (Mestrado em Administração
Pública). Universidade Federal de Sergipe, 2016.
FREIRE, Paulo.
Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis
. 2. ed. São
Paulo: UNESP, 2003.
MARIANO, Cibele Marques.
Evasão do curso técnico de administração noturno numa escola
de Telêmaco Borba (PR)
. 2012. Monografia (Especialização em Gestãoblica Municipal).
Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
PELISSARI, Lucas Barbosa.
O fetiche da tecnologia e o abandono escolar na visão de
jovens que procuram a Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
225 p. (Mestrado em
Educação) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2012
SCALI, Danyelle Freitas.
Evasão nos cursos superiores de tecnologia: a percepção dos
estudantes sobre seus determinantes
. 150 p. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade
Estadual de Campinas, 2009.
SILVA, Caio Ruano da; PIMENTEL, Beatriz; FINARDI, Kyria Rebeca. Refletindo sobre a evasão
em um curso técnico do pronatec.
Unopar Científica Ciências Humanas e da Educação
, v. 15,
n. 3, p. 239-247, Out. 2014.
SIQUEIRA, T. V. Aquicultura: a nova fronteira para aumentar a produção mundial de alimentos
de forma sustentável.
Boletim Regional, Urbano e Ambiental
, v. 17, p. 54-60, 2017.
YOKOTA, Meire Satiko Fukusawa.
Evasão no ensino técnico e técnico integrado ao ensino
médio: um estudo de caso nos cursos técnicos em eletrônica, informática e mecatrônica da
ETEC Jorge Street do Centro Paula Souza
. 94 p. Dissertação (Mestrado em Gestão e Avaliação
da Educação Pública). Universidade Federal de Juiz de Fora, 2015.
Submetido em: 15/04/2021
Aprovado em: 18/09/2021