Um estudo sobre evasão no curso de engenharia civil
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.2, p. 47-62, Jul./Dez., 2020
UM ESTUDO SOBRE EVASÃO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
A
STUDY ON EVASION IN THE COURSE OF CIVIL ENGINEERING
George FARIAS
Maria de Lourdes da SILVA NETA
RESUMO:
A evasão dos discentes, na educação básica e superior, impacta na sustentabilidade
das instituições formativas e na qualidade educacional. Os cursos de Engenharia apresentam
índices de formandos menores que 50% e, quando analisamos as turmas de Engenharia Civil,
esse quantitativo é ainda menor, indicando que existe uma elevada taxa de desistência do curso.
Desse modo, o objetivo do trabalho foi estudar o índice de evasão do curso de Engenharia Civil
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE, campus Fortaleza, com o
intuito de analisar e fornecer dados para auxiliar na gestão do curso e no planejamento das ofertas,
considerando o índice de evasão. A metodologia de abordagem quantitativa exploratória e descritiva
utilizou-se dos dados fornecidos pela coordenação de controle acadêmico CCA, por meio do
sistema de controle acadêmico, Q-acadêmico. O arquivo fornecido estava em formato de planilha
eletrônica, contendo o número de matrícula de cada aluno e a situação dela, tanto no contexto geral
quanto em relação ao período. A identificação do estudante não constava no estudo. O período
dos dados coletados foi entre as turmas de 2012.2 até 2018.2. Com as informações fornecidas,
calculou-se o índice de evasão para cada turma e efetuou-se a análise estatística. Como resultado,
obteve-se o mero de estudantes evadidos em relação à quantidade de estudantes ingressantes em
cada turma. Dessa forma, a instituição investigada pode utilizar a equação, AE = -3,889 + 0,449
TM, para gerir os cursos e planejar a oferta de outras turmas do curso de Engenharia Civil.
Palavras-chave:
evasão; engenharia civil; estatística.
ABSTRACT:
The dropout of students in basic and higher education impacts on the sustainability of
training institutions and educational quality. The Engineering courses have rates of graduates lower
than 50% and, when we analyze the civil engineering classes, this amount is even lower, indicating
that there is a high dropout rate of the course. Thus, the objective of this study was to study the
dropout index of the Civil Engineering course of the Federal Institute of Education, Science and
Technology of Ceará - IFCE, Fortaleza campus, in order to analyze and provide data to assist in
the course management and planning of offers considering the evasion rate. The methodology
of qualitative and quantitative approach was used from the data provided by the coordination of
academic control - CCA, through the Q-academic system. The file provided was in spreadsheet
format, containing the enrollment number of each students, the enrollment status and enrollment
status in the period, and did not contain the student ID. The period of data collected was between
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2020.v6.n2.04.p47
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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classes from 2012.2 to 2018.2. With the information provided, the dropout rate was calculated for
each class and statistical analysis was performed. As a result, the number of students evacuated was
obtained in relation to the number of students entering each class. Thus, the institution investigated
can use the equation, AE = -3.889 + 0.449 TM, to manage the courses, plan the offer of classes of
the Civil Engineering course.
Keyword:
Evasion; Civil Engineering; Statistics.
INTRODUÇÃO
A formação superior é almejada por muitos estudantes que concluem
o ensino médio, proporcionando a abertura de mais oportunidades de trabalho,
com melhores salários. A elevação do número de instituições de ensino superior
(IES) ofertando cursos na modalidade presencial e/ou à distância expandiu
substancialmente o número de vagas nas mais diversas áreas de atuação profissional
(SEMESP, 2019). Paralelamente ao aumento do número de IES e de cursos é
possível observar uma quantidade expressiva de estudantes evadidos nas diversas
áreas de formação, tanto nas instituições públicas e privadas (SEMESP, op. cit.).
A motivação para a evasão do estudante universitário pode estar ligada
a caráter emocional, socioeconômico, desconhecimento do perfil profissional,
escolha errada do curso, desvalorização da profissão, dificuldades de adaptação ao
novo estilo de ensino e estudo, e ausência do sentimento de turma (WATANABE
et al., 2016; SANTOS; NASCIMENTO; RIOS, 2000). A saída prematura do
estudante do curso provoca impactos na gestão institucional, com a subutilização
de professores e infraestruturas em turmas demasiadamente pequenas. Assim, o
estudo dos dados internos da instituição, que no caso da presente investigação
foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
Campus Fortaleza, de modo específico retrata as reais necessidades do curso de
Engenharia Civil e contribui para a gestão e planejamento organizacional (SILVA;
MESQUITA; BAHIA, 2018).
O objetivo geral da pesquisa foi estudar o índice de evasão do curso de
Engenharia Civil do IFCE Campus Fortaleza. A pergunta norteadora do artigo
foi: como os dados de evasão podem influenciar no planejamento do curso de
graduação em Engenharia Civil? A demarcação temporal foi entre os semestres
de
2012.2 a 2018.2.
A organização do artigo foi realizada da seguinte forma, primeiro
apresentou-se a revisão bibliográfica, abordando a ampliação do número de
Instituições de Ensino Superior (IES) e vagas, a evasão no ensino superior, a
evasão nos cursos de Engenharias, com escopo no curso de Engenharia Civil do
IFCE Campus Fortaleza e a forma de calcular o índice de evasão. Em seguida,
descreve-se a organização metodológica do trabalho, os resultados obtidos, as
discussões, as considerações finais e as referências.
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EXPANSÃO DAS IES
O investimento em educação amplia as oportunidades profissionais,
proporcionando empregabilidade, possibilita a melhoria de renda e a qualidade
de vida da população. Segundo o Sindicato das Entidades Mantenedoras de
Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de o Paulo (SEMESP), às
oportunidades de trabalho para pessoas com ensino superior completo, nos
anos de 2015 a 2016 e de 2016 a 2017, tiveram um aumento de 1,5% e 4,1%,
respectivamente. Além de acesso a mais oportunidades, o salário médio dos
profissionais com formação superior foi aproximadamente três vezes maior que
daqueles com diploma de ensino médio (SEMESP, op.cit).
O aumento na quantidade de Instituições de Ensino Superior (IES)
vem ampliando o número de vagas nas mais diversas áreas de atuação, criando
maiores oportunidades e opções de trabalho para os estudantes e egressos. No
período de 1998 até 2017 ocorreu um acréscimo de 151,6% no número de IES
(SEMESP, op. cit.).
Ainda de acordo com o SEMESP e com o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2017, o número
de IES no Brasil cresceu 1,7% totalizando 2448 instituições, sendo 296 públicas
(federal, estadual e municipal) e 2152 privadas (INEP, 2018). As IES federais
foram quantificadas em 109 unidades, sendo 36,7% de Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica
(CEFETS) (INEP, 2019).
Como consequência desse aumento das IES no Brasil, houve elevação
de 3% na quantidade de matrículas no ensino superior, de 2016 para 2017,
considerando tanto instituições públicas como privadas, nas modalidades de
ensino presencial e Educação a Distância (EaD) (SEMESP, op. cit.). Os cursos
de bacharelado foram os mais procurados pelos candidatos. Ainda, segundo o
SEMESP, a área de Engenharia, Produção e Construção ficou em quarto colocado
como a área mais procurada pelos estudantes, concentrando 15,9% das matrículas
no ano de 2017, quando consideradas as IES públicas e privadas.
No ano de 2017, no que cinge aos cursos presenciais, o de Engenharia
Civil foi o terceiro curso mais procurado na rede privada, ficando atrás dos cursos
de Direito e Administração. Na rede pública, ficou em quinto lugar em demanda,
sendo precedido por Pedagogia, Direito, Administração e Medicina (SEMESP,
op. cit.).
Partindo dos dados quantitativos referentes às instituições de ensino
superior e aos cursos, seguiremos agora tratando sobre a evasão na graduação em
Engenharia, especificamente no curso de Engenharia Civil.
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR
Mesmo com mais ofertas de vagas nas universidades e mais opções de
graduações, é possível verificar elevados índices de evasão. Nos cursos presenciais
e EaD, na rede pública, em 2013, a taxa de evasão contabilizou 17,8% e 25,6%,
respectivamente (SEMESP, 2015 apud MELO et al., 2017, p.2). Entre os anos de
2016 e 2017, os cursos presenciais no Brasil tiveram uma redução de 27,2% para
25,9% no índice de evasão, e, se considerarmos as instituições públicas, a taxa de
evadidos se manteve praticamente estável, em 18,6% (SEMESP, op. cit.).
O Gráfico 1 apresenta a evasão ocorrida no ano de graduação na
modalidade presencial, entre os anos de 2012 e 2017, para as instituições de
ensino superior públicas e privadas no Brasil, considerando todos os cursos:
Gráfico 1
: Taxa de evasão no ano de graduação em IES privada e pública
Fonte: SEMESP (2018; 2019).
Pelo histórico apresentado, a taxa de evasão no período deixou de
apresentar variação significativa em cada tipo de instituição. Porém, é possível
verificar que a evasão na rede privada é maior que na rede pública, sendo em
média de 21,6% e 13,8%, respectivamente.
Segundo dados do INEP (2018), dentre os estudantes ingressantes
no ensino federal superior, em 2017, 21% deles fizeram o Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) no mesmo ano, mesmo frequentando uma Instituição
Federal de Ensino Superior (IFES). Isso demonstra que os estudantes buscam
mudar de curso ou de instituição, aumentando a taxa de desistência.
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Frequentemente, os motivos que levam à retenção e à evasão no ensino
superior estão associados a problemas de caráter emocional ou socioeconômico,
que influenciam, de forma determinante, no desempenho desses estudantes,
ocorrendo nos períodos iniciais dos cursos, quando os ingressantes se defrontam
com as dificuldades adicionais de adaptação à rotina como universitário
(WATANABE et al., op. cit.).
Para Santos, Nascimento e Rios (op. cit.), dentre os fatores que
contribuem para a evasão dos estudantes das instituições de ensino superior estão
a ausência do sentimento de turma, a desvalorização profissional, o elevado índice
de reprovações, a escolha errada da profissão, a separação da matriz curricular entre
ciclo básico e profissional e a dificuldade de adaptar-se ao ensino universitário. Os
fatores elencados podem auxiliar as IES e os cursos a desenvolverem projetos que
minimizem a evasão. Esses projetos podem incentivar ações que promovam
acolhimento e integração dos discentes, principalmente nos primeiros semestres,
ofertar cursos que atendam as demandas do mundo do trabalho contemporâneo e
desenvolver atividades que reduzam as reprovações e gerem aprendizagem, assim
como a análise das matrizes curriculares relacionadas ao perfil profissional.
Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional
da Indústria (G1, 2013), apenas 44% dos estudantes de Engenharia concluíram
seu
curso superior, na década de 2001 a 2011.
No ano de 2015, comparando os ingressantes e concludentes nos cursos
de Engenharia das instituições públicas, apenas 33% se formaram (SEMESP, op.
cit). Analisando o universo dos alunos do curso de Engenharia Civil, o número de
formandos é ainda menor, com apenas 23,7% de conclusão do curso (BRASIL,
2015 apud MELO et al., 2017). No curso de Engenharia de Produção de
Construção Civil da Universidade Estadual de Maringá (UEM), entre os anos de
2004 e 2011, a taxa média de formandos foi de 35%, valor próximo ao apresentado
para a taxa das engenharias nas instituições públicas (MOLIN FILHO et al.,
2013). Como visto, o número reduzido de formandos nas Engenharias acontece
algumas décadas e a desistência dos estudantes ocorre antes da metade do
curso, quando se está conhecendo as disciplinas iniciais da graduação escolhida.
O índice mais elevado de evasão dos estudantes da Engenharia ocorre
nos dois primeiros anos de curso, normalmente quando ainda se estuda o ciclo
básico (PEREIRA, 2003). Isto pode ser justificado devido ao fato de haver
maior quantidade de estudantes neste período do que nos anos seguintes da
graduação (ciclo profissional). Apesar do número alto de evadidos na engenharia,
nos primeiros anos de curso, índices preocupantes tambémo contabilizados
nos anos mais avançados, mesmo que em menor intensidade (SANTOS;
NASCIMENTO; RIOS, op. cit.).
Um fator gerador de desistência dos discentes no ciclo básico pode ser
motivado pela matriz curricular dos cursos de Engenharia nacionais. No Brasil,
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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estes cursos oferecem inicialmente uma fundamentação pautada nas disciplinas de
Física e Matemática e os estudantes, ao chegarem no ensino superior, apresentam
lacunas sobre conteúdos básicos que foram estudados na educação básica (NEIVA,
2017). Outro fator seria a oferta de disciplinas teóricas e abstratas, com carga
horária elevada e sem ligação com a prática profissional, gerando desmotivação e
falta de interesse do aluno, conduzindo à reprovação (PEREIRA, op. cit.).
Os professores podem recorrer às estratégias metodológicas que
envolvam atividades práticas no curso de Engenharia tornando a experiência
formativa do estudante mais produtiva e próxima do futuro profissional
engenheiro (RANDO JUNIOR; ALENCASTRO, 2017).
Segundo Pereira (op. cit.) a organização de matrizes curriculares
mesclando atividades teóricas e práticas relacionadas com a atuação profissional,
a descentralização do ensino no professor meramente expositivo para o ensino
centrado no estudante e priorizando o trabalho em equipe, recorrendo às
metodologias ativas, promovendo a resolução de problemas e projetos, são
alternativas para reduzir o índice de evasão nas engenharias.
A introdução de disciplinas que estimulam a criatividade, autoconfiança
e a pesquisa no ciclo inicial do curso de Engenharia Elétrica da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), através de projetos de engenharia, mostrou
resultados positivos, com uma redução de até 52,2% no índice de evasão. Além
disso, houve melhoria na interação entre professores e estudantes, na comunicação
oral e escrita e na apresentação de seminários (PEREIRA, op. cit.).
Em estudo realizado por Cardoso et al. (2017) mostrou-se que o
rendimento do estudante está diretamente relacionado à sua frequência em sala
de aula. Quanto maior a frequência e interação do discente, melhor o seu
desempenho, tendo em vista que o curso de Engenharia Civil possui conteúdo
cumulativo, ou seja, é necessário o entendimento dos conteúdos iniciais para
que o aluno consiga bom desenvolvimento do curso. Atrair o educando para
frequentar as aulas é um fator importante para melhorar o seu desempenho
acadêmico e combater a evasão ligada à reprovação (CARDOSO et al., 2017).
As disciplinas que apresentam elevados números de evasão e reprovação
nas engenharias estão associadas ao baixo índice de frequência dos discentes. São
elas: mecânica dos fluidos, cálculo diferencial e integral, física teórica, teoria das
estruturas e mecânica (SILVA; KOSTESKI, 2015 apud NEIVA, 2017, p.3).
Com base nisso, é válido salientar que a capacitação de docentes em
metodologias ativas de ensino, aprendizagem e avaliação e a implantação de
oficinas de metodologias ativas e estratégias de avaliação são iniciativas úteis
para
combater a evasão e o baixo rendimento discente no ensino superior
(WATANABE et al., 2017).
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Antes de determinarmos os valores da evasão, é importante, no primeiro
momento, caracterizar evasão e retenção, quando tratamos de educação. Segundo
Riffel e Malacarne (2010), a evasão é simplesmente o ato de fugir, abandonar, sair,
desistir e não permanecer em algum lugar. A retenção é quando o aluno consta
como matriculado no curso, mas está fora do prazo para integração curricular
(ANDIFES; ABRUEM; SESu/MEC, 1996).
Por outro lado, retenção, segundo Freitas (2010), significa um
mecanismo de suspensão da progressão regular no processo de formação do
estudante, como trancamento de matrícula ou rendimento insatisfatório de notas
e frequência.
De acordo com SEMESP (op. cit.) a taxa de evasão (TE) de um curso
pode ser calculada através da divisão entre a soma das matrículas trancadas (MT),
os desvinculados do curso (DC) e os falecidos (FA), pelo total de alunos (TA). A
seguir, é apresentada a equação:
TE =
MT+DC+FA
TA
Com o cálculo do número de estudantes evadidos a instituição pode
dimensionar de maneira mais eficiente sua infraestrutura, monitorar a desistência
dos alunos e praticar ações para prevenir a evasão.
METODOLOGIA
Quanto aos objetivos da pesquisa, esta se classifica como exploratória
e descritiva, mencionando a descrição das particularidades de determinada
população e a identificação de possíveis relações entre variáveis, enfatiza Gil
(2017).
No que se refere à abordagem do problema, a presente pesquisa
classifica-se como quantitativa, visto que, a análise quantitativa é uma abordagem
científica para decisões de gestão, sendo introduzida com dados brutos que serão
processados e transformados em informação significativa, conforme Render, Stair
e Hanna (2010).
O curso escolhido para o estudo foi o bacharelado em Engenharia
Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Cea, IFCE.
Diante do explanado nas linhas anteriores, a presente pesquisa foi executada em
tais etapas: primeiro, uma revisão bibliográfica sobre o tema para fundamentar o
estudo; em seguida, um levantamento de dados secundários no sistema de controle
acadêmico Q-acadêmico, utilizado pela Coordenação de Controle Acadêmico
(CCA) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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campus Fortaleza, para identificar a situação de matrícula dos estudantes do curso
de Engenharia Civil. Selecionamos as turmas de 2012.2 a 2018.2, período este
que contempla da primeira até a última turma mais próxima da época da coleta,
que foi efetuada no meio do semestre 2019.1.
As informações retiradas do sistema acadêmico e fornecidas pela CCA
estavam em formato de planilha eletrônica. Utilizando-se os filtros contidos no
sistema, foram coletados os dados relevantes para a pesquisa, como o número da
matrícula do aluno e a situação dela, tanto no contexto geral quanto em relação
ao período, para preservar a privacidade dos discentes, os nomes não foram
fornecidos.
No segundo momento, foi feita a definição das variáveis para a análise
da evasão do curso de Engenharia Civil, baseada nos dados fornecidos pelo CCA,
separados por turma ingressante. Posteriormente, foi realizado o cálculo da taxa
de evasão (TE), para o qual foram utilizadas as variáveis matrículas e a situação da
matrícula. Finalmente, efetivou-se a estatística descritiva.
O Quadro 01 expõe a fonte e as variáveis utilizadas no estudo:
Quadro 01
: Variáveis definidas para o estudo
Fonte
CCA IFCE Campus Fortaleza
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
O cálculo da taxa de evasão (TE) foi elaborado pela razão entre os
alunos evadidos (AE) e o número total de estudantes que ingressaram no primeiro
semestre da turma. A quantidade de evadidos foi calculada com a soma dos
discentes desvinculados (abandonos, cancelamentos e transferidos) e os educandos
que trancaram a matrícula (SEMESP, op. cit.).
Nossa amostra é indicada como não-probabilística e por conveniência.
Assim, quando um pesquisador aplica a amostra por conveniência, os resultados
obtidos não podem ser generalizados, sustentando somente o caso estudado,
como destaca Sordi (2017). A amostra segue os parâmetros de Virgillito (2018).
O autor expõe que as amostras não-probabilísticas são empregadas para pesquisas
de caráter exploratório, onde os resultados são fundamentados e servem somente
para se ter uma ideia mais concisa de diversas possibilidades.
O
s
dados
foram
tabulados
em
planilha
da
M
icrosoft
®
E
x
cel
®
,
que
é
um
programa de planilha eletrônica de última geração. Os programas de planilhas são
ferramentas muito convenientes para cálculos numéricos e, de fato, equivalentes
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computacionalmente a muitos sistemas de software baseados em linguagem de
programação para computação numérica (BAIER; NEUWIRTH, 2007)
D
epois,
foram
expor
tados
para
os
aplicativ
os
SPSS
®
S
tatistics
,
v
ersão
20
da
I
nter
national
B
usiness
M
achines
-
IBM
®
para
os
cálculos
estatísticos,
o
SPSS
é
um software aplicativo do tipo científico. Originalmente, o nome era as iniciais
de Statistical Package for the Social Sciences - pacote estatístico para as ciências
sociais,
mas
na
atualidade
a
parte
SPSS
®
do
nome
completo
do
softwar
e
não
tem
significado
.
O
SPSS
®
é
um
sistema
integrado
de
pr
ogramas
de
computador
projetado para a análise de dados de ciências sociais. É um dos mais populares
dos muitos pacotes estatísticos atualmente disponíveis para análise estatística.
Sua
popularidade decorre do fato de que o programa: a) permite uma grande
flexibilidade no formato dos dados; b) fornece ao usuário um conjunto abrangente
de procedimentos para transformação de dados e manipulação de arquivos, c)
oferece ao pesquisador um grande número de análises estatísticas comumente
usadas em ciências sociais (POPOVIĆ, 2015).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados com a taxa de evasão para cada turma da Engenharia Civil
foram organizados e apresentados na Tabela 2, a seguir:
Tabela 2
: Número de ingressos e evadidos por turma
Período
Ingressos (TM)
Alunos Evadidos (AE)
Taxa de evasão (TE)
2012.2
33
11
33,3%
2013.1
25
9
36,0%
2013.2
34
16
47,1%
2014.1
31
10
33,3%
2014.2
43
19
44,2%
2015.1
40
13
32,5%
2015.2
35
10
28,6%
2016.1
51
20
39,2%
2016.2
45
15
33,3%
2017.1
40
14
35,0%
2017.2
32
12
37,5%
2018.1
38
10
26,3%
2018.2
33
6
18,2%
Fonte: IFCE 2019
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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É possível constatar, com base na Tabela 2, que o número de estudantes
evadidos para as turmas de 2012.2 até 2016.1 apresenta uma média de 13,8. A
média aritmética é calculada pela soma dos alunos evadidos divididos pela
quantidade de períodos (FÁVERO; BELFIORE, 2020).
Já no período de 2016.2 a 2018.2, essa média cai para 11,4 desistentes.
Conforme Santos, Nascimento e Rios (op. cit.), essa diferença pode ser justificada
devido ao fato de, no primeiro período analisado, as turmas estarem mais
avançadas, tendo maior tempo para os estudantes continuarem evadindo, mesmo
no ciclo profissional, enquanto que, no segundo período, as turmas estavam com
apenas dois anos, restando ainda mais da metade do curso para elevar o índice de
evadidos.
Com os dados da Tabela 2, elaborou-se o Gráfico 2, contendo o número
de alunos ingressantes por semestre e a quantidade de discentes evadidos daquela
turma:
Gráfico 2: Estudantes ingressos e evadidos
Fonte: Dados da pesquisa (2019)
Analisando o comportamento da quantidade de estudantes ingressos a
cada semestre no curso de Engenharia Civil, é possível observar uma variação que
pode ser atribuída à chamada de alunos remanescentes da seleção e dos transferidos.
Esta ação pode ser um artifício utilizado como tentativa de compensar o número
de alunos que se desligarão do curso prematuramente.
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Porém, mesmo com a elevação de mais estudantes no início dos
semestres 2014.2 e 2016.1, é possível constatar tamm um aumento na
quantidade de evadidos, mostrando que somente a ação de elevar a quantidade
de alunos ingressantes não surte efeito na redução da evasão.
Ainda no Gráfico 2, podemos verificar que existe uma relação
diretamente proporcional entre o número de estudantes que ingressam a cada
semestre no curso de Engenharia Civil e a quantidade de evadidos: quando ocorre
a elevação do número de ingressos, também a elevação da evasão, mostrando
que as duas curvas apresentam comportamentos semelhantes. Esse mesmo
comportamento foi mostrado com os dados do ensino superior da SEMESP
(op. cit.), quando houve elevação no número de vagas no período 2016-2017 e
manteve-se a proporção de alunos evadidos.
Conforme demonstrado na Tabela 3, a seguir, indicado no Gráfico
2, o número médio de ingressos no período analisado foi de 36,92 discentes,
de evadidos foi 12,69. A mediana representa o valor inteiro que fica no meio
de uma distribuição. O desvio padrão, mede os desvios em relação à média e
demonstra alta variabilidade, fato confirmado pela amplitude dos dados. Como
exemplo, verifica-se que a quantidade de alunos evadidos variou entre 6 e 20 por
semestre. O coeficiente de variação, que é a razão entre o desvio-padrão e a média,
demonstra que os dados das matrículas são mais homogêneos que os dados das
evasões (FÁVERO; BELFIORE, op. cit).
Tabela 3
: Dados de medidas-resumo
Variável
Média
Mediana
Desvio-Padrão
Coeficiente de
Variação
TM
36,92
35,00
6,86
18,58%
AE
12,69
12,00
4,03
31,74%
Fonte: Dados da pesquisa (2019)
Nota: variável é uma característica ou atributo que se deseja observar, medir ou contar, a fim de obter algum tipo
de conclusão (FÁVERO; BELFIORE, 2020).
Além disso, essa diferença no número de evadidos entre as turmas mais
avançadas e as que estão iniciando contribui para que o índice de evasão seja
menos uniforme que no caso dos estudantes ingressantes, considerando que as
turmas tendem a iniciar sempre com a mesma quantidade de discentes, trinta
alunos.
Para tentar prever o movimento das evasões em relação aos alunos
matriculados, fez-se uso da regressão linear simples, que é uma técnica estatística
utilizada para analisar a relação entre duas variáveis, quais sejam, uma variável
independente ou preditora e uma variável dependente ou critério. O objetivo
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
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é utilizar a variável independente, cujos valores são conhecidos, para prever a
variável dependente (HAIR et al., 2009).
Para utilizar a regressão linear alguns pressupostos têm que ser
atendidos. O teste de Durbin-Watson, que analisa a ausência de autocorrelação
serial, apresentou um valor 1,369, para N = 13, α = 0,05, o valor crítico inferior
dl = 1,010 e superior du = 1,340. Conclui-se, portanto, que a estatística Durbin-
Watson se encontra na faixa de ausência de autocorrelação.
Em seguida, foi efetuado o teste de normalidade, que avalia o
pressuposto da normalidade dos dados. O teste é realizado com base nos resíduos
padronizados gerados, para isso, utilizou-se o teste de normalidade de Kolmogorov-
Sminorv, que apresentou um valor de p = 0,386. Neste caso, aceita-se a hipótese
nula de normalidade dos dados. Para finalizar, testou-se a homoscedasticidade,
regredindo o quadrado dos resíduos padronizados e o quadrado dos valores
estimados padronizados. O resultado da regressão apresentou valor de p = 0,351,
nesse caso, deixa-se de rejeitar a hipótese nula de homoscedasticidade (CORRAR;
PAULO; DIAS FILHO, 2017).
Tabela 4
: Dados da regressão simples
β não
padronizado
β
padronizado
Ajustado
Valor
de F
Valor
de p
Constante
-3,889
0,765
0,585
15,502
0,02
Alunos matriculados
0,449
Fonte: Dados da pesquisa (2020)
A Tabela 4 demonstra os resultados da regressão linear, cujo objetivo
é propiciar como se comporta a variável AE com base no comportamento da
variável TM. O modelo de regressão da equação demonstrou que
AE = -3,889 +
0,449 TM
. O valor de R² ajustado foi de 58,5%, considerado elevado e adequado
para o tamanho da amostra.
O β padronizado difere do β não padronizado pelo fato de poder
comparar as duas variáveis, mesmo com medidas diferentes. O ajustado é a
medida de explicação do modelo, quanto maior for o R², de 0 a 1, maior será o
poder preditivo da equação (HAIR et al., op. cit.).
Tabela 5
: Alguns cálculos preditivos
Valores de TM
Equação da Regressão
Valores de AE
60
AE = -3,889 + 0,449*22
23
22
AE = -3,889 + 0,449*22
6
Fonte: Dados da pesquisa (2019), valores de AE sujeitos à margem de erro
Um estudo sobre evasão no curso de engenharia civil
Artigos/Articles
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.2, p. 47-62, Jul./Dez., 2020
A Tabela 5 apresenta duas condições de alunos matriculados que
resultaram em valores previstos para AE, devendo-se respeitar a margem de erro
de 1,14038.
Com seus pressupostos atendidos, pode-se afirmar que a regressão é
considerada significativamente válida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As taxas de evasão nas turmas de 2012.2 até 2018.2 do curso de
Engenharia Civil do IFCE campus Fortaleza estão dentro da faixa encontrada no
referencial teórico, porém, não deixam de ser valores elevados e que necessitam
de ações para serem reduzidos.
Também foi possível verificar que as turmas que entraram mais
próximas às datas de coleta dos dados, em 2019.1, estavam com o índice de
evasão menor, mostrando que quanto maior o tempo de curso, maior é o número
de estudantes evadidos.
Como uma plausível ação de combate à evasão, o IFCE pode analisar
a matriz curricular da Engenharia Civil e inserir disciplinas ligadas à profissão
no início do curso. Além disso, é possível investir em formação continuada dos
professores para melhorar a qualidade do ensino, tendo em vista que eles
possuem formação técnica.
Através da equação de regressão encontrada, AE = -3,889 + 0,449
TM,
é possível predizer quantos estudantes da turma ingressante estão propícios
a desistir do curso, com uma precisão satisfatória. O IFCE poderá utilizar esta
informação para fazer o planejamento de tamanho de turmas e salas de aulas,
bem como, elaborar plano de união de turmas em semestres avançados baseado
no
número de evadidos calculado com a equação e otimizar a infraestrutura
disponível.
Porém, é preciso atenção na aplicação da fórmula, pois, com o passar
dos anos, o número de discentes ingressantes e desistentes sofrerá alterações,
necessitando da elaboração de outra regressão com dados atualizados.
Como sugestão para trabalhos futuros, seria interessante realizar uma
pesquisa com os alunos evadidos para traçar o perfil e justificativa da desistência
do curso, assim, seria possível elaborar um plano de redução de evasão mais
assertivo.
FARIAS, G; SILVA NETA, M. L.
60
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.2, p. 47-62, Jul./Dez., 2020
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Recebido em: 14/03/2021
Aprovado em: 14/05/2021
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62
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