CABRAL, L. V.; BARBOSA, M. V.
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.1, p. 51-68, Jan./Jun., 2020
temas inseridos, porém foi possível visualizar que o excesso de conteúdo deixaram
os alunos perdidos. Ficou evidente que o material deva ter sido montado para
abordar os objetivos do trabalho, além de estar sem fonte, o texto era composto
de um único parágrafo, contendo muitas informações sobre o assunto.
O texto utilizava de diversos termos para abordar os negros, como ne-
gros, africanos, negros africanos e escravos. O termo escravo foi utilizado tanto no
texto como pela professora, e sobre isso abrangemos como entendimento que
“dizer que o negro foi escravo pode ser entendido, e geralmente o é, como todos
os negros, em todas as partes, em todas as épocas, foram escravos. Fica subtendido
ser condição natural ser escravo. Ocorre a compreensão do não dito, que o branco
não foi escravo. (JUNIOR,1996, p. 151, grifos do autor).
Ficou explicito pelo texto e pela condução da professora do material
que o objetivo era inserir de forma rápida, os conceitos e temas básicos da te-
mática, como: período histórico, a capoeira como centro da inserção da cultura
e o protagonismo negro na história com Zumbi do Palmares, poucos alunos se
familiarizavam com a importância de Zumbi para o período histórico, diferente
de
como sabiam com toda certeza sobre a princesa Isabel.
De fato o texto abordava diversos assuntos importantes para a consti-
tuição do ensino de história e cultura afro-brasileira, porém os assuntos não foram
assimilados. Foi observado que de acordo com a condução da aula, o objetivo
principal de todos aqueles conteúdos citados no texto se fundamentavam em
introduzir a problemática da questão do preconceito racial
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, que como já mencio-
nado nos questionários respondido pelos alunos, existia uma forte relação com o
termo bullying, o que de fato se tornou mais explicito durante as aulas, visto que
não eram apenas os alunos que realizavam essa relação.
Refletindo sobre as questões étnico-raciais a professora discutiu com os
alunos sobre suas raízes, que também podiam estar ligadas aos negros escraviza-
dos, incutindo a ideia de identidade, porém sem possibilitar uma discussão mais
abrangente, isso deixou os alunos mais confusos, a qual podemos levar em consi-
deração também as dificuldades em responder os questionários no campo de cor/
etnia, escutar a frase que muitos deles tinham “um pezinho na senzala”, possa ter
ampliado ainda mais essa dúvida, não era intenção da professora abordar o assun-
to da identidade, assim como podemos considerar imprescindível para a temática,
a intenção estava em apresentar para a sala a grande existência de fenótipos da
negritude no interior escolar, cabe ressaltar que em mais de 50% dos alunos da
sala, ou seja essa temática se fazia muito pertinente para o contexto.
Na segunda aula foi entregue uma ficha, cujo título era: “Atividades
de leitura e interpretação de texto”. A lei 10.639 foi aprovada com intuito de ser
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O preconceito é um julgamento negativo e prévio que os membros de uma raça, de uma etnia, de um grupo,
de uma religião ou mesmo de indivíduos constroem em relação ao outro. (MUNANGA, 2016, p. 181)