O papel do psicopedagogo frente às crianças com dislexia
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Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, v.6, n.1, p. 97-108, Jan./Jun., 2020
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE ÀS CRIANÇAS COM DISLEXIA
ROLE OF THE PSYCHOPEDAGOGUE IN RELATION TO CHILDREN
WITH DYSLEXIA
Rodolfo de Oliveira Medeiros
1
Amanda de Araújo Passamai Medeiros
2
Alessandra Campos Novaes
3
Júlia Caroline Romão
4
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo evidenciar, através de uma Revisão de
Literatura, o papel do psicopedagogo frente a crianças portadoras de dislexia e as diferentes
estratégias para que seja possível alcançar condições de aprendizagem adequada. Foi realizado um
levantamento bibiográfico do período de 2003 a 2019, realizada nas bases de dados Scielo, Medline
e Educational Resources Information Center (ERIC). Foram utilizadas as palavras-chave Dislexia
e “Abordagens”, e suas correspondentes em inglês: “Dyslexia” e “Approach”. Foram encontrados 778
artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 20 artigos que abordavam assuntos
relacionados ao objetivo do presente estudo. Os resultados apontam para diversas estratégias de
intervenção competentes ao psicopedagogo, como o psicodrama, a caixa de areia, a técnica de
Cloze, atrelado ao uso de ferramentas de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), a
saber, o aparelho de Vectoeletronistagmografia, o uso do gravador, e do aplicativo para android
desembaralhando figura. Conclui-se que o psicopedagogo possui papel relevante no aprendizado
da criança com dislexia. Para tanto, é importante o conhecimento das técnicas de abordagens às
crianças, e a constante capacitação e atualização, haja vista que novas ferramentas tecnológicas vêm
sendo desenvolvidas com o intuito de auxiliar a assistência psicopedagógica.
PALAVRAS-CHAVE:
Psicopedagogo. Dislexia. Abordagens. Estratégias.
1
Mestre pela Faculdade de Medicina de Marília (Mestrado Acadêmico Saúde e Envelhecimento), 2020; Gra-
duação em Enfermagem pela Faculdade de Medicina e Marília (FAMEMA)- 2018. E-mail: rodorfo.famema@
hotmail.com
2
Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica Hospitalar e Empresarial- Rhema Educação- 2020. Licenciada em
Pedagogia pela Universidade de Marília (UNIMAR), 2018. E-mail: amandaapassamai@hotmail.com
3
Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela FAVENI-2019; Pós-graduação em Formação
Profissional para o Ensino Superior pela FAIP/Marília-2016. E-mail: alecnmatias@hotmail.com
4
Licenciada em Pedagogia pela Universidade de Marília- 2019. Pós graduanda em ´Psicopedagogia Institucio-
nal, Clínica e Ludopedagogia- FAVENI (Conclusão em 2021). E-mail: julia-romao@hotmail.com
http://doi.org/10.36311/2447-780X.2020.v6.n1.08.p97
MEDEIROS, R. O.; MEDEIROS, A. A. P.; NOVAES, A. C.; ROMÃO, J. C.
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ABSTRACT: The present study aimed to show, through a Literature Review, the role of the
psychopedagogue in relation to children with dyslexia and the different strategies so that it is
possible to achieve adequate learning conditions. A bibliographic survey of the period from 2003 to
2019 was carried out in the Scielo, Medline and Educational Resources Information Center (ERIC)
databases. The keywords “Dyslexia” and “Approaches” were used, and their English counterparts:
“Dyslexia” and “Approach”. 778 articles were found. After reading the titles and abstracts, 20 articles
were selected that addressed issues related to the objective of the present study. The results point
to several intervention strategies competent to the psychopedagogue, such as psychodrama, the
sandbox, the Cloze technique, linked to the use of Information and Communication Technologies
(ICT) tools, namely, the Vectoelectronistagmography device, the use of the recorder, and the
android app by shuffling figure. It is concluded that the psychopedagogue has a relevant role in the
learning of children with dyslexia. Therefore, it is important to know the techniques of approaches
to children, and the constant training and updating, given that new technological tools are being
developed in order to assist psycho-pedagogical assistance.
KEYWORDS
: Psicopedagogo. Dyslexia. Approaches. Strategies.
1
INTRODUÇÃO
A leitura e a escrita são habilidades es
senciais para o desenvolvi-
mento cultural do indivíduo, proporcionando subsídios para sua inserção nos
ambientes sociais (CUNHA; CAPELINI, 2014). A aquisição do aprendizado da
leitura e da escrita, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental, é
uma habilidade de ampla relevância no processo de desenvolvimento de muitas
crianças (CIDRIM; BRAGA; MADEIRO, 2018).
Aprender a escrever engloba a compreensão de uma série de proprie-
dades e aspectos da língua escrita que fazem parte do sistema ortográfico. Essa
aprendizagem consiste em diferenciar o traçado das letras, saber a que sons as le-
tras correspondem, identificar a posição da letra dentro da palavra, compreender
que uma mesma letra pode representar vários sons, assim como um mesmo som
pode ser representado por diversas letras (CAPELINI et al., 2012).
O processo de aprendizagem estabelece integração com diversas habi-
lidades que, quando prejudicadas, podem gerar transtornos que influenciam de
forma negativa o desenvolvimento do aluno (FRANCESCHINI et al., 2015).
Segundo Silva, Crenitte (2014) dois fatores parecem explicar os transtornos de
aprendizagem: Inabilidade com movimentos de coordenação e ausência de per-
cepção de sua posição espacial. Além disso, é importante ressaltar a relevância da
interação dialética entre a criança e seu meio sociocultural, no que tange seu de-
senvolvimento cognitivo. Estudos recentes (REGO, 2014) relacionados às ideias
de Vygotsky afirmam que organismo e meio exercem influência recíproca, a partir
de uma perspectiva sociointeracionista, enfatizando a importância do meio em
que
a criança está inserida.
A dislexia é um distúrbio específico de linguagem de origem consti-
tucional, caracterizada por dificuldades na aprendizagem e no uso das habilida-
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des acadêmicas (NASCIMENTO; MACHADO; GARCEZ; PIZZATO; ROSA,
2014).
Atualmente, devido ao alto número de alunos que não atendem as ex-
pectativas na escola, grande procura por avaliação clínica (SIGNOR, 2015).
Cerca de 17% da população mundial seria portadora de dislexia (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE DISLEXIA- ABD, 2018).
Sampaio, Paixão e Perottino (2019) defendem a ideia de que a Dislexia
pode ser desencadeada por fatores biológicos, que se agravam por problemas so-
cioeconômicos e culturais, vivenciados pela criança.
No que tange ao manejo de crianças com dislexia, apenas as formas
tradicionais de modelos de ensino são insuficientes para alcançarem condições de
aprendizagem mais adequadas (LÉON et al., 2017). Diante disso, o psicopedago-
go surge com importante papel, tanto no diagnóstico como no auxílio diário do
professor com o aluno disléxico (SANTIAGO; OMODEI, 2016).
O presente trabalho possui como objetivo compreender o papel do psi-
copedagogo frente a crianças portadoras de dislexia e as diferentes estratégias para
que seja possível alcançar condições de aprendizagens adequadas. A Justificativa
do presente estudo se devido à escassez de estudos relacionados à esta temática
voltada ao psicopedagogo, atrelado à iminente necessidade de se desenvolver no-
vas estratégias visando uma adequada abordagem à criança disléxica, a partir da
ótica biopsicossocial.
Trata-se de uma Revisão de Literatura, realizada nas bases de dados
Scielo, Medline e Educational Resources Information Center (ERIC), no período
entre Fevereiro e Outubro de 2019. As palavras-chave foram Dislexia e Abor-
dagens, e suas correspondentes em inglês: Dyslexia e Approach. Somando-se os
resultados das buscas de todas as bases de dados, foram encontrados 778 artigos.
Após a leitura dos títulos, foram selecionados 20 artigos que abordavam assuntos
relacionados ao objetivo do presente estudo. Outros estudos, de conteúdo rele-
vante, foram identificados em outras fontes, com base nas listas de referências de
estudos, obtidas nas buscas eletrônicas. Foram aplicados os seguintes critérios de
inclusão: Estudos primários, publicados entre os anos de 2014 a 2019, disponí-
veis na íntegra, nos idiomas inglês, espanhol e português, que abordavam a o ob-
jetivo do estudo. Os critérios de exclusão foram: Estudos se
cundários, teses ou
dissertações
.
O presente trabalho organizou-se em 3 partes e 5 subtópicos.
No tópico 1, introdução, abordou-se o papel do psicopedagogo frente a
crianças com dislexia além do aspecto conceitual da dislexia.
MEDEIROS, R. O.; MEDEIROS, A. A. P.; NOVAES, A. C.; ROMÃO, J. C.
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2
DESENVOLVIMENTO
2.1
DISLEXIA
O aluno disléxico impõe cuidados que exigem estratégias específicas
e elevado senso de criatividade na condução do método de ensino, diagnóstico
do problema e na abordagem da criança e da família (SANTIAGO; OMODEI,
2016). Segundo Acampora (2012) o psicopedagogo é o profissional capacitado
para atender crianças, adolescentes ou adultos com déficits na aprendizagem, atu-
ando na prevenção, diagnóstico ou tratamento.
A dislexia é caracterizada como:
Uma desordem do desenvolvimento caracterizada por dificuldades significan-
tes e específica na leitura e na escrita, como dificuldade em adquirir habilidades
básicas, como na leitura das palavras e nas habilidades de soletração e decodifi-
cação, resultando em déficit fonológico, alterações no desenvolvimento lexical,
e nas funções executivas, além de baixo desempenho em tarefas de atenção
visual sustentada (LYON; FLETHCER; BARNES, 2003; OLIVEIRA, GER-
MANO, CAPELLINI, 2017).
A dislexia pode ser classificada de diversas formas, a depender da esco-
lha de critérios específicos. Segundo Santiago, Omodei (2016), a dislexia pode ser
classificada com base em fatores fonoaudiológicos, psicológicos ou pedagógi-
cos,
ou através de testes diagnósticos.
As dificuldades na leitura na dislexia do desenvolvimento resultam de
deficiências no processamento fonológico, mais especificamente na consciência
fonológica, que consiste na habilidade de concentrar-se nos sons que compõe a
fala. (ROTTA; PEDROSO, 2016).
Na dislexia Lexical, os disléxicos leem lentamente, errando com frequ-
ência, pois tornam-se dependentes da rota fonológica, cometendo erros habituais
nas repetições, silabações e retificações (SANTIAGO; OMODEI, 2016).
Na Dislexia Mista ocorre uma conexão entre a dislexia fonológica e a
lexical, sendo a mais grave, tendo como consequências a falta do aprendizado e da
leitura escrita, trazendo em um contexto mais ampliado, consequências para o
individuo, como vergonha, angústias e diversos males social à criança (SANTIA-
GO, OMODEI, 2016). Ajudar as crianças que possuem algum tipo de dificulda-
de de aprendizagem tem sido motivo de grande preocupação da prática educativa
(ALVES; CASELLA; FERRARO, 2016; BIGOZZI et al., 2016).
A avaliação psicopedagógica serve como uma ferramenta que fornece
subsídios ao psicopedagogo acerca da real situação da escola, auxiliando-o na
definição de estratégias de intervenção, tendo em vista as várias dimensões da
aprendizagem, como as de origem orgânica, cognitiva e psicossocial (ITO, 2013).
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Em relação ao seu trabalho junto ao professor, no auxílio diário com o
aluno disléxico, é de competência do psicopedagogo a realização de orientações
específicas frente a situações-problemas vivenciadas por eles. Através destas, sur-
gem ações pedagógicas com o intuito de auxiliar o professor, além de fornecer
informações sobre as características do desenvolvimento afetivo, cognitivo e social
dos
diferentes níveis de escolarização (ITO, 2013).
É de competência do psicopedagogo a realização do diagnóstico, que
se trata de uma investigação do processo de aprendizagem do indivíduo, com o
intuito de identificar a origem do problema. Essa investigação inclui a entrevis-
ta com os pais do aluno, a análise do material escolar, a aplicação de diferentes
modalidades de atividades e o uso de testes para avaliação do desenvolvimento e
dificuldades apresentadas (ACAMPORA, 2012).
2.2
INTERVENÇÕES DO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGO
Pesquisas mostram que o déficit no processamento fonológico é a prin-
cipal causa da dislexia. Sendo assim, um importante papel do psicopedagogo é a
estimulação da consciência fonológica, estimulando a habilidade das crianças em
prestarem atenção aos sons de forma seletiva, identificando a sequência de sons
e sons faltantes em uma sequência anterior, localização de sons diversos, ouvir um
determinado som e associar à sua fonte. A utilização de rimas para introduzir
os
sons das palavras é outra estratégia, que pode ser aplicada através do uso de
orientações verbais, sica, poesias infantis com rimas e figuras diversas (RO-
DRIGUES; CIASCA, 2016).
O psicopedagogo deve desenvolver a consciência na criança de que
fala é constituída de sequência de palavras, ou seja, cadeias linguísticas nas quais
transmitimos nossos pensamentos. Deve também desenvolver a consciência de
que as palavras contêm fonemas, abordando a relação entre grafema e fonema,
através de técnicas de explicação verbal. Ressalta-se que a abordagem da consci-
ência fonológica possui alta relevância quando trabalhada com crianças de 5 a 8
anos (RODRIGUES; CIASCA, 2016).
No campo de compreensão da leitura, quando a criança apresenta len-
tidão no reconhecimento das palavras, uma das estratégias de ensino-aprendiza-
gem a ser utilizada são as atividades de fluência e velocidade, integração visual,
prática de leitura reduzida e leitura silenciosa (RODRIGUES; CIASCA, 2016).
Em relação aos alunos que apresentam problemas no processamento se-
mântico (extrair significados, integração na memória e processos inferenciais), os
mesmos não conseguem integrar as frases e, consequentemente, não conseguem
extrair informações do texto ou contextualizar o significado das palavras. Frente
a isso, o psicopedagogo pode utilizar como estratégia didática a comparação de
frases com significados semelhantes e contrários, utilizar atividades de chaves con-
MEDEIROS, R. O.; MEDEIROS, A. A. P.; NOVAES, A. C.; ROMÃO, J. C.
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textuais (temporais, espaciais, valorativas e funcionais), resumir parágrafos breves
e comparar os significados das palavras (RODRIGUES; CIASCA, 2016).
Para alunos disléxicos que apresentam déficits nas habilidades atencio-
nais, como concentração, mecanismos seletivos, labilidade emocional e metacog-
nição, o psicopedagogo pode utilizar atividades específicas de atenção concentra-
da e graduar o tempo da leitura em função da persistência da atenção (RODRI-
GUES; CIASCA, 2016).
Além disso, são necessárias adaptações variadas no contexto escolar,
para que seja possível a evolução do aluno em seu espaço acadêmico. Essas adap-
tações devem ser realizadas frente às necessidades do aluno. Para tanto, vale des-
tacar algumas recomendações pertinentes, baseadas na proposta da International
Dyslexia Association (2013):
Dar tempo extra para completar as tarefas;
Oferecer ao aluno ajuda para fazer suas anotações;
Modificar trabalhos e pesquisas, segundo a necessidade do aluno;
Esclarecer ou simplificar instruções escritas, sublinhando ou desta-
cando os aspectos importantes para o aluno;
Reduzir a quantidade de texto a ser lido;
Bloquear estímulos externos, caso o aluno se distraia com facili-
dade;
Proporcionar atividades práticas adicionais, uma vez que os mate-
riais não oferecem em número suficiente para crianças com dificul-
dade de aprendizagem;
Fornecer glossários dos conteúdos e guia para auxiliar o aluno a
compreender a leitura;
Repetir as orientações e recomendações, pois alguns alunos pos-
suem dificuldade em seguir instruções. Sendo assim, pode-se pedir
que o mesmo repita com suas próprias palavras;
Variar os modos de avaliação, ou seja, apresentações orais, parti-
cipação em discussões, avaliações escritas e provas com múltipla
escolha;
Estimular o uso de agendas, calendários e organizadores;
Graduar os conteúdos a serem abordados, em um nível crescente
de dificuldade.
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Outras estratégias de intervenção pedagógica podem ser utilizadas na
abordagem ao aluno disléxico, a depender da necessidade oferecida pelo mes- mo.
A técnica psicopedagógica do Psicodrama consiste em um teatro espontâneo,
através da representação de uma peça teatral sem texto prévio, onde a representa-
ção surge a partir de um tema, com a finalidade de revelar sentimentos ocultos,
além de auxiliar o indivíduo na compreensão e superação de suas dificuldades
(MELQUIADES, 2018).
Na técnica psicopedagógica da caixa de areia, o aluno cria cenas tri-
dimensionais em uma caixa de tamanho apropriado que permite o uso de areia,
água e miniaturas de seres e objetos do contexto sociocultural do aluno, com o in-
tuito de se desenvolver os aspectos afetivos e cognitivos (MELQUIADES, 2018).
A Técnica de Cloze consiste em organizar um texto de aproximadamen-
te 200 vocábulos, deixando intactas a primeira e a última frase, e omitindo, no
restante do texto, os vocábulos de determinada categoria gramatical. No local do
vocábulo omitido, é colocado uma lacuna, a qual deve ser preenchida pelo leitor,
com o intuito de restituir o sentido completo da oração do texto (TAYLOR,
1957). É considerado um instrumento eficaz tanto na mensuração como na
mediação da compreensão da leitura (CARVALHO, MONTEIRO, ALCARÁ,
SANTOS, 2013; ALCARÁ e SANTOS, 2015)
2.3
FERRAMENTAS PARA ABORDAGEM AO ALUNO DISLÉXICO
Na perspectiva da prática clínica, não é incomum observar crianças
com dificuldades atencionais visuais e auditivas, e como elas precisam acompa-
nhar o professor em seu campo visual na sala de aula, fazer cópias e ler as tarefas
do livro, é indispensável que ocorra integração das funções oculomotoras e das
interligações vestibulares (MATHES; DENTON, 2002). Para tanto, estudos re-
centes (ROMERO et al., 2018; VENTURA; GANATO; MILTRE; MOR, 2009;
SKIADA et al., 2014; ZIKL et al., 2015; CIDRIM; MADEIRO, 2017), de alta
relevância científica apontam para ferramentas estratégicas para o auxílio no ma-
nejo à criança disléxica.
2.3.1
VECTOELETRONISTAGMOGRAFIA
A percepção espacial da criança com distúrbio vestibular é pior do que
em crianças sem este distúrbio (ROMERO et al., 2018). A via sacádica envol-
ve várias regiões do córtex cerebral, cerebelo e tronco encefálico. Os parâmetros
de latência, velocidade e precisão dos movimentos sacádicos avaliam a eficiência
dos controles do sistema nervoso central sobre os movimentos rápidos dos olhos
(VENTURA, GANATO, MILTRE; MOR, 2009).
MEDEIROS, R. O.; MEDEIROS, A. A. P.; NOVAES, A. C.; ROMÃO, J. C.
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A Vectoeletronistagmografia digital é um dos métodos mais emprega-
dos para a avaliação vestibular, pois permite a medida dos parâmetros da função
vestíbulo-oculomotora, por meio da comparação entre os estímulos e as respostas,
além de identificar a direção dos fenômenos oculares (MOR; FRAGOSO, 2012).
Estudos mostram que, após avaliação otoneurológica e uso do Vectoeletronis-
tagmografia, foi possível perceber que crianças portadoras de dislexia possuem
reflexo ocular mais lento quando comparadas a crianças que não possuem dislexia
(ROMERO et al., 2018).
2.3.2
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
Crianças com dislexia necessitam de mecanismos de ensino multissen-
soriais, ou seja, através da relação entre imagens e sons. (CIDRIM; BRAGA;
MADEIRO, 2017). Para apoiar as necessidades de aprendizagem de crianças com
dificuldade de leitura e escrita, surgem as Tecnologias da Informação e da Comu-
nicação (TIC), como importante ferramenta tecnológica (SKIADA et al., 2014;
ZIKL et al., 2015; CIDRIM; MADEIRO, 2017).
Um dos benefícios do uso dessas ferramentas é aumentar a motivação e
envolvimento para aprender, pois auxilia a criança a aprender a ler e escrever por
caminhos divertidos (BORHAN; SHARBINI; CHAN; JULAIHI, 2015).
O Aplicativo desembaralhando, da plataforma Android, foi desenvol-
vido com o objetivo de auxiliar na intervenção de crianças disléxicas no contexto
do problema do espelhamento das letras. Trata-se de uma ferramenta intuitiva,
de modo que, mesmo sem o auxílio de um adulto, a criança terá facilidade em
usar. O aplicativo apresenta uma interface com cores claras e leves, em tons de
azul e amarelo, com propósitos ergonômicos, visto que uma das dificuldades dos
disléxicos consiste em formas em ambientes de muito estímulo visual, ou em um
fundo completamente branco (CIDRIM, BRAGA, MADEIRO, 2017; ZIKL et
al., 2015). Dispõe de recursos de gravação e reprodução de conteúdo de áudio,
com o intuito de auxiliar a criança no reconhecimento das palavras disponíveis
nas atividades (CIDRIM; BRAGA; MADEIRO, 2017)
Outro recurso tecnológico disponível para a abordagem à criança por-
tadora de dislexia, segundo a Comunidade Aprender Criança et al. (2014), é o
uso do gravador, além de outros recursos como tabuadas, material dourado e ába-
co nas séries iniciais, e o uso de fórmulas e calculadora nas séries mais avançadas.
É possível fornecer dicas, atalhos, regras mnemônicas e associações que ajudam o
aluno a lembrar-se das informações, executar atividades e resolver problemas.
ainda, como recursos disponíveis, a indicação de filmes e documentários, peças de
teatro, visita a museus e quadrinhos (SANTIAGO; OMODEI, 2016).
Um estudo desenvolvido em Nova Jersey mostra que o diagnóstico pre-
coce favorece à criança com dislexia. Os educadores envolvidos na educação da
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primeira infância estão na linha de frente no que se refere à identificação de riscos,
visando intervenções precoces e apropriadas (GONZALES; BROW, 2019).
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo buscou evidenciar o papel do psicopedagogo como
elemento essencial no desenvolvimento da aprendizagem do aluno disléxico.
Além das atribuições competentes ao psicopedagogo, outras estratégias surgem
como importantes ferramentas no manejo da criança com dislexia. É o caso das
ferramentas de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), a saber, o uso
do aparelho de Vectoeletronistagmografia, o uso do gravador, e do aplicativo para
android desembaralhando figura. São ferramentas que, atreladas às diversas estra-
tégias educacionais do psicopedagogo, certamente favorecem a uma adequada
abordagem, visando atender todas as necessidades oferecidas pelas crianças dis-
léxicas.
O psicopedagogo possui papel relevante no diagnóstico e aprendizado
da criança com dislexia. Para tanto, é importante o conhecimento e apropriação
das técnicas de abordagens às crianças, e a constante capacitação e atualização,
haja vista que novas ferramentas tecnológicas vêm sendo desenvolvidas com o
intuito de auxiliar a assistência psicopedagógica.
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Submetido em: 16/06/2020
Aprovado em: 22/07/2020