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UM ENCONTRO NECESSÁRIO: O FEMINISMO E AS TEORIAS
DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
1
A NECESSARY MEETING: FEMINISM AND INTERNATIONAL
RELATIONS THEORIES
UN ENCUENTRO NECESARIO: FEMINISMO Y TEORÍAS DE LAS
RELACIONES INTERNACIONALES
Danielle Gonçalves Passos do Nascimento
2
Thiago Fernandes Franco
3
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar e tensionar o momento e as formas
como o encontro entre feminismo e Teorias das Relações Internacionais (TRI) é
emoldurado. A configuração teórica em Relações Internacionais (RI) é marcada por uma
significativa diversidade em termos de teorias e, sobretudo nos últimos anos, muito se
discute sobre como explorar essa variedade teórica. Para entender de que modo a
inserção e a contribuição das abordagens feministas paras as TRI, procurou-se abordar o
germinar dos estudos feministas e a incorporação desses nas RI, visualizar quais bases
contribuem para a disciplina, para além dos nomes mais aceitos, tais como Cynthia Enloe
e J. Ann Tickner, bem como assimilar as inovações no que tange às novas demandas em
TRI e em relação ao feminismo para com a primeira. Assim, também aproveitar os eixos
epistemológicos fora do espectro Europa-Estados Unidos e o que a esfera teórica de RI
ganha com as produções teórico-práticas feministas.
1
O presente artigo decorre do plano de trabalho de Iniciação Científica intitulado A inserção e as
contribuições do pensamento feminista para a Teoria das Relações Internacionais desenvolvida entre
2019-2020 na Universidade Federal de Sergipe (UFS). As bases de argumentação amadureceram ao longo
do tempo e, portanto, o trabalho ganhou novos repertórios.
2
Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp -
Marília). Bolsista CAPES. Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Sergipe
(UFS). Endereço eletrônico:danielle.passos@unesp.br
3
Professor de Relações Internacionais na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutor e Mestre em
Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de História
Econômica. Endereço eletrônico: thiago.franco@academico.ufs.br
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PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento teórico. Mulheres. Relações Internacionais.
Teoria Feminista.
ABSTRACT: This article aims to present and stress the moment and the ways in which
the encounter between feminism and International Relations Theories (ITR) is framed.
The theoretical configuration in International Relations (IR) is marked by a significant
diversity in terms of theories and, especially in recent years, much has been discussed
about how to explore this theoretical variety. In order to understand how feminist
approaches are inserted and contributed to IRT, an attempt was made to address the
germination of feminist studies and their incorporation into IR, to visualize which bases
contribute to the discipline, in addition to the most accepted names, such such as Cynthia
Enloe and J. Ann Tickner, as well as assimilating innovations regarding new demands in
IRT and in relation to feminism towards the former. Thus, also taking advantage of
epistemological axes outside the Europe-United States spectrum and what the theoretical
sphere of IR gains from feminist theoretical-practical productions.
KEYWORDS: Theoretical development. Women. International relations. Feminist
Theory.
RESUMÉN: Este artículo tiene como objetivo presentar y tensar el momento y las
formas en que se enmarca el encuentro entre el feminismo y las Teorías de las Relaciones
Internacionales (TRI). La configuración teórica en Relaciones Internacionales (RI) está
marcada por una importante diversidad en cuanto a teorías y, especialmente en los últimos
años, mucho se ha discutido acerca de cómo explorar esta variedad teórica. Para entender
cómo hay inserción y aporte de los enfoques feministas a la TRI, se intentó abordar la
germinación de los estudios feministas y su incorporación a las RI, para visualizar qué
bases aportan a la disciplina, además de los nombres más aceptados, como Cynthia Enloe
y J. Ann Tickner, así como asimilar las novedades respecto a las nuevas demandas en
TRI y en relación al feminismo hacia las primeras. Aprovechando así también ejes
epistemológicos fuera del espectro Europa-Estados Unidos y lo que el ámbito teórico de
las RI gana con las producciones teórico-prácticas feministas.
PALABRAS CLAVE: Desarrollo teórico. Mujer. Relaciones Internacionales. Teoría
Feminista.
INTRODUÇÃO
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Nos últimos anos, a abertura teórica vivenciada pelas Relações Internacionais
proporcionou um frutífero diálogo com diferentes pensamentos, abordagens e conceitos.
Para além das grandes escolas clássicas de pensamento de origem anglo-saxônica e dos
repetitivos e anacrônicos “Grandes Debates”, as Teorias das Relações Internacionais
(TRI) têm se concentrado também em englobar as contribuições “mais contemporâneas”
e, assim, fomentar o processo de desenvolvimento teórico do campo das Relações
Internacionais (RI). Por sua vez, essa expansão teórica precisa se fazer presente não na
compreensão de como as perspectivas mais recentes feminismo, teoria crítica, questões
raciais, pós-colonialista, meio ambiente, religiosidade etc encontram-se com as TRI,
mas também como melhorá-la no tocante às produções de dossiês, criação de eventos,
linhas de pesquisas e na implementação nos planos de ensino de TRI e cursos de RI.
Ainda que seja uma crescente o debate cada vez mais popular acerca dos eixos
teórico-práticos dos feminismos, esse cenário nem sempre se forjou assim. Os estudos
feministas foram marginalizados por diversos setores e áreas do conhecimento. No caso
das Relações Internacionais, era possível perceber um distanciamento em relação à esfera
de gênero
4
. Isso também ocorreu em outras áreas e disciplinas das Ciências Sociais,
contudo, a superação ou aprofundamento da distância com as tendências de articulações
feministas não se deu da mesma forma
5
(HALLIDAY, 2007).
Ao constatar a separação entre as duas esferas (de gênero e RI) e que o crescimento
dos estudos sobre as mulheres foi, massivamente ignorado por muito tempo pelas
Relações Internacionais, enfatiza-se que para superar a invisibilidade das mulheres é
necessário que se analise porquê e como acontece este ocultamento e quais as razões para
o seu fortalecimento para, a posteriori, pensar no seu enfraquecimento. O
robustecimento dessa separação transcorre em detrimento da suposição de que é possível
estudar o curso das relações entre os Estados-nação
6
, muitas vezes vista como o foco das
relações internacionais, sem fazer um recorte da questão de gênero. Consequentemente,
ao negligenciar a categoria de gênero, as RI latentemente lançam munição para sustentar
a ideia de que os processos internacionais são neutros em gênero. A partir dessa
justificativa de pseudoneutralidade, amarra-se a perspectiva de que não há efeito nenhum
sobre o papel e a posição das mulheres no âmbito da sociedade e sobre as disparidades
entre homens e mulheres (HALLIDAY, 2007).
4
Os Estudos de Gênero são mais amplos do que “apenas” falar sobre feminismo e mulheres.
5
As contribuições epistemológicas que o feminismo e as abordagens focadas no recorte de gênero
oferecem para os campos dos saberes são diferentes. As reflexões e os debates construídos na História,
na Sociologia, na Antropologia e na Ciência Política, por exemplo, não são os mesmos que nas Relações
Internacionais, seja por conta das especificidades ou das aberturas que são, ou não, feitas.
6
“Em sua face moderna, o Estado-nação pode ser definido como um tipo de organização política que
mantém o monopólio administrativo sobre um território delimitado, "sancionado por lei e por um
controle direto dos meios internos e externos de violência" (Giddens, 2008, p. 145). Um dos seus atributos
é a capacidade de "monitoramento reflexivo dos aspectos da reprodução dos sistemas sociais
subordinados ao seu domínio" (Giddens, 2008, p. 42-43). Para isso, o Estado opera com um aparato
administrativo constituído por um conjunto de instituições de governo e por uma hierarquia de
funcionários especializados. O Estado moderno, como organização política mundialmente difundida, está
situado em um sistema mundial de Estados-nação que emerge mediante relações conflituosas e tensas
historicamente estabelecidas na arena internacional” (FERREIRA, 2013, p. 29-30).
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J. Ann Tickner (1992) e Izadora Monte (2013) quebram com essa acepção de
neutralidade e de que os processos internacionais e as concepções dos papéis de gênero
não têm a ver com o posicionamento atribuído para mulheres e homens. No momento
em que a primeira escreve, observou-se o baixo nível em termos da presença de mulheres
enquanto atores decisivos e atuantes em política internacional e enquanto acadêmicas das
Relações Internacionais, principalmente quando se tratava de temáticas referentes à
guerra e a paz, em voga assuntos imprescindíveis para o nosso campo (TICKNER, 1992).
também a critica ao fato de que a articulação política do gênero dialoga diretamente
com uma supervalorização do masculino e das identidades, atividades e comportamentos
lidos masculinamente. E desse modo, as discrepâncias no alcance ao poder, informações,
meios e até mesmo autoridade impactam o arranjo das mulheres na sociedade (MONTE,
2013). Em sua própria argumentação
As diferenças de gênero no acesso a recursos, poder e autoridade afetam a
posição das mulheres na sociedade; por outro lado, o poder do gênero se
relaciona às maneiras, pouco comuns em RI, de pensar como nossas formas de
ver e interpretar o mundo estão delimitadas pelo gênero. Certas normas e
instituições são responsáveis pelas formas como somos socializados nas
hierarquias de gênero, como internalizamos pressupostos culturais e os
definimos como parte de nossas identidades. O controle social que garante essa
internalização é feito pela família, pelas leis, pelo mercado, pela coerção física
e, também, pela organização do sistema internacional. Estereótipos
naturalizam e justificam estruturas sociais hierarquizadas e são políticos [sic]
na medida em que significam a reprodução de relações de poder. Gênero é
importante não apenas porque define as relações de poder entre homens e
mulheres, mas porque também condiciona o nosso pensamento a funcionar a
partir de dicotomias hierarquizadas que legitimam formas múltiplas de
dominação em diversas esferas sociais. (MONTE, 2013, p. 70).
O protagonismo, as muitas possibilidades de abordagens, as transformações
político-sociais e a aproximação com conceitos e recortes de estudos mostram que os
feminismos o capazes de promover um encontro interessante e articulado com o
desenvolvimento teórico em Relações Internacionais. O surgimento das discussões sobre
gênero, e mais especificamente sobre as mulheres, ocasionou uma sequência cada vez
maior de estudos focados nas condições desses sujeitos na sociedade. Nas RI, com uma
mais eficiente abertura, passou-se a compreender a existência de multiplicidade de
feminismo com impactos próprios na cartela das bibliografias de Relações Internacionais
e na capacidade de repensar os aspectos teóricos, epistemológicos e convicções amarradas
nas bases liberais e realistas (NASCIMENTO, 2021). Nesse mesmo trabalho, havíamos
dado os aportes iniciais para amadurecimento da problemática envolvendo as TRI e as
abordagens feministas, pois
procura-se aqui perceber o nexo existente entre TRI e a teoria feminista em
sua amplitude, trilhando o rumo percorrido da segunda, haja vista que a partir
desse exercício identificamos elementos que levaram às transformações da
esfera teórica. (NASCIMENTO, 2021, p. 16).
Assim sendo, o presente artigo se movimenta no direcionamento de contemplar
quatro principais questões: no encontro teórico e de contribuições entre o feminismo e as
Teorias das Relações Internacionais; a interpretação acerca do momento (ou momentos)
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que as abordagens feministas chegaram nas RI; nas contribuições e diversificação teórico-
conceituais feministas (de pensar de mais “vertentes de feminismos” e de referências além
Cynthia Enloe e J. Ann Tickner); pensar as demandas e os novos capítulos da junção entre
TRI e feminismos.
A CHEGADA DAS ABORDAGENS FEMINISTAS NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Localizar os preceitos, os momentos de destaque em relação ao contexto vigente
de cada época e a inclusão do debate de gênero nos mais diversos campos do
conhecimento fornece pistas interessantes para se pensar o que o feminismo proporciona
às Relações Internacionais. O feminismo precisa e tem a capacidade de estar à altura dos
desafios da atualidade. Feminismo este caracterizado por articular eixos diferentes de
opressões. Ou seja, um feminismo instrumentalizado nas pautas anticoloniais,
anticapitalistas, antirracistas e internacionalistas (ARRUZZA; BHATTACHARYA;
FRASER, 2019).
O feminismo deve ser encabeçado nas tentativas de fornecer respostas e trazer
inquietações acerca dos entraves causados pelo sistema capitalista, dos, infelizmente,
cada vez mais recorrentes, desastres ecológicos, guerras desenfreadas e da desapropriação
e extermínio massivo de povos, migrações intensificadas enfrentadas com descaso, do
encorajamento constante de práticas racistas e xenofóbicas e da revogação e violação de
direitos sociais e políticos (ARRUZZA; BHATTACHARYA; FRASER, 2019, p. 41). O
feminismo que essas autoras aspiram é pautado nas lutas das
mulheres pobres e da classe trabalhadora, das mulheres racializadas e das
migrantes, das mulheres queer, das trans e das mulheres com deficiência, das
mulheres encorajadas a enxergar a si mesmas como integrantes da “classe
média” enquanto o capital as explora. E isto não é tudo. Esse feminismo não
se limita às “questões das mulheres” como tem sido tradicionalmente definido.
Defendendo todas as pessoas que são exploradas, dominadas e oprimidas, ele
tem o objetivo de se tornar uma fonte de esperança para a humanidade. É por
isso que o chamamos feminismo para os 99% (ARRUZZA;
BHATTACHARYA; FRASER, 2019, p. 41-42).
O chamado feminismo para os 99% emergiu e foi influenciado igualmente pelas
experiências práticas e reflexões teóricas. Em seus pilares estão a busca pela
transformação social e profunda e de longo alcance, em todos os cenários, inclusive no
internacional, haja vista que se trata de algo incondicionalmente internacionalista. Um
feminismo que se opõe à lógica da guerra e ao imperialismo (ARRUZZA;
BHATTACHARYA; FRASER, 2019). Ainda no que tange às interpretações e
reconstruções feministas, é possível evidenciar que a atenção inicial da teoria feminista
se concentrava em ampliar e reinterpretar as categorias cunhadas por diferentes discursos
teóricos. Esse esforço tinha o intuito de tornar visível e audível as atividades e as relações
sociais das mulheres analiticamente no campo das diversas tradições intelectuais e do
processo de teorização. Contudo, é importante que o feminismo tome cuidado ao se
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aproximar com a teoria crítica, o liberalismo, o estruturalismo etc, haja vista que, mesmo
com o esforço de tomar emprestado e dar uma nova roupagem para conceitos e categorias
dessas vertentes epistemológicas, pode acontecer de se assemelhar fortemente com as
intenções originais de seus adeptos e formuladores não feministas. Desse modo, as
feministas teóricas, inclusas as das Relações Internacionais, devem criticar a própria
teorização, que é em si mesma, patriarcal, e caminhar para a construção de uma teoria
feminista (ou teorias feministas) livre das deficiências patriarcais (HARDING, 2019).
Desde meados dos anos 1970, a Antropologia, História, Sociologia e a Ciência
Política conversam mais com as análises e os estudos feministas. Ao tratar das RI,
constata um “atraso” da validação da chegada das abordagens feministas. Essa escassez
expressava como a disciplina era ainda mais fechada. E isso não tem apenas a ver com
mais ou menos relevância da temática negligenciada, mas sim em como as Relações
Internacionais absorviam as teorias e o que era considerado escopo de estudo para a área
(HALLIDAY, 2007). Inicialmente as abordagens feministas nas RI identificaram a
presença feminina nas relações internacionais, fora das atividades de diplomatas, chefe
de Estados, ministros, uma vez que as mulheres não conseguiam ocupar esses cargos
predominantemente masculinos não por incompetência, mas por pela vigência de um
sistema patriarcal e sexista (PAIVA, 2014).
“Em função disso, uma questão essencial para a análise feminista nas RI é a
noção de que a política internacional não se dá apenas nos campos de batalha
ou em conversas entre chefes de Estado (a chamada “alta política”)” (PAIVA,
2014, p. 18).
A argumentação de Izadora Paiva (2014) é alicerçada nos escritos de Cynthia
Enloe (2014) que lançam questionamentos sobre “Onde estão as mulheres na política
internacional”. Atrizes, mulheres de diplomatas, secretárias, camareiras, viajantes,
trabalhadoras e mulheres que vivem perto de bases militares também são agentes pontes
da política internacional. E, para entender o sentido feminista da política internacional, é
necessário que os indivíduos exerçam uma curiosidade genuína sobre a vida de cada uma
dessas mulheres. Descobrir como o mundo funciona por intermédio das lentes de gênero
requer a observação da vivência de diversas mulheres em lugares que são geralmente são
emoldurados como "privados", "domésticos", "locais" ou "triviais". Com o passar do
tempo, as mulheres foram sacudidas a compreender melhor a política internacional e,
consequentemente, reivindicaram uma maior atuação teórico-prática nesses cenários
(ENLOE, 2014).
Na tentativa de arrematar a presença e o avanço das abordagens feministas nas
Relações Internacionais, retoma-se a exposição de Paiva (2014). A autora interpreta que
as feministas, concordando ou discordando, têm trabalhado de forma produtiva nas RI,
com muitos artigos, dossiês, palestras, aulas e livros sendo publicados. Com o corpo
teórico de feministas em crescimento e com respeitável dinamismo, é louvável constatar
um projeto feminista dedicado em denunciar o viés masculino e excludente das
abordagens tradicionais em TRI, bem como estabelecer orientações teóricas e empíricas
para a abordagem feminista. É válido mencionar que os feminismos não estão
“adicionando” superficialmente os debates e o conceito de gênero às RI. “Essas
dimensões estão lá; precisam ser reveladas, para que possam ser desconstruídas. A
resistência da disciplina não é, porém, total” (PAIVA, 2014, p. 60).
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O ENCONTRO COM AS TRI: PARA ALÉM DAS BASES INICIAIS E OS
GANHOS TEÓRICO-CONCEITUAIS
A emergência de novos conceitos e questões com maior força nacional e
internacionalmente fez com que fosse primordial a discussão sobre a inserção da
perspectiva de gênero nas mais diversas áreas e disciplinas das Relações Internacionais,
seja em Política Externa, Estratégia e Segurança, Economia Política Internacional,
Organizações Internacionais, e, inclusive, nas Teorias das Relações Internacionais. De
todo modo, o entendimento do gênero enquanto construção cultural da diferenciação
sexual envolve uma complexidade de variações vigentes nas sociedades, bem como o
entendimento sobre o conceito, uma vez que o gênero não diz respeito somente às
mulheres, mas também aos homens e à masculinidade. Este é um tópico a ser enfatizado
para que os estudiosos e estudiosas das Relações Internacionais entendam melhor por que
as feministas afirmam que a discussão é relevante para sua disciplina e por que acreditam
que a análise de gênero de seus pressupostos e conceitos básicos pode fornecer resultados
frutíferos (TICKNER, 1997). A teoria e o movimento feminista estão em constante
desenvolvimento, assim sendo, para um número incontável de feministas da
contemporaneidade, falar em feminismo é cada vez mais trabalhar com a pluralidade de
feminismos. Na apresentação do livro Lugar de Fala, e de outros livros que fazem parte
da coleção Feminismos Plurais, Djamila Ribeiro (2019) explica que o objetivo da coleção
é justamente o de trazer para o público questões cruciais referentes aos muitos
feminismos. A princípio, empenhou-se esforços em torno do feminismo negro, para
explicar os principais conceitos e romper com a concepção de que não se está explanando
sobre projetos, bem como de nomear as opressões de raça, classe e gênero sem
hierarquizá-las. De acordo com a autora , “pensar em feminismo negro é justamente
romper com a cisão criada numa sociedade desigual. Logo, é pensar projetos, novos
marcos civilizatórios, para que pensemos um novo modelo de sociedade” (RIBEIRO,
2019, p. 14).
Ainda no que diz respeito ao feminismo, este é ilustrado por mulheres que são
substancialmente articuladas em igualdade de gênero, estendida para os salários iguais
para funções iguais e até mesmo para divisão parelhada no trabalho doméstico
7
, e de
paternagem e maternagem de modo que, mesmo “o feminismo reformista se tornou o
caminho para a mobilidade de classes” (HOOKS, 2019, p. 22). O feminismo em si mesmo
trabalha com a concepção de que pode existir tantas versões de feminismo quanto fossem
as mulheres existentes. No entanto, para que esse feminismo não perca seu caráter e
posicionamento político, conscientiza-se que as feministas são formadas, não nascem
feministas. A escolha e a ação fazem com que uma pessoa venha a aderir políticas
feministas, bem como se em termos de posições políticas (HOOKS, 2019, p. 23-25).
Todavia, para algumas autoras, essa perspectiva, ainda que fundamental, também tem
seus limites, uma vez que as opressões de raça e gênero, por exemplo, não se resolvem
7
Para um maior aprofundamento, consultar Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva e
O Ponto Zero da Revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista, ambas obras da autora Silvia
Federici e o livro A Mulher na Sociedade de Classes: mito e realidade de Heleieth Saffioti.
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meramente com a mobilidade de classes. Destaque-se, nesse processo, ainda, as tentativas
constantes de discutir as condições de inserção da mulher no contexto sócio-político e
cultural.
Durante muito tempo o feminismo se concentrou na luta pelos direitos das
mulheres brancas de classe média, deixando de lado mulheres pobres e da classe
trabalhadora, expulsando também as mulheres negras, latinas e de outras minorias étnicas
do campo do discurso coberto pela categoria “mulher” e das pautas desse feminismo
bastante específico. Deste modo, é necessário inserir nas pautas atuais de gênero o debate
da interseccionalidade pautado como aspecto importante para a construção de
feminismos plurais e sensíveis a questões de raça, classe e idade, dentre outros aspectos
(DAVIS, 2018). No que se refere às pautas dos movimentos feministas, o feminismo vai
além da pauta de igualdade de gênero e, por isso, envolve muito mais do que somente o
gênero. Para Anegla Davis (2018), mas não somente para ela, por suposto, o feminismo
deve envolver a consciência em relação a uma série de elementos, inclusive no tocante
ao sistema opressor capitalista.
No campo das Relações Internacionais é notório, embora ainda tímido e gradativo,
o encontro entre as abordagens mais marginalizadas dentre as quais o feminismo e
as Teorias de Relações Internacionais mais influentes, usualmente chamadas de clássicas
(NASCIMENTO, 2021). Para situar possíveis leitoras e leitores de nosso texto, costuma-
se creditar que essa aproximação ocorreu em decorrência do intitulado “Terceiro Grande
Debate” (Positivismo x Pós-positivismo), das modificações nas camadas ontológicas e
epistemológicas pelas quais passaram as Relações Internacionais e das críticas às teorias
mais tradicionais e fechadas (MONTE, 2013). Para termos uma ideia de como se
desdobrou a questão, no ano de 1997, tornou-se famoso o debate de J. Ann Tickner com
Robert Keohane até então um dos principais expoentes da área tanto em termos
teóricos quanto institucionais, tendo ocupado, inclusive, a cadeira de presidente da
International Studies Association (ISA), provavelmente a principal associação da área de
RI. No tulo de um dos seus principais artigos dessa época, endereçado a Keohane, a
autora expõe o problema em termos categóricos: You just don´t understand. Conforme
Tickner (1997), raramente o feminismo e as teóricas feministas alcançavam certo
engajamento com outros estudiosos de RI, sobretudo por ser propagado que “seu material
é mais adequado para leitura de cabeceira do que para discussões acadêmicas sérias”
(TICKNER, 1997, p. 612, tradução nossa).
Como comentado anteriormente, no final da década de 1990, mostrava-se
necessário afirmar que as dimensões feminista e de gênero ainda estavam longe de ser
incorporadas devidamente como aspectos relevantes do “internacional” haja vista que,
para ele, o crescimento dos estudos sobre mulheres vinha sendo ignorado pelo campo
durante bastante tempo (HALLIDAY, 2007). Mais recentemente, o debate voltou ao
palco e muito se fala sobre a amplitude de feminismos com impactos distintos nas
Relações Internacionais. As epistemologias feministas trazem um avanço substancial
para o debate acadêmico de RI, conduzindo, sobretudo, o debate de nero para o palco
da análise das estruturas internacionais de poder. Estipula-se que as intervenções
feministas costumam cruzar um certo padrão em diferentes disciplinas, inclusive nas
Relações Internacionais. Em relação a esse molde, o início é fixado por pressupostos,
métodos e teorias aceitas como tradicionais pelo campo. Ademais, a produção de
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conhecimento feminista nas/das RI permite múltiplas combinações entre objeto,
problema de pesquisa, teoria, método e metodologia (VENTURA; KRITSCH, 2017). Em
vista disso, os feminismos carregam a potencialidade de produzir conhecimento e propor
desenhos de pesquisa variados para o campo. Ao sondar as diferenças entre as
perspectivas feministas, primeiro percebe-se que são muitas. Em segundo, os objetos, as
explicações e o tipo de conhecimento que é produzido por cada uma das vertentes não
necessariamente coincidem. Terceiro, os lugares que ocupam dentro das RI também não
são o mesmo, pois algumas posições são consideradas internas ao campo, enquanto outras
pretendem expandir os limites da disciplina, questionando as argumentações tradicionais
e o projeto mais amplo da produção de um conhecimento específico das RI (VENTURA;
KRITSCH, 2017). Diz que
notar e considerar toda essa variedade, no entanto, não nos impede de afirmar
que existe uma premissa partilhada pelas diferentes perspectivas apresentadas
até aqui. Os feminismos e suas agendas de pesquisa partem da necessidade de
se oferecer uma alternativa a um status quo em que as mulheres, suas histórias,
seus lugares de fala, seus pontos de vista, mas também o modo como as
relações de gênero são construídas e reproduzidas constituem um quadro
composto por formas de exclusão sistemáticas da mulher e do feminino das
atividades, do campo e da produção de conhecimento (VENTURA;
KRITSCH, 2017, p. 49).
ENTÃO, COMO AVANÇAR? O OLHAR PARA AS MAIS FRESCAS
DEMANDAS FEMINISTAS E DAS TEORIAS DE RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Ao cruzar os caminhos ontológicos e epistemológicos em Relações
Internacionais, as abordagens feministas são capazes de repensar e desafiar as “certezas”
disciplinares, especialmente no que toca às interpretações e os conceitos de política, poder
e segurança pelos quais os autores e as teorias tradicionais, tais como o realismo e o
liberalismo, projetam-se como fontes mais que suficientes. Para mais, essas novas
nuances na produção de conhecimento, possibilitam uma maior atenção para conceitos
preteridos pelas RI, mas que podem ser vinculados ao internacional (SOUZA, 2014;
NASCIMENTO, 2021).
Neste ensejo, reitera-se que as RI desenvolveram demasiadamente pesquisas
centradas nas causas das guerras, dos conflitos internacionais, das funções e relações entre
os Estados e nas condições da paz. Mas com os avanços teóricos, em especial após duas
Grandes Guerras Mundiais, a disciplina passou a se antenar para novos temas e
produções. A autora acrescenta que os esforços empregados pelas feministas que
faziam parte das Relações Internacionais possibilitaram a inserção do debate de gênero
para as RI no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 (MENDES, 2021).
As pesquisas feministas buscaram propor uma investigação das Relações
Internacionais sob a ótica das questões de gênero e trataram de repensar as
bases epistemológicas e ontológicas das RI. Em conjunto com os Estudos
Queer e outras correntes teóricas, as feministas promoveram debates e críticas
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elaboradas na disciplina e trouxeram à tona práticas políticas que sexualizam
corpos, desejos, atos e identidades dos indivíduos, muitas vezes esquecidas
pela disciplina (MENDES, 2021, p. 11).
As pesquisas feministas e de gênero trouxeram desafios frescos e apetrechos para
refinar a assimilação acerca da formação dos indivíduos femininos na centralidade na
dinâmica internacional. Os textos feministas precursores, validados dentro das RI são
Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Relations de
Cynthia Enloe, originalmente publicado em 1989 e revisado em 2014, e anos depois, em
1992, o livro de Ann Tickner, intitulado Gender in International Relations: Feminist
Perspectives on Achieving Global Security (MENDES, 2021). No entanto, apesar de
expor que o encontro dos estudos feministas com as RI possibilitou potentes contribuições
para esta última nas décadas finais do Século XXI
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, o mesmo gera inquietações sobre
quais modos desfrutar de autoras fora “do feminismo mainstream das Relações
Internacionais”. Ao fazer isso, marcha-se em direção de um mapeamento bibliográfico
para além do feminismo branco das RI e da mescla entre diferentes áreas do
conhecimento. Não à toa, em seu Trabalho de Conclusão de Curso, a internacionalista
mergulha no feminismo islâmico (COSTA, 2021).
E, portanto, no extenso exercício de lançar questionamentos acerca da teorização
nas RI, há o questionamento de como a teoria e os debates que permeiam o feminismo se
localizaram nesta ciência. É também plausível reconhecer que de fato mais de um
feminismo no geral e no nosso campo, tais como; feminismo interseccional, feminismo
negro, feminismo liberal, feminismo pós-colonial, feminismo pós-estruturalista, etc.
Assim como visualiza-se quais autoras feministas brasileiras, latino-americanas e do Sul
Global precisam ganhar mais destaque nas RI e nas TRI, e se aprofundar e reexaminar
como se mantém (ou não) os trabalhos de Cynthia Enloe e J. Ann Tickner
(NASCIMENTO, 2021).
Concorda-se que caminhos foram abertos através do “Terceiro Debate”
(Positivismo x Pós-positivismo) em Teorias das Relações Internacionais e que houve uma
identificação no nível de predominância dos estudos feministas. Por exemplo, acreditava-
se que a inclusão das mulheres no nosso campo de estudos acontecia antes disso, mas
de maneira encoberta. A conexão entre feminismo e Relações Internacionais se tornou
mais acentuada, de fato, com a emergência do Terceiro Debate. Foi em detrimento deste
que os desafios e críticas aos postulados mais tradicionais se acentuaram (TICKNER,
2001). É louvável complementar que com o surgimento dessa fronteira de debate refletiu
nas disputas entre os/as positivistas e os/as pós-positivistas (MONTE, 2013).
Então, existe a problematização justamente se: “O Feminismo encontra as
Relações Internacionais no “Terceiro Grande Debate”?”; “O Feminismo encontra as
Relações Internacionais apenas no Reflexivismo ou no Pós-Positivismo, juntamente com
o Construtivismo?” e “O Feminismo encontra as Relações Internacionais apenas com
Cynthia Enloe e Ann Tickner, na década de 1990?”. Como historiadora, ela faz um resgate
histórico dos encontros, desencontros e reencontros da teoria feminista tanto com as
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Mariana Costa (2021) aponta a identificação do gênero como categoria analítica e a manifestação das
epistemológicas feministas como alternativa às abordagens tradicionais em RI como dois aspectos
notáveis das contribuições feministas.
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Relações Internacionais quanto com as relações internacionais, e na leitura aqui
apresentada, consequentemente, com as TRI. Destarte, lança um olhar para o fato de que
as RI e o feminismo têm um diálogo maior e possível do que esses que têm sido lidos de
uma forma mainstream pelos teóricos da disciplina. No contexto da Revolução
Francesa/Iluminismo (final do Século XVIII), com a Mary Wollstonecraft, da Revolução
Industrial (Século XIX e início do Século XX), com a Rosa Luxemburgo e da Revolução
Cultural (a partir da década de 1950), com a Simone de Beauvoir. em um contexto
mais contemporâneo, a partir da década de 1970 até a atualidade: Angela Davis
(Mulheres, Raça e Classe); Lélia Gonzalez (Afro-latino-américa); Heleieth Saffioti
(Exploração e Dominação); Raewyn Connell (Masculinidades Globais); Maria Lugones
(Colonialidade de gênero); Kimberlè Crenshaw (Interseccionalidade) e Patricia Hill
Collins (Interseccionalidade). Ou seja, ainda que a recepção do Feminismo tenha ocorrido
com o Terceiro Debate, não se resume a estar concentrado nesse momento (GOMES,
2021).
Para não estagnar em termos de nomes e repertórios teóricos e muito menos
reproduzir a roupagem dos debates, similar e continuamente se faz relevante mencionar
feminismos e autoras fundamentais para as RI e as TRI. Dialoguemos mais o com
feminismo negro, o feminismo indígena, o ecofeminismo, o feminismo islâmico, o
feminismo latino-americano, o feminismo sul-coreano. Dialoguemos mais com as
pesquisadoras e feministas brasileiras e latino-americanas: Enndiel dos Santos Mendes,
Izadora Xavier do Monte. Karoline Soares Chaves, Mariana de Medeiros Costa, Larissa
dos Santos Lemos, Luísa Maria Ramos da Costa, Raquel Santos Fontes, Fernanda
Cardoso Fonseca, Blenda Santos de Jesus, Kelly Komatsu Agopyan, Rebeca Cavalcanti
de Carvalho, Rafaela Santos Andrade, Sabrina da Costa Chiuza, entre tantas outras, que
têm movido esforços para se pensar novas possibilidades e abordagens frente aos desafios
postos ao campo das RI e das TRI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o que foi exposto, é legítimo sustentar que as abordagens
feministas fazem parte das Relações Internacionais e das Teorias das Relações
Internacionais. Mais importante do que somente discutir o momento exato que esse
encontro acontece é explorar e proliferar os ganhos teórico-práticos desse envolvimento
dinâmico. Inegavelmente, o feminismo, seja no geral ou na nossa arena, precisa olhar
melhor para a sua diversidade e para as demandas específicas, para assim ir ainda mais
além da visão de um feminismo excludente branco, classista, ocidental, estadunidense e
eurocêntrico.
Epistemológica e ontologicamente, os feminismos mobilizam as ferramentas
teóricas das Relações Internacionais. Seja por repensar o corpo teórico, por ampliar as
ferramentas analíticas e conceituais das relações internacionais, por potencializar as
agendas de pesquisa, eventos, produções, publicações e planos de ensino em TRI, dando
um enfoque maior nas questões de gênero, por questionar as novas demandas da
teorização dentro do próprio movimento feministas, nas RI e por explorar as divergências
e concordâncias das dimensões feministas.
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O nexo existente entre TRI e as perspectivas feministas contribuem para o
desenvolvimento e o encadeamento das transformações da esfera teórica. A intensificação
das dimensões feministas no plano internacional as aproximam das Relações
Internacionais e aperfeiçoam o lugar que o feminismo ocupa. Os feminismos são
potências que desapontam para a abrangência do conhecimento científico, formas e
aquisições, e da natureza/existência central das Relações Internacionais”
(NASCIMENTO, 2021, p. 16).
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Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, Dourados, v. 6, n. 11, p.24-57,
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Recebido em 17 de fevereiro de 2023
Aceito em 24 de fevereiro de 2023
Editado em fevereiro de 2023