SEÇÃO RESENHA
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p157-160
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
n.11
p. 157-160
Dez/2022
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SEMERARO, Giovanni. Intelectuais, Educação e Escola: Um estudo do
Caderno 12 de Antonio Gramsci. 1 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2021.
Barbara White
1
Hebert Abreu
2
O livro Intelectuais, Educação e Escola: Um estudo do Caderno 12 de Antonio
Gramscié a obra mais recente de Giovanni Semeraro sobre os escritos do filósofo sardo.
Sem perder a organicidade com as contradições da realidade concreta e com as questões
que se desdobram na atualidade característica inerente às obras de Semeraro o livro
garante inovação para a literatura gramsciana.
A análise do Caderno 12 está articulada com a obra de Antonio Gramsci em sua
totalidade desvelando o tema central “os intelectuais, a educação e a escola” através de
um estudo ampliado, denso, com rigor científico, que não se limita a uma análise restrita
e isolada do Caderno 12. É um estudo filológico, histórico, consistente, que analisa os
conceitos e categorias articulados tanto aos escritos pré-carcerários, quanto às
correspondências e escritos de Gramsci durante o período em que esteve no cárcere, ou
seja, uma obra que a todo momento reafirma a potência das pesquisas de Semeraro sobre
o autor da Sardenha.
O livro resgata o método gramsciano de estudo, buscando ampliar os conceitos de
forma sucessiva, através de abordagens de diversas categorias que se interligam numa
perspectiva histórica, política, filosófica, econômica e cultural. Semeraro apresenta uma
visão orgânica da construção do pensamento de Antonio Gramsci, de sua elaboração
teórica, que vai muito além de uma simples cronologia de seus escritos. Traz para a
berlinda as críticas de Gramsci às teorias pedagógicas de seu tempo, a inovação e a
atualidade de suas propostas educacionais consideradas revolucionárias. Vale destacar a
originalidade da interpretação do pensamento de Gramsci por Semeraro, que articula a
função do intelectual, da educação e da escola, de modo inseparável, da dupla tarefa na
formação do ser humano: “o trabalho científico-técnico e a atuação política”. Ou seja, a
utopia revolucionária de Gramsci de garantir “o novo princípio educativo: tornar-se
dirigente”.
1
Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Pesquisadora do cleo de Filosofia,
Política e Educação (NuFIPE/UFF). Pedagoga Orientadora Educacional no Município de Maricá/RJ.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5464-0279 E-mail: barbarawhite3@yahoo.com.br
2
Mestrando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Pesquisador do Núcleo de
Filosofia, Política e Educação (NuFIPE/UFF). Técnico em Assuntos Educacionais na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2517-8652 E-mail: hebertabreu@id.uff.br
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Os dois primeiros capítulos do livro apresentam a gênese, a composição e a
estrutura de elaboração do Caderno 12, trazendo um estudo denso e preciso sobre os
escritos “que tratam da complexa e estratégica função dos intelectuais na sociedade e dos
critérios para delinear uma nova concepção de escola e educação”. Nestas primeiras
seções está contido um rico estudo filológico, que se propõe a apresentar o percurso de
elaboração do conteúdo das três notas que compõem o Caderno 12. Apresentam as fases
de elaboração, de evolução do pensamento do autor sardo até a organização de um tema
específico, tendo como destaque referências específicas às Cartas do cárcere,
enriquecendo a pesquisa de modo singular.
Os escritos pré-carcerários são tratados como “sementes” que apontam o percurso
histórico, a realidade concreta do autor sardo, que desde a juventude, dedicava-se a
escrever sobre a questão dos intelectuais e sua função no processo de “formação cultural
e educação política dos operários e das classes proletárias”. Semeraro resgata a força do
projeto “nacional-popular” de Antonio Gramsci, ao conectar, organicamente, os escritos
do filósofo sardo com seu próprio percurso de vida e concepção de mundo.
O capítulo três, “Temas principais organicamente articulados”, apresenta a
concepção de Gramsci sobre os ‘intelectuais orgânicos’, ‘escola unitária’ e ‘educação
integral’, conceitos que formam “as vértebras que constituem a espinha dorsal do Caderno
12 e articulam o seu conjunto”. Revela como Gramsci se aprofundou no tema dos
intelectuais, dedicando considerável tempo de pesquisa durante o cárcere, em referências
bibliográficas nacionais e internacionais. Esse mergulho se justificava pela necessidade
de compreender “como é organizada de fato a estrutura ideológica de uma classe
dominante”.
No tópico reservado ao tema da escola unitária, Semeraro inicia dizendo que
“Gramsci articula a configuração de intelectual orgânico com o desenho da escola
unitária”. Semeraro delineia a ampliação das ideias de Gramsci sobre a escola,
demonstrando que este, “embora reconheça as contribuições da ‘escola ativa’ no combate
à ‘escola mecânica e jesuítica’, não deposita nenhuma expectativa, para a criação de ‘uma
nova civilização’, nos modelos de escola vigentes. Para ele, a escola tradicional e a escola
ativa “não dão conta das transformações que ocorrem no mundo moderno, são incapazes
de acompanhar as transformações da realidade e de responder às reivindicações
crescentes do protagonismo das massas”.
Reconhecendo “que o Caderno 12 está estruturado como um sistema de círculos
concêntricos interconectados ao longo dos quais questões abordadas nos parágrafos
anteriores são ampliadas e aprofundadas”, Semeraro, ao tratar especificamente da
‘educação integral’, enfatiza que “a educação é abordada por Gramsci de forma integral,
em conexão dialética com a natureza, o mundo do trabalho, a história, a cultura, a política,
a concepção ‘integral’ de Estado e os complexos e entrelaçados problemas da sociedade
nacional e internacional”.
Semeraro finaliza o capítulo apresentando as características da “educação
integral”, que de acordo com Gramsci, qualifica “para o trabalho e é delineada por este,
precisando estar fundamentada sobre uma ampla formação intelectual, pública,
democrática e política, de modo que ‘todo cidadão’ [...] possa também aprender a tornar-
se ‘governante’ de si mesmo e da própria sociedade”. Esta perspectiva de educação se