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Os dois primeiros capítulos do livro apresentam a gênese, a composição e a
estrutura de elaboração do Caderno 12, trazendo um estudo denso e preciso sobre os
escritos “que tratam da complexa e estratégica função dos intelectuais na sociedade e dos
critérios para delinear uma nova concepção de escola e educação”. Nestas primeiras
seções está contido um rico estudo filológico, que se propõe a apresentar o percurso de
elaboração do conteúdo das três notas que compõem o Caderno 12. Apresentam as fases
de elaboração, de evolução do pensamento do autor sardo até a organização de um tema
específico, tendo como destaque referências específicas às Cartas do cárcere,
enriquecendo a pesquisa de modo singular.
Os escritos pré-carcerários são tratados como “sementes” que apontam o percurso
histórico, a realidade concreta do autor sardo, que desde a juventude, dedicava-se a
escrever sobre a questão dos intelectuais e sua função no processo de “formação cultural
e educação política dos operários e das classes proletárias”. Semeraro resgata a força do
projeto “nacional-popular” de Antonio Gramsci, ao conectar, organicamente, os escritos
do filósofo sardo com seu próprio percurso de vida e concepção de mundo.
O capítulo três, “Temas principais organicamente articulados”, apresenta a
concepção de Gramsci sobre os ‘intelectuais orgânicos’, ‘escola unitária’ e ‘educação
integral’, conceitos que formam “as vértebras que constituem a espinha dorsal do Caderno
12 e articulam o seu conjunto”. Revela como Gramsci se aprofundou no tema dos
intelectuais, dedicando considerável tempo de pesquisa durante o cárcere, em referências
bibliográficas nacionais e internacionais. Esse mergulho se justificava pela necessidade
de compreender “como é organizada de fato a estrutura ideológica de uma classe
dominante”.
No tópico reservado ao tema da escola unitária, Semeraro inicia dizendo que
“Gramsci articula a configuração de intelectual orgânico com o desenho da escola
unitária”. Semeraro delineia a ampliação das ideias de Gramsci sobre a escola,
demonstrando que este, “embora reconheça as contribuições da ‘escola ativa’ no combate
à ‘escola mecânica e jesuítica’, não deposita nenhuma expectativa, para a criação de ‘uma
nova civilização’, nos modelos de escola vigentes. Para ele, a escola tradicional e a escola
ativa “não dão conta das transformações que ocorrem no mundo moderno, são incapazes
de acompanhar as transformações da realidade e de responder às reivindicações
crescentes do protagonismo das massas”.
Reconhecendo “que o Caderno 12 está estruturado como um sistema de círculos
concêntricos interconectados ao longo dos quais questões abordadas nos parágrafos
anteriores são ampliadas e aprofundadas”, Semeraro, ao tratar especificamente da
‘educação integral’, enfatiza que “a educação é abordada por Gramsci de forma integral,
em conexão dialética com a natureza, o mundo do trabalho, a história, a cultura, a política,
a concepção ‘integral’ de Estado e os complexos e entrelaçados problemas da sociedade
nacional e internacional”.
Semeraro finaliza o capítulo apresentando as características da “educação
integral”, que de acordo com Gramsci, qualifica “para o trabalho e é delineada por este,
precisando estar fundamentada sobre uma ampla formação intelectual, pública,
democrática e política, de modo que ‘todo cidadão’ [...] possa também aprender a tornar-
se ‘governante’ de si mesmo e da própria sociedade”. Esta perspectiva de educação se