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Trabalhadores (PT) como principal partido de massas do Brasil após a redemocratização.
O exame desse processo com os instrumentos teóricos de Gramsci conduzirá às sugestões
finais deste trabalho, que incluem a ideia de que o PT perdeu o elemento intermediário
que unificaria direção e base de massas durante seu movimento de institucionalização e
do predomínio de estratégias eleitorais.
1 - PARTIDO E INTELECTUAIS
Ao afirmar que um governo deve existir com o consenso dos governados, mas um
consenso organizado, não “genérico e vago”, Gramsci lembra que o Estado possui e
requer o consenso, mas também “educa esse consenso” (GRAMSCI, 2001, p. 56). A
função de um partido de massas, analogamente, não seria educar determinado consenso
nos grupos subalternos? Se este é o caso, a ação intelectual de suas frações organizadas é
estratégica para qualquer partido revolucionário.
No parágrafo 25 do Caderno 11 dos Quaderni del carcere (GRAMSCI, 2001, p. 1430), a
observação sobre a necessidade de o partido aderir aos aspectos mais íntimos,
“econômico-produtivos”, da própria massa, guarda, obviamente, relação com a cotidiana
reprodução material de vida das classes trabalhadoras. É o “sentir” que deve vir,
necessariamente, acompanhado do “saber”, ou seja, a fração dos grupos subalternos
organizada no partido, aqueles que se tornam intelectuais pela ação organizativa da classe,
bem como seus intelectuais de profissão, devem se manter organicamente vinculados à
vida dos subalternos.
Aqui é oportuno lembrar qual é a ideia de partido político nos Quaderni, ainda que em
traços breves e parciais. De um quadro que é, principalmente, histórico político, Gramsci
formula uma teoria do partido como etapa essencial do processo mais geral de “relações
de força” (FILIPPINI, 2009, p. 618). Na análise dos diferentes níveis de relações de força
em determinada formação social, o partido político é o momento em que se agregam as
forças sociais que ultrapassam a compreensão meramente corporativa e econômica de
seus interesses, alcançando a necessidade de elaborar uma própria concepção de mundo:
I) uma relação de forças sociais estreitamente ligada à estrutura, objetiva,
independente da vontade dos homens, que pode ser medida com os recursos
das ciências exatas ou físicas (...). II) um momento sucessivo que é a relação
de forças políticas, ou seja, a avaliação do grau de homogeneidade, de
autoconsciência e de organização alcançado pelos vários grupos sociais (...).
III) O terceiro momento é aquele da relação de forças militares, imediatamente
decisivo em cada caso (o desenvolvimento histórico oscila continuamente
entre o primeiro e o terceiro momento, com a mediação do segundo) (...)
(GRAMSCI, 2001, p.1583-1586).
A formação de um partido de classe ocorre em algum lugar naquele segundo momento e
avança para relações de força decisivas no terceiro momento, que atinge o nível de embate
político-militar. Em outra passagem, Gramsci apresenta, mais uma vez, o “estágio” da