SEÇÃO DOSSIÊ
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p84-103
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
n.11
p. 84-103
Dez/2022
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INTELECTUAIS, MODERNO PRÍNCIPE E O PARTIDO DOS
TRABALHADORES
INTELLECTUALS, MODERN PRINCE AND THE WORKERS' PARTY
INTELECTUALES, PRÍNCIPE MODERNO Y EL PARTIDO DE LOS TRABAJADORES
Leandro Galastri
RESUMO
O artigo em questão procura apresentar algumas importantes categorias de Gramsci na discussão sobre a
relação entre o partido de massas e os intelectuais, o desenvolvimento do conceito de moderno príncipe e
sua relação, por exemplo, com a ideia de revolução passiva. Na sequência, traça um panorama do
desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores como o principal partido popular no Brasil, analisando sua
evolução pelo prisma gramsciano. Por fim, são formuladas algumas sugestões críticas a respeito da
progressiva lógica eleitoral que passou a predominar no PT e o enfraquecimento das estratégias de
vinculação aos movimentos populares de massa.
Palavras-chave: Gramsci, Intelectuais, moderno Príncipe, Partido dos Trabalhadores.
ABSTRACT
The article in question seeks to present some important categories of Gramsci in the discussion about the
relationship between the mass party and the intellectuals, the development of the concept of the modern
prince and its relationship, for example, with the idea of passive revolution. It then traces an overview of
the development of the Workers' Party as the main popular party in Brazil, analyzing its evolution through
the Gramscian prism. Finally, some critical suggestions are made regarding the progressive electoral logic
that came to predominate in the PT and the weakening of the strategies of attachment to popular mass
movements.
Keywords: Gramsci, Intellectuals, Modern Prince, Workers' Party.
RESUMÉN
El artículo en cuestión busca presentar algunas categorías importantes de Gramsci en la discusión sobre la
relación entre el partido de masas y los intelectuales, el desarrollo del concepto del príncipe moderno y su
relación, por ejemplo, con la idea de revolución pasiva. Luego traza un panorama del desarrollo del Partido
de los Trabajadores como principal partido popular en Brasil, analizando su evolución a través del prisma
gramsciano. Finalmente, se hacen algunas sugerencias críticas respecto de la gica electoral progresiva
que llegó a predominar en el PT y el debilitamiento de las estrategias de vinculación a los movimientos
populares de masas.
Palabras clave: Gramsci, intelectuales, Príncipe moderno, Partido de los Trabajadores.
INTROITO
Este texto está dividido em duas partes principais. A primeira trata de elementos teóricos
sobre o tema dos intelectuais e do partido político no pensamento de Gramsci. A segunda
descreve, em traços panorâmicos, as origens e o processo de consolidação do Partido dos
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Trabalhadores (PT) como principal partido de massas do Brasil após a redemocratização.
O exame desse processo com os instrumentos teóricos de Gramsci conduzirá às sugestões
finais deste trabalho, que incluem a ideia de que o PT perdeu o elemento intermediário
que unificaria direção e base de massas durante seu movimento de institucionalização e
do predomínio de estratégias eleitorais.
1 - PARTIDO E INTELECTUAIS
Ao afirmar que um governo deve existir com o consenso dos governados, mas um
consenso organizado, não “gerico e vago”, Gramsci lembra que o Estado possui e
requer o consenso, mas também “educa esse consenso” (GRAMSCI, 2001, p. 56). A
função de um partido de massas, analogamente, não seria educar determinado consenso
nos grupos subalternos? Se este é o caso, a ação intelectual de suas frações organizadas é
estratégica para qualquer partido revolucionário.
No parágrafo 25 do Caderno 11 dos Quaderni del carcere (GRAMSCI, 2001, p. 1430), a
observação sobre a necessidade de o partido aderir aos aspectos mais íntimos,
“econômico-produtivos”, da própria massa, guarda, obviamente, relação com a cotidiana
reprodução material de vida das classes trabalhadoras. É o “sentir” que deve vir,
necessariamente, acompanhado do “saber”, ou seja, a fração dos grupos subalternos
organizada no partido, aqueles que se tornam intelectuais pela ação organizativa da classe,
bem como seus intelectuais de profissão, devem se manter organicamente vinculados à
vida dos subalternos.
Aqui é oportuno lembrar qual é a ideia de partido político nos Quaderni, ainda que em
traços breves e parciais. De um quadro que é, principalmente, histórico político, Gramsci
formula uma teoria do partido como etapa essencial do processo mais geral de “relações
de força” (FILIPPINI, 2009, p. 618). Na análise dos diferentes níveis de relações de força
em determinada formação social, o partido político é o momento em que se agregam as
forças sociais que ultrapassam a compreensão meramente corporativa e econômica de
seus interesses, alcançando a necessidade de elaborar uma própria concepção de mundo:
I) uma relação de forças sociais estreitamente ligada à estrutura, objetiva,
independente da vontade dos homens, que pode ser medida com os recursos
das ciências exatas ou físicas (...). II) um momento sucessivo que é a relação
de forças políticas, ou seja, a avaliação do grau de homogeneidade, de
autoconsciência e de organização alcançado pelos vários grupos sociais (...).
III) O terceiro momento é aquele da relação de forças militares, imediatamente
decisivo em cada caso (o desenvolvimento histórico oscila continuamente
entre o primeiro e o terceiro momento, com a mediação do segundo) (...)
(GRAMSCI, 2001, p.1583-1586).
A formação de um partido de classe ocorre em algum lugar naquele segundo momento e
avança para relações de força decisivas no terceiro momento, que atinge o nível de embate
político-militar. Em outra passagem, Gramsci apresenta, mais uma vez, o “estágio” da