SEÇÃO DOSSIÊ
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p74-83
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
n.11
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Dez/2022
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GRAMSCI, OS INTELECTUAIS NA GEOGRAFIA POLÍTICO-
PARTIDÁRIA E A CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
GRAMSCI, INTELECTUALES EN LA GEOGRAFÍA POLÍTICO-
PARTIDISTA Y LA CIVILIZACIÓN BRASILEÑA
Ricardo José de Azevedo Marinho
1
Vagner Gomes de Souza
2
Pablo De Las Torres Spinelli Fonseca
3
RESUMO
O artigo aborda, partindo do aporte de Gramsci (1891-1937), a situação atual dos intelectuais na geografia
político-partidária na civilização brasileira estabelecendo algumas distinções. Do continuum proposto por
Norberto Bobbio (1909-2004), que vai da extrema direita à extrema esquerda, distinguem-se as esquerdas
e seus intelectuais nas suas inúmeras matizes como neojacobina, reformadora e radical. Aponta-se que
mesmo quando as fronteiras entre elas nem sempre são claras, eles têm visões muito diferentes sobre
questões fundamentais relacionadas ao valor da democracia e as liberdades individuais. Além de investigar
as razões do surgimento dos diferentes tipos de esquerda e seus intelectuais as diferenças entre cada
experiência, finalmente aprofundamos os traços fundamentais da perspectiva reformadora, aquela que se
define por aspirar a alcançar sociedades mais sustentáveis, onde a liberdade fala em nome da igualdade e
igualdade fala em nome da liberdade.
PALAVRAS-CHAVE: Americanismo, esquerda, igualdade, liberdade, república, democracia.
RESUMEN
El artículo discute, a partir de la contribución de Gramsci, la situación actual de los intelectuales de la
geografía político-partidista en la civilización brasileña, estableciendo algunas distinciones. Del continuum
propuesto por Norberto Bobbio, que va de la extrema derecha a la extrema izquierda, la izquierda y sus
intelectuales pueden distinguirse en sus innumerables matices, como neojacobina, reformadora y radical.
Se señala que aun cuando los límites entre ellos no siempre son claros, tienen puntos de vista muy diferentes
1
Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE. Pós-Doutor pelo Programa
de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). Doutor em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ). E-mail: ricardo.marinho@cedae.com.br
2
Professor das Secretarias Estadual e Municipal do Rio de Janeiro - SME Rio de Janeiro e SEEDUC
Rio de Janeiro. Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de s-Graduação de Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ). Editor do BLOG VOTO POSITIVO. E-mail: vgsouza@bol.com.br
3
Professor do Colégio Inovar Veiga de Almeida - Rio de Janeiro. Mestre em Ciências Sociais pelo
Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA)
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E-mail: pscpda@yahoo.com.br
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https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p74-83
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sobre cuestiones fundamentales relacionadas con el valor de la democracia y las libertades individuales.
Además de investigar las razones del surgimiento de diferentes tipos de izquierda y sus intelectuales, las
diferencias entre cada experiencia, finalmente profundizamos en los rasgos fundamentales de la perspectiva
reformadora, aquella que se define por aspirar a lograr sociedades más sostenibles, donde la libertad habla
en nombre de la igualdad, y la igualdad habla en nombre de la libertad.
PALABRAS CLAVE: Americanismo, izquierda, igualdad, libertad, república, democracia.
INTRODUÇÃO
É conveniente esclarecer logo no início destas linhas ensaísticas que as distinções
que trataremos aqui não se referem a diferenças semânticas dos conceitos indicados nesse
extenso título que obviamente existem, mas aceitando o uso próximo as sinonímias que
adquiriram no debate público e procuraremos analisar as realidades que eles, no seu
conjunto, pretendem abranger.
Afirmamos que os conceitos muitas das vezes não revelam as coisas que estão
cobertas e que podem ser muito diferentes, e essas diferenças às vezes também são
contraditórias e mesmo parcialmente opostas.
Quando olhamos com Gramsci (Partido Socialista Italiano - PSI depois Partido
Comunista Italiano - PCI, pelo qual foi deputado no Reino de Itália de 1924-1926) os
intelectuais na geografia político-partidária da civilização brasileira não podemos deixar
de dizer que houve época em que se escrevia sobre o Brasil e os que o faziam eram a
intelligentsia que sempre teve compromissos expressos na vida pública como Jorge
Amado (1912-2001) no Partido Comunista Brasileiro - PCB (constituinte e deputado
federal na legislatura de 1946-1948), Nestor Duarte (1902-1970) na Esquerda
Democrática (constituinte e deputado federal na legislatura de 1946-1947), Gilberto
Freyre (1900-1987) na Esquerda Democrática (constituinte e deputado federal na
legislatura de 1946-1950), Caio Prado Jr. (1907-1990) no Partido Democrático (PD) e
depois no PCB (constituinte e deputado do Estado de São Paulo de 1947-1948) e Sérgio
Buarque de Holanda (1902-1982) no Partido Socialista Brasileiro (PSB) e depois Partido
dos Trabalhadores (PT).
Começaremos analisando alguns pontos de vista teóricos que nos permitem
primeiro distinguir as geografias político-partidárias da esquerda, centro-esquerda e
outras formas progressistas em relação com aquelas que dizem respeito à direita, bem
como a centro-direita e o conservadorismo.
SEM TEORIA CIVILIZATÓRIA BRASILEIRA, NÃO PODE HAVER
MOVIMENTO CIVILIZATÓRIO BRASILEIRO
Sartori nos diz que a esquerda é a política que tem à ética como referência e rejeita
a injustiça. A esquerda está marcada pelo altruísmo e a direita pelo egoísmo. Embora ele
aponte que devido à heterogênese dos fins, nos termos de Hegel, o egoísmo pode
subitamente favorecer o bem comum e o altruísmo (com a melhor das intenções) causar
danos gerais. Aponta, além disso, por causa de seu fundamento altruísta, que a esquerda
tem uma demanda maior pela ética e menos perdão à corrupção quando no poder (Sartori,
2021).