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independente do autor e pode ser interpretado de acordo com as circunstâncias. Ao fazer
a releitura do passado a partir da Revolução Francesa, ponto de referência para pensar a
modernidade, Gramsci se afasta do hegelianismo de Croce e de sua leitura especulativa
de Marx para afirmar a identidade entre economia, política e história, acentuando os
desdobramentos desta relação no contexto da realidade italiana. O embate travado em
forma de monologo pelo encarcerado insere-se em uma tentativa de identificar os
conflitos que, explicitados no campo intelectual, permitiriam esclarecer as relações
ocorridas na realidade efetiva. A história sempre reinterpretada para a compreensão dos
limites das forças em luta no presente: este o significado de retomar o processo de
inserção do pensamento de Gramsci no Brasil.
Outra questão importante a salientar é sobre o conceito de educação, entendida
aqui em seu sentido amplo, de formação que ocorre ao longo da vida como construção da
subjetividade e da concepção de mundo a partir da inserção social de cada um. Recebemos
em nosso processo educativo costumes e preconceitos que trazem a marca do passado e
que, de certo modo, condicionam o presente no conjunto das relações sociais.
A história da recepção de Gramsci no Brasil pode ser lida num recorte temporal
que já se estende por noventa anos e que alguns autores já tentaram explicitar, mas pode
ser sempre retomada. Pretendemos fazer aqui o relato de um encontro memorável que
serviu para esclarecer as duas margens entre as quais navegamos e em relação às quais
temos que definir o caminho futuro. Este encontro ocorreu em 1999, em São Luiz do
Maranhão, num evento promovido pelo Curso de Serviço Social da Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e que se intitulava “Jornada sobre Gramsci”. A singularidade deste
Evento, que reuniu na ocasião em torno de 150 participantes, é que teve como convidados
Carlos Nelson Coutinho, Edmundo Fernandes Dias e Domenico Losurdo, evidenciando
as diferenças de leitura e as possibilidades de interpretação do pensamento gramsciano e
delimitando fronteiras e percursos possíveis.
Domenico Losurdo foi um historiador e pesquisador com reconhecimento
internacional que, a partir do seu espírito revolucionário e sua ação intelectual fecunda,
inspirou movimentos sociais e infundiu uma força de resistência na juventude acadêmica
brasileira a partir de suas inúmeras participações em debates promovidos na Unicamp e