SEÇÃO DOSSIÊ
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p06-21
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
n.11
p. 06-21
Dez/2022
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GRAMSCI NO BRASIL: NOTAS SOBRE UM ENCONTRO MEMORÁVEL NA
SENDA DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E POLÍTICA
Anita Helena Schlesener
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RESUMO:
O presente artigo traz um recorte da história da recepção do pensamento de Gramsci no Brasil a partir de
um encontro promovido pelo Curso de Serviço Social da UFMA e que possibilitou um debate político
importante. Retomamos alguns aspectos deste debate para compreender a relação entre política e educação
mostrando as possibilidades de leitura que o texto fragmentário de Gramsci possibilita. O artigo visa a
mostrar que os escritos de Gramsci podem ser lidos de perspectivas diferentes a fim de interpretar o
movimento do real, o que acentua a riqueza de seus escritos.
PALAVRAS-CHAVE: Política, Educação, Antonio Gramsci.
ABSTRACT:
This article brings a clipping of the history of the reception of Gramsci's thought in Brazil from a meeting
promoted by the Social Work Course at UFMA and which enabled an important political discussion. We
return to some aspects of this controversy to understand the relationship between politics and education,
showing the possibilities of reading that Gramsci's fragmentary text makes possible. The article aims to
show that Gramsci's writings can be read from different perspectives in order to interpret the movement of
the real, which accentuates the richness of his writings.
KEYWORDS: Politics, Education, Antonio Gramsci.
INTRODUÇÃO
Partimos aqui do Caderno 10 de Antonio Gramsci (1978, p. 1242) onde, a
propósito da filosofia de Croce, o autor acentua que a “história é sempre história
contemporânea, isto é, política”, no sentido que, “agindo no presente, interpretamos o
passado”. Desta perspectiva, rememorar pode ter o significado de identificar no presente
traços que o passado deixou e que condicionam a vida econômica e social de tal modo
que, para criar as condições de transformação social, faz-se necessário saber ler estes
sinais no presente. Também pode significar que um escrito, depois de publicado, se torna
1
Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora no Programa de Pós-
Graduação em Educação na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Presidenta da International Gramsci
Society Brasil (IGS-Brasil) Gestão 2022-2024. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2768-5858 E-mail:
anitahelena1917@gmail.com
SEÇÃO DOSSIÊ
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p06-21
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independente do autor e pode ser interpretado de acordo com as circunstâncias. Ao fazer
a releitura do passado a partir da Revolução Francesa, ponto de referência para pensar a
modernidade, Gramsci se afasta do hegelianismo de Croce e de sua leitura especulativa
de Marx para afirmar a identidade entre economia, política e história, acentuando os
desdobramentos desta relação no contexto da realidade italiana. O embate travado em
forma de monologo pelo encarcerado insere-se em uma tentativa de identificar os
conflitos que, explicitados no campo intelectual, permitiriam esclarecer as relações
ocorridas na realidade efetiva. A história sempre reinterpretada para a compreensão dos
limites das forças em luta no presente: este o significado de retomar o processo de
inserção do pensamento de Gramsci no Brasil.
Outra questão importante a salientar é sobre o conceito de educação, entendida
aqui em seu sentido amplo, de formação que ocorre ao longo da vida como construção da
subjetividade e da concepção de mundo a partir da inserção social de cada um. Recebemos
em nosso processo educativo costumes e preconceitos que trazem a marca do passado e
que, de certo modo, condicionam o presente no conjunto das relações sociais.
A história da recepção de Gramsci no Brasil pode ser lida num recorte temporal
que já se estende por noventa anos e que alguns autores já tentaram explicitar, mas pode
ser sempre retomada. Pretendemos fazer aqui o relato de um encontro memorável que
serviu para esclarecer as duas margens entre as quais navegamos e em relação às quais
temos que definir o caminho futuro. Este encontro ocorreu em 1999, em São Luiz do
Maranhão, num evento promovido pelo Curso de Serviço Social da Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e que se intitulava “Jornada sobre Gramsci”. A singularidade deste
Evento, que reuniu na ocasião em torno de 150 participantes, é que teve como convidados
Carlos Nelson Coutinho, Edmundo Fernandes Dias e Domenico Losurdo, evidenciando
as diferenças de leitura e as possibilidades de interpretação do pensamento gramsciano e
delimitando fronteiras e percursos possíveis.
Domenico Losurdo foi um historiador e pesquisador com reconhecimento
internacional que, a partir do seu espírito revolucionário e sua ação intelectual fecunda,
inspirou movimentos sociais e infundiu uma força de resistência na juventude acadêmica
brasileira a partir de suas inúmeras participações em debates promovidos na Unicamp e