APRESENTAÇÃO
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Dez/2022
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GRAMSCI, INTELECTUAIS E PARTIDOS POLÍTICOS NO
BRASIL
Gramsci, Intellectuals and Political Party in Brazil
Gramsci, Intellettuali e Partiti Politici in Brasile
Ana Lole
1
Marcos Del Roio
2
Este ano de 2022 marca muitas efemérides importantes na história do Brasil. São
200 anos da “Independência”, 100 anos do levante militar do Forte de Copacabana, 100
anos da Semana de Arte Moderna e os 100 anos de existência do Partido Comunista no
Brasil. Claro que cada um desses acontecimentos recebeu determinado valor a posteriori
e está sempre sujeito a novas interpretações que podem redefinir o efetivo valor desses
fatos. Afinal, além da documentação, do método científico, também o debate ideológico,
a luta hegemônica encontra-se no núcleo das “comemorações”.
O centenário do movimento comunista no Brasil é, sem dúvida, do ponto de vista
do movimento operário um momento de grande importância. Lembra, é claro, como o
Partido Comunista surgiu nos desdobramentos da derrota da intensa atividade da classe
operária de 1917 a 1920, mas que resistiu e lutou (e ainda luta) por um século inteiro em
favor dos interesses imediatos e dos interesses históricos dos trabalhadores e
trabalhadoras brasileiras. A luta dos comunistas foi sempre em favor do resgate dos
trabalhadores e trabalhadoras da fome, da doença, da ignorância, por meio do
desenvolvimento da economia e da cultura, por meio da democracia endereçada ao
socialismo e a emancipação do trabalho da exploração do capital.
1
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Professora
do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-Rio.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2991-3594 E-mail: analole@gmail.com
2
Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Professor Titular da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (FFC/UNESP/Marília). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3276-8789
E-mail: delroio@terra.com.br
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A marca do centenário é a enorme dificuldade em dar continuidade a essa luta
histórica, que enfrentou outros momentos dramáticos, mas marca também o momento do
empenho de na contribuição para a reorganização da classe operária no embate contra as
forças mais reacionárias da vida brasileira que se encastelaram no poder. A luta pela
democracia e pelo socialismo é mais atual que nunca.
Nesta direção, a Revista Práxis e Hegemonia Popular, periódico da International
Gramsci Society Brasil (IGS-Brasil), publica neste número o dossiê intitulado “Gramsci,
intelectuais e partidos políticos no Brasil”, que tem por objetivo narrar a contribuição
de Antonio Gramsci para a interpretação do Brasil e sua incidência nos movimentos e
partidos políticos.
O presente dossiê traz 7 (sete) artigos com abordagem sobre a influência dos
escritos de Gramsci no marxismo brasileiro e na organização das classes e grupos sociais
subalternos. O artigo que abre o presente dossiê é Gramsci no Brasil: notas sobre um
encontro memorável na senda da relação entre educação e política, de Anita Helena
Schlesener. A autora traz um relato, a partir de suas memórias, sobre a recepção do
pensamento de Gramsci no Brasil e como seus escritos podem ser lidos por perspectivas
diferentes, o que, de acordo com Schlesener, “acentua a riqueza de seus escritos”.
Em Gramsci no Brasil: revolução passiva e tradutibilidade, Marília Gabriella
Machado e Marcos Del Roio analisam a categoria revolução passiva de Antonio Gramsci
desenvolvida nos Cadernos do cárcere, apresentando como essa categoria é traduzida no
Brasil e como Luiz Werneck Vianna se debruça sobre a realidade brasileira apropriando-
se dessa categoria gramsciana. Machado e Del Roio analisam duas obras de Vianna
Liberalismo e sindicato no Brasil (1976) e A revolução passiva: iberismo e americanismo
no Brasil (2004) demonstrando como o autor faz a tradutibilidade da categoria
gramsciana revolução passiva para a realidade brasileira.
Luciana Aliaga traz em seu artigo, Gramsci no MST: a teoria em movimento,
elementos de reflexão sobre a organização política do MST à luz do pensamento de
gramsciano, sobretudo relativos à organização das classes subalternas. A autora traz um
breve panorama da organização no campo nas décadas de 1960 e 1970, contextualiza a
difusão de Gramsci no Brasil e analisa os elementos da organização do MST que podem
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ser considerados uma tradução do pensamento gramsciano, a saber: a mística, e a
estrutura organizativa e formativa”.
O artigo Gramsci, os intelectuais na geografia político-partidária e a civilização
brasileira, de autoria de Ricardo José de Azevedo Marinho, Vagner Gomes de Souza e
Pablo De Las Torres Spinelli Fonseca, aborda a situação atual dos intelectuais na
geografia político-partidária na civilização brasileira estabelecendo algumas distinções.
Os autores buscam com o artigo analisar alguns pontos de vista teóricos que “permitem
distinguir as geografias político-partidárias da esquerda, centro-esquerda e outras formas
progressistas em relação com aquelas que dizem respeito à direita, bem como a centro-
direita e o conservadorismo”.
Leandro Galastri em seu artigo Intelectuais, Moderno Príncipe e o Partido dos
Trabalhadores apresenta um debate sobre a relação entre o partido de massas e os
intelectuais, o desenvolvimento do conceito de moderno príncipe. Galastri trata de
elementos teóricos sobre o tema dos intelectuais e do partido político no pensamento de
Gramsci, bem como descreve, de forma panorâmica, as origens e o processo de
consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT) como principal partido de massas do
Brasil.
O artigo de Lineker Noberto, O som do dissenso: apontamentos para uma
história/concepção dos partidos e organizações políticas em um caso concreto de
pesquisa, a partir de resultados concretos de pesquisa sobre a Organização Revolucionária
Marxista Política Operária, mais conhecida como ORM-PO ou Polop, apresenta uma
orientação teórico-metodológica de como se deve escrever sobre a história de partidos e
organizações políticas”.
Em O “Movimento Escola sem Partido” como partido: uma análise a partir de
Gramsci, Handerson Fábio Fernandes Macedo e Marcia Soares de Alvarenga utilizam
dois importantes conceitos do marxista sardo, hegemonia e partido político, para
realizarem a análise. Os autores compreendem o Movimento Escola sem Partido “como
materialização da confluência do conservadorismo reacionário e do neoliberalismo”, pois
“apesar de reivindicar neutralidade, na realidade atua e funciona como um verdadeiro
partido na perspectiva da formulação gramsciana”.
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Este número, também, traz a resenha do livro Intelectuais, educação e escola: um
estudo do caderno 12 de Antonio Gramsci, de Giovanni Semeraro, escrita por Barbara
White e Hebert Abreu. Esta obra de Semeraro é um rigoroso estudo sobre o tema central
“intelectuais, educação e escola” a partir do caderno 12, pois não se limita a esse escrito
de Gramsci. Através de um estudo filológico, Semeraro analisa os conceitos articulados
nos escritos carcerários e nos pré-carcerários, reafirmando a potência de suas pesquisas
sobre o autor da Sardenha.
Em tempos de lutas pela manutenção do estado democrático de direito no Brasil
desejamos que esse número da Revista Práxis e Hegemonia Popular possa contribuir com
estudos e reflexões para fortalecer a nossa resistência.
Boa leitura!
REFERÊNCIAS
IANNI, Octavio. Príncipe Eletrônico. Revista Perspectiva, São Paulo, n. 22, p.11-29,
1999.
VIANNA, Luiz Jorge Werneck. A Revolução Passiva: Iberismo e Americanismo no
Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
VIANNA, Luiz Jorge Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1976.