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Sem adentrarmos no longo e duradouro debate que envolve as polêmicas
concepções sobre ideologia na tradição marxista e suas repercussões nas elaborações de
Gramsci, cabe destacar o caráter materialista da ideologia no pensamento de Marx, uma
vez que para ele, “a produção das ideias, de representações, da consciência, está, em
princípio, imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio
material dos homens, com a linguagem da vida real” (MARX & ENGELS, 2007, p. 94),
sendo as ideias da classe dominante, as ideias dominantes, “isto é, a classe que é a força
material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante”
(MARX & ENGELS, 2007, p. 47), conforme escreve em A ideologia alemã.
É no conhecido Prefácio (1859) que Marx retoma a temática da ideologia sob uma
visão sistematicamente mais ampliada, ao supor que as diferentes expressões assumidas
pela ideologia (filosofia, arte, política, religião, direito, etc.) se constituem como
determinadas formas da consciência que funcionam como condutos de suas práticas na
interação com o real, meio pelo qual “os homens adquirem consciência desse conflito e
o levam até o fim” (MARX, 2008, p.48).
Conforme aponta Liguori (2014), Gramsci não teve acesso à Ideologia Alemã,
publicada entre os anos 1920-1930, nem parte da concepção de Engels sobre ideologia
enquanto falsa consciência. Extrai, no entanto, do Prefácio da Crítica da Economia
Política, uma leitura inovadora que repõe as bases contidas em Marx, enriquecendo-as
teoricamente com novas questões. É neste sentido, que para o marxista sardo, no bloco
histórico:
[...] as forças materiais são o conteúdo, e as ideologias a forma; a distinção de
forma e conteúdo é meramente didática, posto que as forças materiais não
seriam concebíveis historicamente sem forma, e as ideologias seriam caprichos
individuais sem a força material (GRAMSCI, 1971, p. 57).
Cabe ressaltar que o caráter materialista da ideologia no pensamento de Marx se
mantém na obra de Gramsci, sobretudo em contraponto à definição equivocada atribuída
a Gramsci como “teórico das superestruturas”, análise comum nas interpretações
referenciadas por Norberto Bobbio. Contrariamente à tal proposição, ao conceber o