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OS DESAFIOS DA MEDIAÇÃO NA PRÁXIS PEDAGÓGICA: UMA
ANÁLISE ATRAVÉS DA PERSPECTIVA DE GRAMSCI
THE CHALLENGES OF MEDIATION IN PEDAGOGICAL
PRACTICE: AN ANALYSIS THROUGH GRAMSCI'S
PERSPECTIVE
Ana Beatriz Martins de Arruda
1
Fábio Inácio Pereira
2
Resumo:
Introdução: O presente trabalho, intitulado: “Os desafios da mediação na práxis pedagógica: Uma análise
através da perspectiva de Gramsci”, apresenta uma análise dos desafios da mediação na práxis pedagógica
a partir de Gramsci. Cabe ressaltar que, embora tenham sido escritas em outro contexto histórico, as obras
de Gramsci ainda se fazem atuais e relevantes, em especial no cenário pandêmico e pós-pandêmico, no qual
a práxis pedagógica passou a ser repensada mediante os desafios do ensino por meio de recursos
tecnológicos e virtuais que se consolidaram. Objetivo: Tem por objetivo discutir a perspectiva de mediação
pedagógica nas propostas de Gramsci, tendo em vista os desafios do ensino por meio de recursos
tecnológicos e virtuais. Materiais e método: Para tal, foram utilizadas, como metodologia, pesquisas
teóricas e revisões bibliográficas a partir do referencial teórico-metodológico hermenêutico. Resultados e
discussão: Nota-se que, embora haja uma diferença histórica entre a escrita das obras e o momento atual,
uma correlação entre o conceito de mediação de Gramsci (1932, 2004), que acredita ser necessário o
educador compreender seu papel dentro do processo educativo, entendendo que não deve ocupar o papel
de pessoa detentora de todo o saber, mas sim o papel de colaborador para o desenvolvimento intelectual e
social do educando, o qual deve ter um papel ativo em seu processo de aprendizagem. Além disso, para o
autor, torna-se imprescindível o educador entender que, a partir de sua práxis pedagógica, o educando
consiga realizar a integração entre teoria e a prática, entre os conceitos teóricos e a realidade do estudante,
pois, somente assim, o indivíduo conseguirá se transformar e transformar a sociedade na qual se encontra
inserido. Conclusão: Conclui-se, portanto, após a discussão dos resultados, que a mediação na práxis
pedagógica é um conceito que deve ser estudado e revisitado, principalmente por conta do período sócio-
histórico atual, sendo necessário uma revisão das práticas pedagógicas vigentes que tendem a focalizar o
processo educacional na figura do professor, visando um melhor desenvolvimento, tanto intelectual quanto
social, do educando.
Palavras-chave: Educação. Antônio Gramsci. Mediação Pedagógica.
1
Graduanda em Psicologia pela PUC-PR. E-mail: ana.300501@hotmail.com
2
Professor de Filosofia da PUC-PR. E-mail: fabio.inacio@pucpr.br
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Abstract
Introduction: The present work, entitled: “The challenges of mediation in pedagogical praxis: An analysis
through Gramsci's perspective”, presents an analysis of the challenges of mediation in pedagogical praxis
based on Gramsci. It should be noted that, although they were written in another historical context,
Gramsci's works are still current and relevant, especially in the pandemic and post-pandemic scenario, in
which pedagogical praxis began to be rethought through the challenges of teaching through of technological
and virtual resources that were consolidated. Objective: It aims to discuss the perspective of pedagogical
mediation in Gramsci's proposals, in view of the challenges of teaching through technological and virtual
resources. Materials and method: To this end, theoretical research and bibliographic reviews were used
as a methodology, based on the hermeneutic theoretical-methodological framework. Results and
discussion: It is noted that, although there is a historical difference between the writing of the works and
the current moment, there is a correlation between Gramsci's concept of mediation (1932, 2004), who
believes that it is necessary for the educator to understand his role within of the educational process,
understanding that they should not play the role of a person holding all the knowledge, but the role of
collaborator for the intellectual and social development of the student, who must play an active role in their
learning process. In addition, for the author, it is essential for the educator to understand that, from his
pedagogical praxis, the student can achieve the integration between theory and practice, between theoretical
concepts and the student's reality, because only then, the individual will be able to transform and transform
the society in which he is inserted. Conclusion: It is concluded, therefore, after discussing the results, that
mediation in pedagogical praxis is a concept that must be studied and revisited, mainly because of the
current socio-historical period, requiring a review of current pedagogical practices that tend to to focus the
educational process on the figure of the teacher, aiming at a better development, both intellectual and social,
of the student.
Keywords: Education. Antônio Gramsci. Pedagogical Mediation.
Introdução
O presente trabalho visa o estudo dos desafios da mediação na educação e suas
consequências na práxis pedagógica, a partir das perspectivas de Antonio Gramsci (1891-
1937). Essa temática destaca-se quando analisamos os desafios dos processos educativos
presentes na conjuntura atual. A crise sanitária da Covid-19 evidenciou os problemas
estruturais do sistema educacional brasileiro, trazendo o desafio do ensino por meio de
recursos tecnológicos e virtuais. Tal cenário reacendeu os debates relativos aos processos
de interação e mediação pedagógica na Educação Básica. Em razão da atualidade da
temática, é imprescindível refletir sobre os desafios para o ensino e aprendizagem tendo
como fundamento a importante base teórico-política do século XX: Gramsci. Sobretudo
porque, para o autor, a educação tem papel fundamental no processo de transformações
emancipadoras do país.
É importante destacar que o autor interpreta as problemáticas referentes à
educação em seu tempo, enfatizando a importância da interação profunda do educador e
educando no processo pedagógico. Para Gramsci (2004), a educação assume um papel de
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filosofia da práxis, na qual promove a elevação cultural tornando-se possível a
transformação da mentalidade e de fortalecimento da luta contra a hegemonia.
Em um contexto no qual se observa a ascensão de práticas educacionais que
enfatizam a educação espontânea e minimizam a intencionalidade do educador no ato
pedagógico, sobretudo nas circunstâncias pandêmicas atuais, esta pesquisa justifica-se já
que visa discutir a importância da interação entre professor e aluno. Além disso, com a
presente pesquisa, pretende-se evidenciar as concepções de mediação pedagógica a partir
do referencial teórico de Antônio Gramsci. O aprofundamento na obra do autor
supracitado, tendo como base a pesquisa realizada no ciclo anterior, permitirá
problematizar os atuais processos de ensino-aprendizagem, no contexto da Covid-19.
Espera-se, com isso, lançar luzes na questão da educação emancipadora nas atuais
condições de ensino impostas pela pandemia. Por fim, evidenciar possibilidades e
desafios, inclusive, no que tange a formação do educador.
Revisão de literatura
Na Europa, Antônio Gramsci fica preso, entre os anos de 1926 e 1937, por
questões políticas que iam contra o fascismo de Mussolini
3
e, com isso, escreve textos
posteriormente organizados em dois grupos: as “Cartas do Cárcere” e os textos dos
“Cadernos do Cárcere”. Os cadernos, de acordo com Gomes (2018), referem-se a um
conjunto de anotações redigidas em 33 cadernos escolares. Neste trabalho, traremos como
enfoque um estudo do Caderno 12, que embora date de 1932, traz escritos que se fazem
relevantes e atuais quando pensamos sobre a mediação na práxis pedagógica, uma vez
que se apresenta como um ensaio reflexivo, conceitual e inspirador sobre as concepções
de educação, escola e intelectualidade, dado que o mesmo vivenciou o período da crise
da escola tradicional. Ao se analisar a práxis pedagógica faz-se necessário para Gramsci,
segundo Semeraro (2021), entender o sistema de relações no qual a mesma encontra-se
inserida, ou seja, sua localização no todo de relações sociais.
3
Benito Mussolini (1883-1945), foi um político italiano, responsável pela fundação do Regime Fascista
na Itália, que governou no período de 1922-1943. Seu governo foi marcado pela violência contra seus
opositores, ditadura, nacionalismo e conservadorismo.
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Gramsci (1932) propõe uma escola unitária, na qual os indivíduos devem
desenvolver as capacidades de trabalhar manual e intelectualmente, tendo seu ritmo de
pensamento respeitado e sempre em progressão, onde, com o passar do tempo e aumento
de maturidade dos indivíduos, deve ser inserido o desenvolvimento de outras
capacidades, tanto intelectuais quanto práticas. Partindo do pressuposto de que esta seja
a melhor forma de se educar, Gramsci, segundo Semeraro (2021), entende que a escola
unitária deve ser pública para que não haja uma elitização do conhecimento. Nesta escola,
explicam ainda os autores, o processo educacional como um todo teria duração em torno
de dez anos e seria organizado em dois graus, o primário e o médio, nos quais os alunos
estudariam de maneira coletiva. Dessa forma, os melhores alunos ajudam os mais
defasados, e também contariam com a assistência de professores. Neste projeto de escola
unitária de Gramsci (1932), o processo educacional torna-se cada vez mais criativo
visando desenvolver nos alunos a autodisciplina intelectual e a autonomia moral
necessárias na próxima etapa de suas vidas, tornando-os seres com consciência moral e
social sólida e homogênea, autônomos e responsáveis. Com essa forma de ensino, as
relações entre trabalho intelectual e industrial em toda a vida social serão modificadas,
fazendo com que as produções científicas e a vida se integrem.
Para Gramsci, elucida Semeraro (2021), a educação e a formação intelectual não
são atividades separadas da realidade, elas têm por objetivo desenvolver nos indivíduos,
em especial nos de classes subalternas, subjetividades autônomas e criativas, que visam
socializar o conhecimento e se organizar politicamente para conhecer os governos e
educar a si mesmas dentro do mesmo. Por isso, Gramsci (1932) entende que os
educadores devem ser intelectuais dirigentes, políticos qualificados, organizadores de
todas as atividades e funções inerentes ao desenvolvimento de uma sociedade integral,
política e civil. Diante da situação criada pela escola tradicional que atende somente uma
pequena elite da população, com propostas que não atendem às exigências do mundo
contemporâneo, Gramsci (1932) propõe uma escola unitária inicial onde se aprenderia a
cultura geral, com um caráter humanista e formativo promovendo o desenvolvimento da
capacidade manual e intelectual. A escola proposta por Gramsci, conforme Semeraro
(2021), é aquela na qual o professor faz o papel somente de um guia amigável, mas o
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aluno aprende por um esforço espontâneo e autônomo, indicando que ele entrou na fase
de maturidade intelectual onde pode descobrir novas coisas.
A escola unitária de Gramsci, elucida Semeraro (2021), não tem como objetivo
somente oferecer a todos uma educação padrão que desenvolve e unifica os múltiplos
componentes do ser humano, mas além disso tem por objetivo oferecer uma educação
que articule todos os setores sociais para convergirem em torno de um projeto de
sociedade nacional-popular que proporcionará o progresso moral e intelectual de todos,
visto que os modelos de escolas existentes são incapazes de acompanhar as reivindicações
por protagonismo das massas e as transformações que ocorrem no mundo (SEMERARO,
2021). Para Gramsci, a educação deve ser integral em dialética com a natureza, sociedade,
estado, cultura, história, mundo do trabalho e a política, uma vez que a educação não
ocorre somente nas escolas, já que representa somente uma fração da vida do aluno.
Segundo Gramsci, afirma Semeraro (2021), há notáveis diferenças entre a escola
ativa, o ambiente ao ar livre onde, por meio da supervisão de um professor que colabora
amigavelmente com os alunos, ocorre o desenvolvimento das faculdades espontâneas dos
alunos, e seu projeto de escola unitária, sendo este um avanço daquela. Nestas escolas
ativas, para Gramsci, os alunos são colocados como centro da educação e, com isso, pode-
se ignorar alguns os aspectos da cultura e da sociedade que geram influência nesses
indivíduos, secundarizando-se as visões grupais, as relações sociais, a consciência crítica
dos problemas sociais e, por consequência, a responsabilidade pela transformação social.
Ainda que, para Gramsci, de acordo com Semeraro (2021), estas escolas signifiquem um
avanço no campo educacional, é necessário superar esta fase romântica do processo
educativo, para se chegar a um projeto de escola capaz de proporcionar a formação
integral dos indivíduos por meio da junção do trabalho intelectual e manual e da conexão
entre vida e ciência.
Materiais e Métodos
Para realizar o estudo dos desafios da mediação na educação e suas consequências na práxis
pedagógica a partir da perspectiva de Antonio Gramsci, focou-se em entender o que o autor entende por
mediação, quais os princípios básicos de sua teoria e se relação com outras teorias, as quais
fundamentaram a discussão. Para isso, utilizou-se o referencial teórico-metodológico hermenêutico crítico,
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ou seja, um método interpretativo que procura compreender textos, para “interpretar” e “explicar” de uma
forma geral e correta a passagem textual em questão, tentando nela encontrar a alegoria presente.
Entre os filósofos hermeneutas contemporâneos temos Heidegger que colocou o problema da
hermenêutica como parte de um discurso sobre as condições ontológicas do conhecimento, ou seja, o
problema do conhecimento virou, a partir dele, um problema do ser. Nesta perspectiva, o método
hermenêutico busca a compreensão do fenômeno que remete ao ser, “[...] desde o ser interpretado e para o
ser interpretado” (HEIDEGGER, 2013, p. 24). Logo, a pesquisa busca conhecer sempre o objeto a partir de
tudo que está a sua volta.
Em suma, foram realizadas pesquisas teóricas e revisões bibliográficas em artigos científicos
disponibilizados nas plataformas do Google Acadêmico, livros de autores conceituados na temática como
Semararo (2021) e Saul e Saul (2016), datadas nos últimos cinco anos ou que sejam clássicos da literatura
sobre o tema. O tratamento crítico dessas fontes tornará possível a compreensão de alguns conceitos
considerados importantes na resolução do problema proposto, tais como: cultura, práxis pedagógica,
mediação intelectual, entre outros.
Resultados
A partir da análise crítica das pesquisas e estudos realizados sobre o tema, pode-
se inferir que Gramsci embora tenha seus escritos datem de outros momentos históricos,
ainda hoje se fazem relevantes e atuais, em especial no momento sócio-político vivido
em nosso país, em especial com o movimento da Escola Sem Partido.
Para Gramsci (1932), a mediação profissional e a político-social, ou seja, aquela
realizada pela sociedade civil/Estado, não são separáveis no processo educacional. Além
disso, para o autor, na práxis pedagógica tradicional, os indivíduos detentores do maior
poder econômico também detêm o conhecimento e, por consequência, formam os
indivíduos caracterizados como mais especializados, não somente de uma área específica,
mas sim de várias áreas, contribuindo para a manutenção deste sistema. Em outras
palavras, o autor entende que as escolas são divididas de acordo com as classes sociais e
em função da manutenção dessas, para, assim, manter a divisão social existente em
funcionamento e fazer com que não haja questionamentos sobre a mesma. Partindo desta
noção, Gramsci (1932) entende que somente a escola criativa, ou seja, a escola que
disciplina e nivela os indivíduos em um primeiro momento e, em seguida, se pauta na
coletividade do tipo social, expandindo a personalidade dos indivíduos, os tornando
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autônomos, responsáveis e com consciência moral e social homogênea e sólida, é capaz
de formar o novo intelectual.
Gramsci (1932) defende uma escola unitária, com métodos de ensino unificados,
onde os alunos sejam capazes de relacionar teoria e prática, ou seja, relacionem a escola
e a sua vida pessoal, para que haja a relação entre a instrução do professor e a educação,
sendo responsabilidade do professor estabelecer tal relação, acelerá-la e disciplinar a
formação da criança com base no que faça sentido para ela. Com isso, os alunos não
devem ser mais vistos como receptores passivos de dados empíricos, saberes
enciclopédicos e fatos desarticulados. Tais métodos unificados, entende Gramsci (1932),
devem ser baseados em pesquisas históricas e no amadurecimento individual de cada
aluno, e a escola deve conceder aos indivíduos a capacidade e a possibilidade do mesmo
se formar e tornar-se humano com liberdade, não o moldando e limitando suas
possibilidades para se enquadrar em expectativas sociais pré-existentes sobre aquela
criança. Para Gramsci (1932), a escola deveria ser uma das mais importantes e essenciais
atividades públicas para que, com isso, todos, inclusive trabalhadores, possam tornar-se
autônomos e especializados em produção e ativos na criação dos órgãos da nova
organização social proveniente dessa nova proposta de educação. Com isso, Gramsci
acredita que os indivíduos conseguiriam se autodeterminar no campo político e se
autogerirem no campo produtivo (SEMERARO, 2021). Além disso, é preciso, para
Gramsci (1932), que se eduque e qualifique os indivíduos nascidos em uma antiga
sociedade movida pelo poder econômico até que se tornem dirigentes, intelectuais,
políticos e organizadores de todas as funções e atividades de uma sociedade civil, integral
e política.
Em suma, o ponto central do Caderno 12 de Gramsci (1932), é a noção de que a
educação deve ser unitária, pública e em tempo integral, onde os alunos consigam realizar
trocas entre si e com os professores possibilitando que haja uma conexão entre o trabalho
intelectual, industrial e a vida social, possibilitando, assim, que todos os indivíduos
tenham as suas potencialidades humanas e sociais desenvolvidas. Cabe enfatizar que, para
Gramsci, uma das principais e mais importantes atividades do professor é a de registrar,
coordenar e desenvolver as experiências e observações, tanto pedagógicas quanto
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didáticas. Além disso, ao propor uma escola unitária, pública e universal, Gramsci (1932)
afirma que o objetivo não é simplificar a educação e o processo educativo, mas sim dar
ferramentas e instrumentos para que todos os indivíduos sejam capazes de se qualificarem
no trabalho e terem uma atuação ativa na política.
Gramsci deixa claro, ao longo do Caderno 12, a necessidade de se entrelaçar o
ensino do conhecimento técnico-científico com o desenvolvimento pessoal e político dos
jovens, a fim de inseri-los na atividade social garantindo que tenham, assim, ferramentas
para desenvolver as capacidades de criação intelectual, prática e de autonomia. Em suma,
Gramsci, segundo o autor, traz para a escola elementos os quais, segundo seu texto
filosofia da práxis, não podem ser separado do indivíduo, sendo tais elementos: o
pensamento, a natureza e a atividade da matéria. Gramsci entende também que para a
escola unitária se tornar viável é necessário que o governo arque com todas as despesas
da mesma, ou seja, que a mesma se torne pública, uma vez que é responsabilidade
governamental promover a instrução e a assistência escolar obrigatória para todos os
indivíduos, sem haver discriminação e divisão de classes (SEMERARO, 2021).
O estudante, explana Gramsci (1932), não deve ser entendido como um indivíduo
passivo e com uma consciência individual, deve-se lembrar que a consciência do
indivíduo é resultado da sociedade em que ele se encontra inserido, ou seja, os alunos
levam para a escola relações culturais e sociais distintas e, às vezes, até mesmo
antagônicas, tanto entre si quanto entre os alunos e os programas educacionais. Posto isso,
Gramsci afirma que, se não houver uma unidade entre escola e vida, não haverá uma
unidade entre instituição e educação (SEMERARO, 2021). Logo, Gramsci (1932)
entende que o papel dos educadores, que tem consciência das divisões existentes na
sociedade e da discrepância entre o conteúdo escolar e a vida prática do aluno, é o de
promover os nexos com a realidade, acelerando a disciplina e formação do aluno. É
preciso, para Gramsci, uma escola preparatória única que forme os alunos como pessoas
capazes de pensar, de estudar, de dirigir ou controlar quem dirige, ou seja, a educação
integral precisa ser fundamentada em uma ampla formação pública, democrática,
intelectual e política fazendo com que o aluno possa tanto se especializar em uma área de
trabalho quanto exercer algum cargo político-social (SEMERARO, 2021).
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Os professores, para Gramsci (1932), não devem ocupar um papel central ou
superior para cumprir com o papel educacional de preparar os alunos para se conectarem
com o mundo real, em todos os seus aspectos, mas sim desempenhar seu papel na dialética
articulando uma relação criativa entre o aluno e os outros, o aluno e o meio e o aluno e a
organização econômica, política e cultural da sociedade na qual se encontra inserido.
Gramsci afirma que o rigor pedagógico deve ser algo praticado pelos professores e
ensinado aos alunos, para que esses, assim, desenvolvam liberdade, autodeterminação e
capacidade de socialização e criação. O autor, ao longo do caderno 12, explícita que a
maior parte dos projetos de escolas modernas estão focadas em educar uma parcela
dirigente da população como um grupo, não focando nos indivíduos e não se
preocupando, também, com a educação da parcela dirigida da população (SEMERARO,
2021). Ao propor seu projeto de escola unitária, Gramsci (1932) proporciona o
surgimento de novos indivíduos orgânicos nas classes subalternas o que possibilita que
ela se reorganize, se autodetermine e se autodirija democraticamente, o que,
consequentemente, gera a base para uma revolução cultural e educacional. O projeto de
escola de Gramsci (1932), gera indivíduos com personalidade criativas, socializadas,
livres e soberanas, capazes não somente de se especializar em uma atividade técnico-
científica, mas também, de se autodeterminar e adquirir uma visão consistente da
realidade para assim poder construir, organizar e ser um educador politicamente
compromissado com as classes mais baixas que lutam para se tornarem dirigentes. Para
Gramsci (1932), a relação pedagógica não pode ficar restrita às relações chamadas de
escolares, pois para ele toda relação social é, na verdade, uma relação pedagógica que
envolve as relações intersubjetivas e as forças coercivas sociais.
Discussão
Atualmente as propostas educacionais de Gramsci, se tornam mais do que nunca
relevantes diante do cenário político brasileiro, visto o surgimento do movimento “Escola
Sem Partido”, movimento que se coloca como representante de pais e estudantes
contrários ao que entendem como “doutrinação ideológica” de esquerda no ambiente
escolar, realizando uma espécie de censura e perseguição aos educadores e a temas
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abordados em sala de aula, em especial ligados às ciências humanas. Partindo disso,
cumpre lembrar-se de que, para Gramsci (1932), a luta de classes travada na área
educacional, política e cultural é a questão mais importante e mais difícil da sociedade.
Nesse sentido, torna-se urgente repensar o papel dos educadores no processo de
transformação social e, por consequência, repensar sobre a mediação professor-aluno.
O autor entende que é mediante a educação que se torna possível transformar a
sociedade, no entanto, acreditam que, para isso é necessário mudar a forma como ocorre
a educação atualmente. Gramsci (1932) entende que a escola atual se encontra em crise,
uma vez que ela atende somente as classes sociais mais altas e se encontra dividida em
função delas, para manter a divisão social existente em funcionamento e fazer com que
não haja questionamentos sobre ela.
Gramsci (1932) afirma que os métodos de ensino, dentro de sua escola unitária,
devem ser unificados para que os alunos sejam capazes de relacionar a teoria com a
prática, sua vida pessoal e a escola, sendo responsabilidade do professor estabelecer tal
relação com base no que faça sentido para o educando, levando sempre em conta
pesquisas históricas e amadurecimento individual de cada educando. Além disso, tal
relação entre prática e relação é importante, de acordo com Gramsci (1932), para que seja
possível inserir os educandos na atividade social garantindo que tenham, assim,
ferramentas para desenvolver as capacidades de criação intelectual, prática e de
autonomia.
É necessário, de acordo com Gramsci (1932), que o educador não ocupe um papel
central no processo educacional, mas sim desempenhe seu papel na dialética professor-
aluno, articulando uma relação criativa entre o aluno e os outros, o aluno e o meio e o
aluno e a organização econômica, política e cultural da sociedade na qual se encontra
inserido. Ademais, o autor entende que o são somente as relações chamadas de
escolares que são relações pedagógica, visto que, para Gramsci (1932) toda relação social
é, na verdade, uma relação pedagógica que envolve as relações intersubjetivas e as forças
coercivas sociais.
Ao se falar sobre a mediação professor-aluno remotamente, no período
pandêmico, percebe-se que é falar de algo muito novo e sobre o qual ainda não há muitos
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estudos e teses, logo é falar com base no senso comum e em experiências particulares. De
acordo com Sforni (2008), uma confusão dentro do campo psicopedagógico que parece
acreditar que para que ocorra mediação na relação aluno-professor seja necessária a
imagem da presença física do professor intervindo nas tarefas que o estudante realiza.
Além disso, cumpre salientar que, para Gramsci, não é somente a mediação entre
professor-aluno que gera conhecimento, mas sim, toda mediação realizada em qualquer
relação entre indivíduos gera conhecimento.
Em suma, nota-se que o autor possui uma proposta educacional, cujo o maior
objetivo a transformação social. Além disso, percebe-se que analisar a mediação na
práxis pedagógica no contexto pandémico pelo viés do autor, ainda é um desafio, visto
que não muitos estudos concretos sobre o tema, por conta da atualidade dele, sendo
este, inclusive, um bom ponto a ser discutido futuramente, visto que, até o momento, ao
se discutir sobre práxis pedagógica no contexto pedagógico fala-se sobre experiências
particulares e pontuais.
Considerações Finais
Gramsci, portanto, dedicou-se, ao longo do caderno 12, à criação de uma escola unitária que conte
com métodos de ensino unificados baseados em pesquisas históricas e no amadurecimento individual de
cada aluno, para possibilitar, assim, que haja uma relação entre teoria e prática, bem como entre vida pessoal
e escola, concedendo aos alunos a capacidade e a possibilidade de se formarem e tornam-se humanos com
liberdade. Logo, para Gramsci, é claro que a mediação na práxis pedagógica necessitava de mudanças, visto
que, ela encontra-se contribuindo para a manutenção da divisão de classe e favorecendo, consequentemente,
tanto a classe detentora de maior poder econômico quanto a manutenção do sistema político-econômico
vigente, não permitindo que os indivíduos consigam se autodeterminar no campo político e se autogerirem
no campo produtivo.
A pandemia da Covid-19 trouxe à tona inúmeros debates sobre o processo de ensino-
aprendizagem, bem como evidenciou as deficiências e problemas que o sistema educacional e a práxis
pedagógica brasileira sempre enfrentaram. Com a Covid-19, o processo educacional precisou migrar da
modalidade presencial para a modalidade remota, trazendo desafios tanto para os alunos quanto para os
professores e também pais e/ou responsáveis, uma vez que a sociedade entende que para haver o processo
de aprendizagem é necessário que o aluno esteja em ambiente escolar, dividido por salas e que os
professores, considerados detentores do saber, passem todo o conteúdo para os alunos, que somente devem
absorver tais conteúdos. No entanto, após a leitura das obras de Gramsci, resta claro que este processo de
ensino-aprendizagem pode ocorrer em inúmeros ambientes e de inúmeras formas, não necessitando da
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presença física do educador. Por exemplo, para Gramsci, é necessário que haja um indivíduo guiando outro
a aprender, sem perder de vista a realidade do indivíduo e seu desenvolvimento/
Partindo disso, nota-se que, durante o ensino remoto, foi necessário que tanto os professores
repensassem os lugares que vêm ocupando no processo educacional e como vêm exercendo tal papel,
quanto os alunos repensassem seu papel e a dinâmica do processo educacional. Neste contexto, nota-se que
as dificuldades enfrentadas, tanto por alunos quanto por professores, têm como raiz a concepção que estes
possuem sobre o conhecimento e o processo educacional. Tal concepção é baseada na noção de que deve
haver um indivíduo detentor de todo o saber, em especial aquele chamado científico (visto que é o
priorizado e valorizado pela sociedade), que deve passar esse saber para os indivíduos que não possuem
conhecimento, baseando-se somente no que a sociedade espera que aquele indivíduo aprenda naquele
momento e não no que o indivíduo deseja aprender. Com isso, percebe-se que é preciso que haja uma
mudança no entendimento do conceito de aprendizagem, bem como na ideia de que há somente um
conhecimento válido e necessário (científico), para que, assim, seja possível solucionar os problemas
existentes no processo educacional brasileiro superando as dificuldades que vieram à tona com a pandemia,
e, consequentemente, na sociedade. Cabe o adendo de que, desde a época de Gramsci, há a necessidade de
se realizar tais mudanças, tanto que o autor escreve sobre formas de reformular o processo educacional para
que o mesmo seja mais efetivo e abranja a todos os indivíduos da sociedade.
Logo, nota-se que o presente trabalho objetivou, por meio de uma revisão bibliográfica, realizar
uma discussão acerca da perspectiva de mediação pedagógica nas propostas de Gramsci, tendo em vista os
desafios do ensino por meio de recursos tecnológicos e virtuais. Com a realização deste, conclui-se que o
autor citado ao longo do texto tem muito a contribuir no pensamento e prática da mediação na práxis
pedagógica, bem como em outras questões que envolvem o contexto escolar e, por consequência, sobre
questões sociais, visto que é mediante a educação que se modifica a sociedade.
Além disso, cumpre salientar que, embora Gramsci, tenha escrito suas obras em contextos
histórico-sociais distintos dos que nos encontramos, suas ideias ainda se fazem atuais e relevantes, em
especial, diante do cenário político brasileiro, que gera novas versões do fascismo como solução para a
crise estrutural que anula, consequentemente, a essência constitutiva do ser humano. Por fim, nota-se,
também, que necessidade de mais estudos sobre a mediação na práxis pedagógica durante o período
pandémico, visto que, até o momento os únicos dados que se tem são de experiências particulares e, em
especial, na área da pedagogia. Ademais, há, também, a possibilidade de se realizar estudos sobre como
esta questão ficará no período pós-pandémico que esta situação é inédita e, certamente, trará
consequências, positivas e/ou negativas, para os alunos e, consequentemente, para os educadores e a práxis
pedagógica como um todo, sendo a mediação, neste contexto, um dos conceitos mais importantes e que
mais sofrerá modificações.
SEÇÃO ARTIGO
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p245-257
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
n.11
p. 245-257
Dez/2022
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Recebido em 17 de novembro de 2022
Aceito em 13 de janeiro de 2023
Editado em fevereiro de 2023
SEÇÃO ARTIGO
https://doi.org/10.36311/2526-1843.2022.v7n11.p245-257
© Rev. Práxis e Heg Popular
Marília, SP
v.7
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