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Não é incomum que trabalhos historiográficos reduzam a história de um partido a
atuação da sua direção, em um tipo, nem sempre admitido, de retorno à história política
tradicional, na qual os eventos dignos de nota encontravam sua expressão nos grandes
líderes. Deve-se evitar reduzir as organizações políticas a trajetória de suas direções. Para
tanto, é necessário reconhecer que a unidade de uma organização não significa a ausência
de dissensos. Nenhum partido ou agrupamento humano é um corpo monolítico.
Sabe-se que a definição de um programa político é um importante passo para
demarcação de uma coesão organizacional. Se as ideias que dão corpo à linha
programática são declaradas oficialmente como única possível, a sistematização de um
programa depende, porém, da rejeição de outras teses alternativas, que foram derrotadas
em confrontações abertas ou veladas. Neste sentido, mais do que compreender as posições
consagradas nas resoluções como oriundas de um consenso político, a investigação
histórica deve identificar o conflito interno que as produziu. Uma análise focada nos
produtos da elaboração teórica (teses e resoluções), suas práticas de elaboração, discussão
e deliberação, e as estratégias de difusão e propaganda é importante para identificar a
trajetória de uma organização, mas não é suficiente.
Neste sentido, os consensos devem ser interpretados como produtos de um
conflito interno, nem sempre facilmente visível. Principalmente porque de seu resultado,
muitas vezes, emergem não apenas as orientações táticas, estratégicas e eixos
programáticos que viabilizam a unidade partidária, mas formas de silenciamento das teses
derrotadas. É o caso de partidos que, com forte rigidez organizativa, exigem dos
derrotados, ao fim do conflito, a submissão plena às teses vitoriosas.
Por exemplo, não é raro que a historiografia tenda a apresentar os documentos
oficiais aprovados em congresso como expressões do posicionamento das organizações
estudadas. Este procedimento não é em si um equívoco, porém, muitas vezes obscurece
a compreensão de que de estes documentos representavam exclusivamente o
posicionamento de um grupo dentro da própria organização e não da totalidade de seus
militantes. Grupo, que se fazendo vitorioso no conflito interno, fez de suas teses à
orientação de toda a organização. É o caso daquele que é reconhecido como o principal
documento da Polop. O Programa Socialista para o Brasil (PSpB) aprovado pelo IV
Congresso Nacional, realizado em setembro de 1967, consagrou, na integralidade, o
projeto de programa apresentado na luta interna pelos militantes ligados à direção
nacional. Mesmo que fiéis as linhas programáticas gerais que já haviam orientado a
fundação da organização em 1961, e, portanto, sem representar uma mudança de rota
brusca nas orientações estratégicas da Polop, o PSpB nunca conseguiu reunir um sólido
consenso em torno de si, sendo sua aprovação motivo para a própria cisão da ORM-PO.
O procedimento torna-se ainda mais problemático quando motivado por esta
vitória final, a historiografia reconhece todos documentos coerentes com as teses da
direção nacional como o único posicionamento da organização sobre os temas arrolados,
desprezando assim as teses da minoria, que travou a luta interna até sua derrota. Neste