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ainda válida na virada do milênio. Não seria o caso de se perguntar se Vianna não havia
incorporado a perspectiva (e as angústias) da tradição liberal-democrática brasileira
(HOLLANDA, 1976; FAORO, 1976), que quase sempre teve no americanismo o seu farol,
mas que sempre padeceu pela ausência de um ator que guiasse a revolução passiva a
esse fim, que transfigurasse a herança ibérica em americanismo.
Na verdade, a avaliação de Vianna é uma variante que defende que o processo
de americanização começou em 1930, por iniciativa de uma parcela das oligarquias
agrárias de extração territorial iberista e liberal. No ensaio inicial do volume em questão,
intitulado “Caninhos e descaminhos da revolução passiva no Brasil”, Vianna alonga o
tempo histórico da revolução passiva no Brasil, que teria tido início já no momento da
formação do Estado territorial brasileiro. Nesse ponto, incorpora a leitura de Florestan
Fernandes sobre a revolução burguesa no Brasil.
Para Vianna, a primeira manifestação da antítese nesse processo de longa
duração foi a fundação do Partido Comunista Brasileiro, em 1922. Mas,
Com o movimento político-militar de 1930 a Iberia se reconstrói, sem se
desprender, contudo, de suas bases agrárias, de onde, as elites tradicionais
extraem recursos políticos e sociais para a sua conversão ao papel de elites
modernas, vindo a dirigir o processo de industrialização” (VIANNA, 2004, 18).
Essa Iberia reformada conta com o ator que exerce protagonismo sobre os fatos.
Nos anos 50, porém, a força da antítese já é bem maior e a revolução passiva avança por
meio de um projeto de desenvolvimento capitalista amparado por uma coalizão
nacional-popular, que incorpora “as elites políticas, o sindicalismo, a intelligentsia, e à
esquerda, especialmente o PCB” (VIANNA, 2004, p. 19).
De fato, segundo ainda a interpretação de Vianna, com a chamada Declaração
de março, de 1958, o PCB se propôs a participar como ator do processo de revolução
passiva com a inclusão das demandas da antítese. Assim, o PCB anotava o aspecto
positivo do processo de revolução sem revolução. A sua debilidade mostrou-se, no
entanto, ao exercitar a sua ação no campo do Estado, entendido como núcleo da
organização da vida social, ao invés de reconhecer que era o lugar mais cômodo para as
classes dirigentes.
O golpe de Estado de 1964 teria sido o fim da revolução passiva por conta do
programa liberal do início da ditadura militar. Parecia ser o acerto de contas com o
iberismo e a implantação de uma americanização “por cima”. Na concepção de Gramsci,
vale sempre lembrar, a americanização “por cima” foi o intento do fascismo.
Essa possível ruptura no seio das classes dirigentes assistiu outra paralela no campo das
esquerdas: uma parte significativa das esquerdas passou a apregoar a ruptura