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Interessante perceber que, embora o militante da práxis Antonio Gramsci faça essa
distinção sobre a concepção de partido, o partido age ou atua levando em consideração
os dois aspectos apontados por ele. O partido somente consegue ser um instrumento de
classe para a solução de algum problema justamente porque ele atua como organizador
que unifica na superestrutura, ou seja, no campo da ideologia, das estratégias de
construção da hegemonia de uma determinada classe, aquilo que se apresenta como
problema na base, na infraestrutura.
Essa conclusão casa com o apontamento feito pelo autor sobre a história de um
partido ser a história de uma determinada classe ou grupo social (GRAMSCI, 2002a),
pois se compreende que a solução para os problemas que afligem determinada classe ou
grupo social estarão sempre interligadas também com a ideologia que organiza e estrutura
aquela mesma classe.
Ao colocar como papel do Partido a organização da ideologia de uma determinada
classe, Gramsci aproxima sua concepção de Partido com a de intelectual orgânico, sendo
o partido, então, aquilo que será considerado pelo autor como um Intelectual Coletivo.
Vejamos nas palavras de Gramsci:
1) para alguns grupos sociais, o partido político é nada mais do que o modo
próprio de elaborar sua categoria de intelectuais orgânicos, que se formam
assim, e não pode deixar de formar-se, dadas as características gerais e as
condições de formação, de vida e de desenvolvimento do grupo social dado,
diretamente no campo político, filosófico, e não no campo da técnica produtiva
[...] 2) o partido político, para todos os grupos, é precisamente o mecanismo
que realiza na sociedade civil a mesma função desempenhada pelo Estado, de
modo mais vasto e mais sintético, na sociedade política, ou seja, proporciona
a soldagem entre intelectuais orgânicos de um dado grupo, o dominante, e
intelectuais tradicionais; e esta função é desempenhada pelo partido
precisamente na dependência de sua função fundamental, que é a de elaborar
os próprios componentes, elementos de um grupo social nascido e
desenvolvido como “econômico”, até transformá-los em intelectuais políticos,
qualificados, dirigentes, organizadores de todas as funções inerentes ao
desenvolvimento orgânico de uma sociedade integral, civil e política (2001,
p.24)
Levando-se em consideração que “todo partido seja a expressão de um grupo
social” (GRAMSCI, 2002a, p.59), entende-se, então, a partir do trecho acima citado, que
o partido político constitui-se na forma que esse mesmo grupo ou classe social tem para
produzir não apenas seus intelectuais orgânicos, mas como o próprio partido tornar-se um
intelectual coletivo, visto, além de seu papel de organização das funções da sociedade,
mas também de dirigente da classe ou grupo social que o mesmo representa.
Os intelectuais que integram o partido político exercem a função de organizadores
da hegemonia, são educadores, pois, como bem argumenta Antonio Gramsci (2001, p.
25) “[...] um partido poderá ter uma maior ou menor composição do grau mais alto ou do
mais baixo, mas não é isto que importa: importa a função, que é diretiva e organizativa,
isto é, educativa, isto é, intelectual”.
Para Gramsci, não é suficiente que novo intelectual seja eloquente, momentâneo
dos afetos e das paixões, que o novo intelectual seja movido por paixões temporárias, mas