ERA O ALIENISTA UM ALIENADO?: A DISSOLUÇÃO DO LIMITE ENTRE A LOUCURA E A SANIDADE NA OBRA O ALIENISTA DE MACHADO DE ASSIS A PARTIR DA PERSPECTIVA NIETZSCHIANA SOBRE A MORAL

Autores

  • Marco Antonio Sabatini Ribeiro Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

DOI:

https://doi.org/10.36311/1984-8900.2014.v6n11.4556

Palavras-chave:

Moral, Loucura, Sanidade

Resumo

Analisarei o método científico da personagem Simão Bacamarte do livro O Alienista de Machado de Assis a partir do pensamento de Nietzsche sobre a moral. Percebo que os estudos comportamentais do protagonista da obra machadiana são semelhantes durante o desenrolar de toda sua história: o que se modifica gradualmente é a intensidade classificatória entre o “certo” e o “errado” através da relativização e do detalhamento dos costumes do louco e do são. Os estudos psicológicos de Bacamarte se baseiam em suas próprias concepções morais permitindo a aproximação filosófica com os textos nietzschianos que estudam a moral cuja “fundamentação” científica a transforma em um discurso normativo. No entanto, a intensificação desse discurso revela que o “certo” e o “errado” procuram abarcar as (des)semelhanças idiossincráticas enquanto método de avaliação comportamental – sem levar em conta que o seu julgamento é apenas uma interpretação, entre muitas, da existência. Dessa forma, a hipótese é a de que, quando levada ao extremo, a delimitação entre a loucura e a sanidade dissolve o seu próprio limite, pois a peculiaridade presente em cada pessoa representa um conjunto único de vivências e costumes que impossibilitam a comparação entre o certo e o errado, o são e o louco.

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Publicado

2014-06-29

Edição

Seção

Artigos