O estupro como estratégia de guerra em conflitos armados: a experiência do Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia nos casos de violência de gênero

The rape as a war strategy in armed conflicts: an experience of the International Criminal Court for old Yugoslavia in the cases of gender violence

Autores

  • Bárbara de Abreu Oliveira Universidade Federal de Pernambuco
  • Jayme Benvenuto Lima Júnior Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.36311/2237-7743.2019.v8n1.06.p97

Palavras-chave:

Direitos Humanos, Violência Sexual, Conflitos Internacionais, Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia

Resumo

A violência contra a mulher é uma prática antiga e, com o passar do tempo, os crimes de natureza sexual foram se naturalizando ainda mais em conflitos domésticos e internacionais, em que a situação de vulnerabilidade é sentida de forma ainda mais contundente por mulheres que sofrem agressão sexual. O século XX foi marcado por conflitos como o da antiga Iugoslávia, conhecido como um dos marcos da discussão jurídica sobre a violência contra a mulher como crime internacional.  Por meio de uma pesquisa bibliográfica, este artigo propõe estudar como o Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia incorporou os crimes de violência sexual na sua normativa e jurisprudência, considerando a prática desses atos de natureza sexual uma estratégia de guerra, em que o principal objetivo é desmoralizar e destruir uma população em função de elementos étnicos e nacionais.  Com a incorporação de gênero na jurisprudência do tribunal, o Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia tipifica os crimes de violência sexual como crime contra humanidade e entende que esse tipo de violação também deveria ser julgado sob o art. 3.º, em condição de Violações das Leis ou Costumes de guerra. A prática desses crimes é muito mais que a simples prática de opressão a um grupo vulnerável por parte do Estado, mas uma imposição do símbolo de poder de gênero.

 

 

Abstract: Violence against women is an old practice and, over time, crimes of a sexual nature have been further naturalized in domestic and international conflicts, where the situation of vulnerability is felt even more bluntly by women who suffer sexual assault. The twentieth century was marked by conflicts such as that of the former Yugoslavia, known as one of the milestones of the legal discussion on violence against women as an international crime. Through a bibliographical research, the present article proposes to study how the International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia incorporated the crimes of sexual violence in its normative and jurisprudence, considering the practice of these acts of a sexual nature a war strategy, in which the The main objective is to demoralize and destroy a population based on ethnic and national elements. With the incorporation of gender in the jurisprudence of the court, the International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia typifies crimes of sexual violence as a crime against humanity and understands that this type of violation should also be judged under art. 3, in the condition of Violations of Laws or Customs of war. The practice of these crimes is much more than the simple practice of oppression of a vulnerable group by the state, but an imposition of the symbol of gender power.

Keywords: Humans rights; Sexual Violence; International Conflicts; International Criminal Tribunal for the Former Yugoslavia.

 

 

Recebido em: outubro/2018.
Aprovado em: abril/2019.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Bárbara de Abreu Oliveira, Universidade Federal de Pernambuco

Bárbara de Abreu Oliveira, graduada em Relações Internacioanais e mestranda do Programa de Pós- Graduação em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Pernambuco. 

Jayme Benvenuto Lima Júnior, Universidade Federal de Pernambuco

Professor Doutor dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu em Direito e em Direitos Humanos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ministra a disciplina Direito Internacional Público na UFPE. É Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e Doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou estágio Pós-Doutoral em Direito Internacional dos Direitos Humanos na Universidade de Norte Dame. É bolsista do CNPq em pesquisa.

Referências

AZEVEDO, F. A Violência Sexual Contra a Mulher e o Direito Internacional. Centro de Estudos em Direito e Negócios. 2014. Disponível em: <http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/A-Viol%C3%AAncia-Sexual-Contra-a-Mulher-e-o-Direito-Internacional.pdf>. Acesso em: 10 Jul. 2018.

BENVENUTO, Jayme. O Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia. In: Manoel Severo Neto. (Org.). Direito, Cidadania & Processo. 2006, p. 221-248.

BROWN, Carly. Rape as a weapon of war in the Democratic Republic of the Congo. Torture, v. 22, n.1, 2012. Disponível em: <https://irct.org/assets/uploads/Rape-as-weapon-war-1-2012.pdf>. Acesso em: 11 Jul. 2018.

BROWNMILLER, S. Against our will: men, women and rape. New York: NY, 1975.

CHAUÍ, Marilena. Participando do Debate sobre Mulher e Violência. In: FRANCHETTO, Bruna; CAVALCANTI, Maria Laura V. C; HEILBORN, Maria Luiza (orgs.). Perspectivas Antropológicas da Mulher 4. São Paulo, Zahar Editores, 1985.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Tribunais ad hoc. 2010. Disponível em: <https://www.icrc.org/por/war-and-law/international-criminal-jurisdiction/ad-hoc-tribunals/overview-ad-hoc-tribunals.htm>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Perguntas e respostas: violência sexual em conflitos armadas. 2016. Disponível em: <https://www.icrc.org/pt/content/violencia-sexual-durante-conflitos-armados-uma-tragedia-invisivel>. Acesso em: 27 Mar. 2019.

COPELON, Rhonda. Women and War Crimes. St. John’s Law Review, v. 69, p. 61-68, 1995.

DEVENS, Gisele. O Tribunal de Nuremberg: marco nas relações jurídicas e políticas internacionais do século XX. Monografia (graduação em Relações Internacionais). Universidade do Vale do Itajaí, São José, 2004. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/nuremberg/mono_devens_tribunal_nuremberg_marco.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2018.

FALCÃO, Ana Taisa da Silva. Violências sexuais em conflitos armados: um silenciamento histórico. In: X JORNADA DE ESTUDOS HISTÓRICOS PROFESSOR MANOEL SALGADO, PPGHIS/UFRJ vol 1., 2015, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.jornadaeh.historia.ufrj.br/wp-content/uploads/2016/02/Ana-Taisa-da-Silva-Falc%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 16 Jul. 2018.

FERNANDES, David Augusto. Tribunal Penal Internacional: a concretização de um sonho. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

FIDALGO, Sónia Mariza Florêncio. Os crimes sexuais no Direito Internacional Penal. In: XV CONGRESSO DE DEFESA SOCIAL. 2007, Toledo, Espanha. Disponível em: <http://www.defensesociale.org/xvcongreso/pdf/cfp/07%29_Crimes_sexuais_no_Direito_Internacional_Penal_Fidalgo.pdf>. Acesso em: 04 Jul. 2018.

FURTADO, Rogério Dourado. O Tribunal Penal Internacional: o caso Slobodan Milosevic. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 115, ago 2013. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13509>. Acesso em 05: Jul. 2018.

GRIFFITHS, M.; O'CALLAGHAN, T. (2002). International Relations: The Key Concepts. London: Routledge.

INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. Kunarac, Kovac & Vukovic Case.Disponível em: <http://www.icty.org/x/cases/kunarac/cis/en/cis_kunarac_al_en.pdf>. Acesso em: 05 Jul. 2018.

INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. Radovan Karadzic Case. Disponível em: http://www.icty.org/x/cases/karadzic/cis/en/cis_karadzic_en.pdf >. Acesso em: 12 jul. 2018.

INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. Ratko Maladic Case. Disponível em: <http://www.icty.org/x/cases/mladic/cis/en/cis_mladic_en.pdf>. Acesso em: 12 Jul. 2018.

INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. Página inicial. Disponível em: <http://www.icty.org/en/about>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

JELIN, Elizabeth. Mulheres e Direitos Humanos. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 2, n. 3, p. 117, jan. 1994. ISSN 1806-9584. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16293>. Acesso em: 25 mar. 2019.
MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: Aspectos institucionais, jurisdição e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

MARTINS, Núbia Sanches. (In) segurança das mulheres no conflito da ex-Iugoslávia: uma análise pela perspectiva da psicologia política e da segurança humana feminista. II Encontro Humanístico Multidisciplinar – CLAEC, Jaguarão – RS, 2016. Disponível em: <https://www.claec.org/eventos/index.php/ehm/2ehm/paper/download/365/149> Acesso em: 03 Jul. 2018.

NAKAMURA, Julian Roberto. O Tribunal Penal Internacional: Contextualização Histórica, Características e Incorporação ao Direito Brasileiro. Monografia (graduação em Direito). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. Disponível em <http://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/31198/Julian%20Roberto%20Nakamura.pdf?sequence=1> Acesso em: 07 Jul. 2018.

PENACHIONI, Júlia Battistuzzi. Violência sexual em conflitos armadas e ataques generalizados ou sistemáticos: a criminalização pelo Tribunal Penal Internacional. 2017. Disponível em: < https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/19843/2/J%C3%BAlia%20Battistuzzi%20Penachioni.pdf>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

PEREIRA, Haula Hamad T. F. Pascoal; CAVALCANTI, Sabrinna Correia Medeiros. A prática do estupro de mulheres como estratégia de guerra sob o viés do direito internacional. Revista on-line do CESED- Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento. v.16, n. 24/25, Janeiro a Dezembro de 2015. Disponível em: <http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/232>. Acesso em: 25 Mar. 2019.

PERES, Andréa. Campos de Estupro: as mulheres e a guerra na Bósnia. 2011. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/cpa/n37/a05n37.pdf>. Acesso em: 03 Jul. 2018.

RODRIGUES, Hosana S. J; ARAÚJO, Carla Dayane M. H. Violência contra a mulher: uma discussão de gênero.2016. II CINTEDI, nov. 2016. Disponível em:<https://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD1_SA9_ID2632_07092016145800.pdf>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

SAFFIOTI, Heleith I. B. Contribuições Feministas para o estudo da violência de gênero. 2011.Cadernos Pagu, v. 16, 2001. p. 115-136. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n16/n16a07.pdf>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

SCOTT, Joan W. Gender: A useful category of historical analysis. The American historical review, v. 91, n. 5, p. 1053-1075, 1986.

SCOTT, Joan Wallach. Gender: A Useful Category of Historical Analysis. In: ______. Gender and the Politics of History. Nova Iorque, Columbia University Press, 1988.

SHEPHERD, Laura J. Victims, perpetrators and actors’ revisited: exploring the potential for a feminist reconceptualisation of (international) security and (gender) violence. The British Journal of Politics & International Relations, v. 9, n. 2, p. 239-256, 2007. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/ficheiros2/files/SHEPHERD_Laura_Victims.pdf>. Acesso em: 02 Jul. 2018.

SILVA, Gustavo. Da rosa ao pó: histórias da Bósnia pós-genocídio. 1 ed. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011.

TICKNER, J. Ann. Gender in International Relations: Feminist Perspectives on Achieving Global Security. Columbia University Press, 1992.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O papel dos tribunais internacionais na evolução do direito internacional contemporâneo. In: ______. Os Tribunais Internacionais Contemporâneos. Brasília: FUNAG, 2013, p. 9-132. Disponível em: <http://www.oas.org/es/sla/ddi/docs/publicaciones_digital_XLI_curso_derecho_internacional_2014_Antonio_Augusto_Cancado_Trindade.pdf>. Acesso em: 05 Jul. 2018.

TRINDADE. Antônio Augusto Cançado. A Visão Humanista da Missão dos Tribunais Internacionais Contemporâneos. Ed. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016.

VENERACION - RALLONZA, Lourdes. Women and the ‘post- sovereign’ state: a feminist analytic of the state in the age of globalization. Gender, Technology and Development 8 (3), 2004. Sage Publications. New Delhi/Thousand Oaks/ London. Disponível em: <https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/097185240400800304>. Acesso em: 27 Mar. 2019.

Downloads

Publicado

2019-05-01

Como Citar

OLIVEIRA, B. de A.; LIMA JÚNIOR, J. B. O estupro como estratégia de guerra em conflitos armados: a experiência do Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia nos casos de violência de gênero: The rape as a war strategy in armed conflicts: an experience of the International Criminal Court for old Yugoslavia in the cases of gender violence. Brazilian Journal of International Relations, Marília, SP, v. 8, n. 1, p. 97–116, 2019. DOI: 10.36311/2237-7743.2019.v8n1.06.p97. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjir/article/view/8301. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos