Política Externa como Política Pública: o combate ao narcotráfico no governo de Lula da Silva

Foreign Policy as Public Policy: the fight against drug trafficking in Lula da Silva government

Autores

  • Marília Bernardes Closs Universidade do Estado do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.36311/2237-7743.2020.v9n1.08.p125

Palavras-chave:

política externa, política pública, tráfico de drogas, Lula da Silva

Resumo

Este artigo tem como objeto de estudo a política externa (PEX) brasileira de combate ao tráfico de drogas executada pelo governo de Lula da Silva. Parte-se da concepção teórico-metodológica de que a PEX é uma política pública – e que portanto a avaliação dessa passa pela sua desagregação. Frente a isso, foram selecionadas algumas agências específicas para a avaliação, como o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça.  Além disso, considera-se que a agenda específica do narcotráfico está inserida no limite entre as temáticas de segurança e defesa, o que traz questões específicas para a construção das policies. Os resultados desta pesquisa mostram que, no que tange ao combate ao tráfico de drogas, as administrações de Lula mantiveram os arranjos institucionais anteriores com a continuidade do paradigma de segurança pública sem a execução do paradigma de segurança cidadã. Em termos de política de defesa, idem. A maior parte das mudanças significativas se deu no âmbito do MRE, com a construção de uma agenda de dessecuritização do combate ao tráfico de drogas – ainda que isto tenha se mantido mais a nível retórico que prático. Concluiu-se, com isso, que não houve a construção de uma estratégia de política externa que integrasse e/ou alinhasse efetivamente as políticas de defesa, a segurança pública e o MRE; além disso, percebeu-se a ausência de diálogo, cooperação ou coordenação efetivo entre as agências. Como consequência, percebeu-se a pouca operacionalidade e a baixa densidade da execução em termos de política externa e política pública.

 

 

Abstract: This article has as object of study the Brazilian foreign policy (FP) of fight against the drug traffic executed by the government of Lula da Silva. A theoretical-methodological conception that the FP is a public policy is taken - and that therefore the evaluation of this goes through its disaggregation. As a result, some specific evaluation agencies were selected, such as the Ministry of Foreign Affairs, the Ministry of Defense and the Ministry of Justice. In addition, it is considered that the specific agenda of drug trafficking is inserted in the limit between the themes of security and defense, which brings specific issues for the construction of the policies. The results of this research show that, regarding the fight against drug trafficking, Lula administrations maintained the previous institutional arrangements with the continuity of the public security paradigm without the implementation of the paradigm of citizen security. In terms of defense policy, idem. Most of the significant changes occurred within the scope of the MFA, with the construction of a dessecurizing agenda to combat drug trafficking - although this has remained more rhetorical than practical. We conclude, therefore, that there was no foreign policy strategy that integrated and / or effectively aligned defense policies, public security and MFA; In addition, there was a lack of effective dialogue, cooperation or coordination between agencies. As a consequence, the low operability and the low density of execution in terms of foreign policy and public policy were perceived.

Key Words: Foreign Policy; public policy; drug trafficking; Lula da Silva.

 

 

Recebido em: março/2019

Aprovado em: janeiro/2020

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

ALDEN, Chirs; ARAN, Amnon. Foreign Policy Analysis – New Approaches. Routledge, London & New York.
ALLISON, Graham; HALPERIN, Morton. Bureaucratic Politics: A Paradigm and Some Policy Implications. In: TANTER, Raymond; ULLMAN, Richard. Theory and Policy in International Relations. Princeton: Princeton University Press, 1972.
ALSINA JR, João Paulo. Política externa e política de defesa no Brasil: síntese imperfeita. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2009.
AMORIM, Celso. A Grande Estratégia do Brasil: discursos, artigos e entrevistas da gestão no Ministério da Defesa (2011-2014). Brasília: FUNAG; São Paulo: Editora UNESP, 2016.
BOITEUX, Luciana; Wiecko, Ela ; VARGAS, Beatriz ; BATISTA, Vanessa Oliveira ; PRADO, G. M.. Tráfico de Drogas e Constituição. 1. ed. Brasília-DF: Ministério da Justiça, 2009. v. 1.
CEPIK, Marco; BORBA, Pedro. Brasil e Colômbia: desafios para a cooperação após Uribe. Cadernos Adenauer: Rio de Janeiro, vol. 11, n.4, 2010.
FARIA, Carlos Aurélio Pimenta. “O Itamaraty e a Política Externa Brasileira: Do
Insulamento à Busca de Coordenação dos Atores Governamentais e de Cooperação com os Agentes Societários. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, vol. 34, 2012.
FREIRE, Moema Dutra. Paradigmas de Segurança no Brasil: da Ditadura aos nossos dias. Aurora: São Paulo, vol. 3, n.5, 2009.
HILL, Christopher. The Changing Politics of Foreign Policy. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2003a.
______. “What Is to Be Done? Foreign Policy as a Site for Political Action”. International Affairs, vol. 79, no 2, 2003b, pp. 233-255.
INGRAM, H. M. e FIEDERLEIN, S. L. Traversing Boundaries: A Public Policy Approach to the Analysis of Foreign Policy. The Western Political Quarterly, New York, v. 41, n. 4, 1988.
LIMA, Maria Regina Soares de; MILANI, Carlos R. S.; DUARTE, Rubens; ALBUQUERQUE, Marianna; ACÁCIO, Igor; CARVALHO, Tássia; MEDEIROS, Josué; NOVACEK, Niury; COSTA, Murilo Gomes da; COSTA, Hugo Brás; LEMOS, Juliana. Atlas da Política Brasileira de Defesa. Rio de Janeiro: CLACSO/Latitude Sul, 2017.
LIMA, Maria Regina Soares de. Diplomacia, defesa e definição política dos objetivos nacionais: o caso brasileiro. In: JOBIM, Nelson; ETCHEGOYEN, Sérgio; ALSINA JR., João P. S. Segurança internacional: perspectivas brasileiras. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, p. 401-418.
MAPA DA VIOLÊNCIA. Homicídios e juventude no Brasil. Brasília, Secretaria-Geral da Presidência da República, 2013.
MARTINEZ, Elias David Morales; LYRA, Mariana. O Processo de Dessecuritização do Narcotráfico na Unasul. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, vol.37, n.2, 2015.
MILANI, Carlos; PINHEIRO, Leticia. Política Externa Brasileira: Os Desafios de sua Caracterização como Política Pública. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, vol. 35, no 1, 2013.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Diretoria da Força Nacional de Segurança Pública. 2018. Disponível em< http://www.justica.gov.br/sua-seguranca/forca-nacional>. Acesso em: 18fev.2018.
MOTA, Jackeline Luciano. Combate ao narcotráfico no contexto dos objetivos de Política Externa do primeiro governo Lula. Anais do 36º Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, 2012.
MURILLO, Gabriel; JAVIER, Luis; BARRERA, Cristina; ROJAS, Leonardo. Narcotráfico y Política em la Decada de los Ochenta: entre la represión y el diálogo. In: ARRIETA, Carlos; JAVIER, Luis; SARMIENTO, Eduardo; TOKATLIAN, Juan. Narcotráfico em Colombia. Bogotá: Tercer Mundo, 1991.
ONU Brasil. Cidades latino-americanas lideram taxas de homicídios. Brasília, 2017.
PETERS, Guy. American Public Policy. Chatham: Chatham House, 1986.
RODRIGUES, Thiago. Narcotráfico e militarização nas Américas: vício de guerra. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, vol.34, n.1, 2012.
SAINT-PIERRE, Héctor Luis. “Defesa” ou “Segurança”? Reflexões em Torno dos Conceitos e Ideologias. Contexto Internacional: Rio de Janeiro, vol. 33, n.2, 2011.
SILVA, Luiza Lopes. A Questão das Drogas nas Relações Internacionais: uma perspectiva brasileira. Brasília: Ministério das Relações Exteriores / Fundação Alexandre Gusmão, 2013.
SOUZA, Celina. Coordenação de Políticas Públicas. Coleção: Governo e Políticas Públicas. Brasília: Enap´, 2018.
______. Condições institucionais de cooperação na região metropolitana de Salvador. In: CARVALHO, I. M. M.; PEREIRA, G. C. (Org.). Como anda Salvador e sua região metropolitana. Salvador: Edufba, 2006. p. 171-185.
UNASUL. Estatuto del Consejo Sur-Americano sobre el Problema Mundial de las Drogas. 2010. Disponível em: http://www.unasursg.org/images/descargas/ESTATUTOS%20CONSEJOS%20MINISTERIALES%20SECTORIALES/ESTATUTO%20CONSEJO%20DE%20DROGAS.pdf. Acesso em: 15fev.2018.
VELASCO, Clara; D’AGOSTINO, Rosanne; REIS, Thiago. Um em cada três presos do país responde por tráfico de drogas. Publicado em: G1, 02/02/2017. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/um-em-cada-tres-presos-do-pais-responde-por-trafico-de-drogas.ghtml. Acesso em: novembro/2019.
VILLA, Rafael Duarte. A Segurança Global Multidimensional. Lua Nova: São Paulo, v.99, n.46, 1999.
VILLA, Rafael Duarte; OSTOS, Maria del Pillar. As relações Colômbia, países vizinhos e Estados Unidos: visões em torno da agenda de segurança. Revista Brasileira de Política Internacional: Brasília, v.48, n.2, 2005.
VILLELA, Priscila. As Dimensões Internacionais das Políticas Brasileiras de Combate ao Tráfico de Drogas na Década de 1990. 2015. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Relações Internacionais) – Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, UNESP/UNICAMP/PUC-SP, São Paulo.
______. O Tráfico de Drogas e a Segurança no Brasil. Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Relações Internacionais do San Tiago Dantas (SIMPO-RI), São Paulo, 2013.

Downloads

Publicado

2020-05-02

Como Citar

CLOSS, M. B. Política Externa como Política Pública: o combate ao narcotráfico no governo de Lula da Silva: Foreign Policy as Public Policy: the fight against drug trafficking in Lula da Silva government. Brazilian Journal of International Relations, Marília, SP, v. 9, n. 1, p. 125–146, 2020. DOI: 10.36311/2237-7743.2020.v9n1.08.p125. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjir/article/view/10152. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos