Seria Marx orientalista?

Would Marx be an orientalist?

Autores

  • Gabriel Siracusa USP

DOI:

https://doi.org/10.36311/2237-7743.2019.v8n2.06.p330

Palavras-chave:

Marx, orientalismo, colonialismo, Said

Resumo

O objetivo do trabalho é analisar como o Oriente figura nos escritos de Marx. Partimos das contribuições de Edward Said que identifica Marx como um autor orientalista, para averiguar em que medida o palestino acerta em seu diagnóstico. Said parte dos escritos de Marx de 1853 a respeito do colonialismo britânico na Índia e chega à conclusão que o alemão, assim como toda a intelligentsia europeia do século XIX, enxerga o Oriente como um local estático, bárbaro e violento, em oposição à Europa, onde se localizaria a civilização. Neste sentido, embora matizado pelas condenações de cunho moral das atrocidades cometidas pelos colonizadores britânicos, Marx observa as perspectivas futuras da colonização por um viés em última instância positivo. Influenciado por uma filosofia da história hegeliana, Marx entende que, se a revolução comunista é o estágio final da história, tanto melhor que os países periféricos sejam tragados para o progresso e para a história universal pelas metrópoles. Haveria, de fato, um sentido na história e o colonialismo colocaria nela povos até então “fixos”, estanques. Said, porém, se limita aos artigos sobre a Índia de 1853. Gostaríamos, neste trabalho, de explorar textos de Marx sobre a China do mesmo período, além dos escritos da segunda metade da década de 1850 sobre os dois países e comparar a análise marxiana a respeito da situação indiana e chinesa nestes dois momentos distintos. A partir daí, procuraremos responder se a hipótese saidiana de inclusão de Marx como autor orientalista se sustenta ou não.

 

 

Abstract: The purpose of the paper is to analyze how the East figures in Marx's writings. We start with the contributions of Edward Said who identifies Marx as an Orientalist author, to ascertain to what extent the Palestinian is correct in his diagnosis. Said departs from Marx's writings of 1853 on British colonialism in India, and he comes to the conclusion that the German, like the whole European intelligentsia of the nineteenth century, sees the Orient as a static, barbaric and violent place, as opposed to Europe, where the civilization would be located. In this sense, although tempered by the moral condemnations of the atrocities committed by the British settlers, Marx observes the future prospects of colonization by an ultimately positive bias. Influenced by a Hegelian philosophy of history, Marx understands that if communist revolution is the final stage of history, so much better that peripheral countries are swallowed up by progress and put into the universal history by metropolises. Indeed, there would be a meaning in history, and colonialism would place in it peoples that were previously "fixed", watertight. Said, however, is limited to the articles on India of 1853. We would like to explore Marx's texts about China from the same period, in addition to the writings of the second half of the 1850s on the two countries, and compare Marxian analysis about the Indian and Chinese situation in these two different moments. From there, we will try to answer if the saidian hypothesis of inclusion of Marx as orientalist author supports or not.

Key words: Marx; Orientalism; Colonialism.

 

 

Recebido em: dezembro/2018.

Aprovado em: maio/2019.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Gabriel Siracusa, USP

Doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.

Referências

ACHCAR, G. Marxism, Orientalism, Cosmopolitanism. London: Saqi Books, 2013
AHMAD, A. Theory: Classes, Nations, Literatures. London/New York: Verso, 1992
AL-AZM, S. J. “Orientalism and Orientalism in Reverse”. In: Khamsin, nº 8, p. 5-26, 1981. Disponível em: http://www.europe-solidaire.org/spip.php?article20360#outil_sommaire_4 (Visitado em outubro de 2016)
ANDERSON, K. B. Marx at the Margins: On Nationalism, Ethnicity, and Non-Western Societies. Chicago, The University of Chicago Press, 2010.
_______. Marx’s Late Writings on Non-Western and Pre-capitalist Societies and Gender. In: Rethinking Marxism, v. 14, nº 4, p. 84-96, Winter, 2002
ARICÓ, J. Marx y América Latina. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2009 [1980].
AVINERI, S. (org.) Karl Marx on Colonialism and Modernization: his despatches and other writings on China, India, Mexico, the Middle East and North Africa. New York: Anchor Books, 1969
BARBOSA, M. S. “Eurocentrismo, História e História da África”. In: Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana. Nº1, jun/2008
BIANCHI, A. “O marxismo fora do lugar”. In: Revista Política & Sociedade. V. 9, nº 16, 2010
BORTOLUCI, J. H. “Para além das Múltiplas Modernidades: Eurocentrismo, Modernidade e as Sociedades Periféricas”. In: Plural, v. 16, n. 1, São Paulo, pp. 53-80, 2009
_______. “Modernidade Periférica e Descolonização Epistêmica: a contribuição do marxismo paulista”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 83, pp. 167-241, outubro/2013
BRAUNTHAL, J. History of the International, 1864-1914, v. 1. New York: Praeger, 1967
CHANDRA, B. “Karl Marx, His Theories of Asian Societies and Colonial Rule”, in UNESCO (ed.). Sociological Theories: Race and Colonialism, p. 383–451, Paris: Unesco, 1980.
COSTA, D. V. A.; CLEMENTE, M. S. Marx e as Revoluções dos Povos Colonizados: breves notas teóricas e metodológicas. In: VII Colóquio Internacional Marx e Engels, 2012, Campinas, SP. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/6933_Costa_Diogo.pdf (Visitado em agosto 2016)
COSTA LIMA, M. F. et al. “Edward Said e o Pós-Colonialismo”. In: Seculum – Revista de História, v. 29, pp. 451-462, jul/dez 2013
COSTA NETO, P. L. A Ideia de História e de Oriente no Último Marx. In: DEL ROIO, M. (org.), Marxismo e Oriente: quando as periferias tornam-se os centros. São Paulo/Marília: Ícone/Unesp, 2008
DEL ROIO, M. “Marx e a Questão do Oriente”. In: _______. (org.) Marxismo e Oriente: quando as periferias tornam-se os centros. São Paulo/Marília: Ícone/Unesp, 2008
DÍAZ, A. “Introduccion”. In: MARX, K.; ENGELS, F. Sobre el colonialismo. Córdoba: Cuadernos de Pasado y Presente, 1973
DUSSEL, E. El último Marx (1863-1882) y la liberación latino-americana. México: Siglo XXI, 1990.
FERREIRA, M. G. Mercados, diplomacia e conflitos: uma abordagem histórica das relações internacionais, a partir dos artigos publicados por Karl Marx e Friedrich Engels no New York Daily Tribune no período 1851/1862. 1999. 347 f. Tese (Doutorado em História Econômica) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1999
GALISSOT, R. Marx, Marxisme et Algérie. Textes de Marx-Engels. Paris: UGE, 1976
JANI, P. “Karl Marx, Eurocentrism, and the 1857 Revolt in British India”. In: Marxism, Modernity and Postcolonial Studies. BARTLOVICH, C.; LAZARUS N. (orgs.). Cambridge: Cambridge University Press, p. 81-97, 2002.
LÖWY, M. “La dialectique du progres et l’enjeu actuel des mouvements sociaux”. In: Congrès Marx International. Cent ans de marxisme. Bilan critique et perspectives, p. 197-209. Paris: Presses Universitaires de France, 1996.
MAMIGONIAN, A. “A China e o marxismo: Li Dazhao, Mao e Deng”. In: _______. (org.) Marxismo e Oriente: quando as periferias tornam-se os centros. São Paulo/Marília: Ícone/Unesp, 2008
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Coleção “Os Economistas”. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996ss. (Citado como Capital).
_______. Dispatches for the New York Tribune: selected journalism of Karl Marx. With an introduction by James Ledbetter and a foreword by Francis Wheen. London: Penguin, 2007
_______.; ENGELS, F. Collected Works. New York: International Publishers, 1976ss. (Citado como MECW).
_______.; _______. Sobre a China. São Paulo: Edições ISKRA, 2016
_______.;_______. Sobre el colonialismo. Córdoba: Cuadernos de Pasado y Presente, 1973
_______; _______. On China. London: Lawrence & Wishart, 1951 (citado como On China)
MOLNÁR, M. Marx, Engels et la politique internationale. Paris: Gallimard, 1975
NIMTZ, A. “The Eurocentric Marx and Engels and others related myths”. In: Marxism, Modernity and Postcolonial Studies. BARTOLOVICH, C.; LAZARUS, N. (Org.). Cambridge: Cambridge University Press, p. 65-80, 2002.
OLIVEIRA, A. S. de. “Edward Said e o orientalismo alemão”. In: Ciências & Letras, Porto Alegre, nº 52, p. 207-226, jul./dez. 2012
RIAZANOV, D. “Karl Marx on China”. In: Labour Monthly, nº 8, p. 86-92, 1926
SAID, E. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 [1993]
SAID, E. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (1978).
SAID, E. Orientalism. New York: Pantheon, 2003 [1978].
SCARON, P. “A modo de introduccion”. In: MARX, K.; ENGELS, F. Materiales para la Historia de América Latina. México: Cuadernos de Pasado y Presente, 1972
TIBLE, J. F. G. Marx e América Indígena: diálogo a partir dos conceitos de abolição e recusa do Estado. 2012. Tese (Doutorado em Sociologia) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2012
_______. “Marx e os Outros”. In: Lua Nova, nº 91, São Paulo, pp. 199-228, 2014
TUCKER, R. (Ed.). The Marx-Engels reader. New York: Norton, 1978
TURNER, B. Marx and the End of Orientalism. London: George Allen & Unwin, 1978.

Downloads

Publicado

2019-08-28

Como Citar

SIRACUSA, G. Seria Marx orientalista? Would Marx be an orientalist?. Brazilian Journal of International Relations, Marília, SP, v. 8, n. 2, p. 330–352, 2019. DOI: 10.36311/2237-7743.2019.v8n2.06.p330. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjir/article/view/9206. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos